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Diário Oficial do Estado de São Paulo

Queda na circulação de veículos reduz pela metade poluição em SP

Publicado em 31 maio 2018

A poluição do ar na capital caiu pela metade nos últimos dias. A constatação desse fenômeno raro resultou de um experimento involuntá­rio, decorrente da greve dos caminhoneiros iniciada no País em 21 de maio

Os resultados chamaram a aten­ção. No sétimo dia de greve, foram registradas em duas estações do Sistema de Informações de Qualidade do Ar da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) – Ibirapuera e Cerqueira César – 50% a menos de poluição. A comparação dos dados diários permitiu observar que os índices aumentaram quando houve a liberação do rodízio, seguidos de uma forte queda após a falta de combustível e a consequente redução de veículos nas ruas.

De acordo com o diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA-USP), Paulo Saldiva, na tarde de segunda-feira (28), a qualidade do ar na capital paulista era considerada boa em todas as estações de medição e para todos os poluentes analisados, o que é difícil de acontecer. Ele comentou a ocorrência durante apresenta­ção no evento Diálogos Interdisciplinares sobre Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista, realizado no auditório da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Saldiva destacou que, diante dos dados desse experimento natural raro e dos nú­meros de internações e mortes decorrentes da poluição do ar, é importante que governantes se voltem à busca de alternativas à atual matriz energética e ao sistema de transportes. “Nós vimos que a poluição caiu, dependendo da estação, para menos da metade. Saímos de um patamar muito ruim, com uma camada de alta pressão e níveis muito elevados de poluição, e chegamos a índices normais ou muito próximos daqueles indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Esse é um experimento natural raro, que a gente tem de tomar conta”, afirmou.

Segundo ele, com essas informações, a equipe de pesquisadores do IEA pretende fazer uma análise mais completa do fenô­meno e cruzar os níveis de poluição e de congestionamento com os dados diários de mortalidade e internações no período. A finalidade é medir o custo real da poluição.

“A poluição tem um custo alto em saúde. Existe a chamada perda de capacidade produtiva de uma população economicamente ativa, ou seja, quanto dinheiro o Brasil perde por uma fração produtiva da sua população morrer antes da hora”, disse referindo-se ao chamado índice DALY (da sigla em inglês para Disability Adjustment Life Years).

“Isso é uma moeda que pode ser precificada pelo PIB per capita regional e dá um custo astronômico. Todo mundo sabe o preço de mudar, mas ninguém sabe o preço de manter. Esse experimento vai permitir identificar esse imposto oculto, provavelmente muito maior que o subsídio. É uma perda da saúde que todos pagamos e contra a qual não temos defesa individual: a polui­ção atmosférica”, salientou.

O especialista enaltece a importância da elaboração de políticas públicas que levem em conta essa problemática. “Hoje não tem jeito, vamos ter de voltar a usar diesel, porque não montamos um plano B. Mas faz sentido pedir subsídio para uma coisa que dá câncer e mata a gente? Será que não é bom mudar a matriz? Será que esse não é um bom argumento para planejar o transporte de cargas e de passageiros na Região Metropolitana?”, perguntou.

Greve dos metroviários – Em outra ocasião rara, a equipe de estudiosos também pôde dimensionar a relação direta entre poluição atmosférica e meio de transporte. Ocorreu em maio de 2017, durante a greve dos metroviários. “Naquela época, no entanto, a poluição atmosférica dobrou. Quando o Metrô entrou em greve, todo mundo saiu de carro. Naquele dia, houve um excesso de 12 mortes. Então, o Metrô funciona como um redutor da poluição”, disse Saldiva.

Agora, a estimativa é que, com a redu­ção de carros e ônibus nas ruas, sejam evitadas pelo menos seis mortes por dia na capital paulista. Mas, de acordo com o pesquisador, a hipótese somente poderá ser confirmada mais adiante, com os cálculos prontos. Ele considera que o episódio pode ter, ainda, um papel educativo.

“Talvez esse estudo convença as pessoas de que a volta ao diesel seja transitória. Talvez isso crie um capital político para que as mudanças para reduzir a poluição – como melhoria do transporte coletivo e adoção de matriz energética mais limpa – sejam mais toleráveis pela população”, concluiu.

Simone de Marco

Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial

Assessoria de Comunicação da Agência Fapesp