É quase unânime a impressão que os brasileiros têm quando retomam ao País após concluir uma pós-graduação no exterior. Eles são categóricos ao afirmar que se trata de uma experiência necessária. Isso porque a realização de estudos lá fora traz não apenas ganhos acadêmicos, como aprendizado cultural, pessoal e, claro, profissional
“Estudar no exterior é uma das melhores coisas que dá para fazer por você e pelo País. Algumas coisas só fazem sentido quando você está lá fora”, diz’ o’ médico Daniel Branco, de 38 anos, ,que cursou MBA com ênfase -em Sistemas de Saúde e Finanças -em Wharton, na Pensilvânia, nos EUA.
O fato é que nem sempre é fácil fazer um curso de mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. A vontade esbarra nas dificuldades. Mas também é certo que, se antes as possibilidades eram limitadas, agora o cenário é outro.
Atualmente, não faltam ferramentas digitais que desburocratizam cada vez mais os processes de seleção – explicando, em detalhes, os trâmites necessários para os candidatos se darem bem nas temíveis aplicações, E não é Só.
As possibilidades de bolsas de estudos ofertadas por governos e instituições estrangeiras estão mais disseminadas – agora é muito mais fácil acessar as informações. Além disso, é notório o aumento na concessão de bolsas e auxílios nas agências públicas de fomento, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por exemplo. Só em relação aos auxílios. concedidos pela Capes, o número de bolsas ofertadas aumentou mais de 140% em apenas cinco anos. Saltou de 31 mil em 2007 para mais de 77 mil bolsas no ano passado.
Mais chances. E a possibilidade de qualquer estudante ganhar uma bolsa – incluindo aquele que não está matriculado nos programas de pós-graduação nacionais e, geralmente, está mais próximo das ofertas oficiais – também cresceu de forma substancial, especialmente a partir de 2011, com a criação do programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal.
“Sem dúvida, a formação de pesquisadores nas boas instituições lá fora produz indivíduos mais bem preparados para os novos conhecimentos demandados atualmente, como a nanotecnologia”, afirma Jorge Guimarães, presidente da Capes, em entrevista recente ao Estadão.edu. A bióloga Flavia Siqueira, de 34 anos, foi uma das pesquisadoras que não gastaram nenhum centavo do bolso para realizar parte de sua pesquisa na área de genética. na Universidade Harvard, nos EUA. “Nunca passei tanto frio na minha vida, mas a experiência foi totalmente válida. Lá é tudo mais organizado e os pesquisadores foram muito pacientes comigo”, diz Flávia.Como bolsista da Capes, ela fez um doutorado- sanduíche (parte no Brasil, parte no exterior).
“Fui estudar a epigenética, um novo ramo da genética. Analisei de que maneira fatores ambientais, como nutrição, poluição eestresse, impactam o recém-nascido durante a gravidez”, explica Flavia. O economista Claudio de Moura Castro, especialista em educação, menciona outras vantagens de se fazer uma pósgraduação lá fora. “Todo mundo que vai volta mudado, mais conectado com os colegas estrangeiros”, diz Castro.
E, quando o assunto é pós no exterior, um terço dos brasileiros tem na cabeça um mesmo destino: Estados Unidos.
Segundo dados recentes da Associação Brasileira de Organizadores de Viagens Educacionais e Culturais (Belta), 27% dos interessados em uma pós-graduação fora escolhem o país. E não à toa. No território americano, estão sete das dez melhores universidades do mundo, segundo o ranking da prestigiosa publicação inglesa Times Higher Education. Harvard, Stanford e Princeton são algumas das instituições de desejo dos brasileiros. Engana-se quem pensa que o planejamento deve ser iniciado apenas no fim da graduação. O estudante de Administração do Insper Augusto Sato, de 21anos, tem em mente a possibilidade de fazer uma pós no exterior. “Lá fora você se dá conta de que a globalização começa na sala de aula. Há alunos de várias nacionalidades estudando juntos.”
Ainda assim, alguns brasileiros que gostariam de estudar nos EUA acabam desistindo quando se dão conta de que os processos de aceitação pelas universidades são mais complexos que a seleção no Brasil. “Há 20 anos, parecia impossível mandar brasileiros para estudar fora. Mas os alunos precisam fazer acontecer”, afirma Fábio Tran, diretor executivo da Fundação Estudar. De olho no interesse dos brasileiros, a instituição lançou o portal Estudar Fora (estudar fora. org.br), para auxiliar quem quer participar de programas de graduação, pós-graduação ou intercâmbio em universidades de ponta. “A internet tem o poder de potencializar um sonho e transformá-lo em realidade”, diz o baiano Diogo Publio, de 23 anos.. Atualmente em São Paulo, ele acaba de chegar da Califórnia.
Custo. Mesmo com oferta de cursos mais acessíveis, o custo de uma pós-graduação no exterior ainda desanima muitos pretendentes. O valor pode variar de R$ 20 mil a R$ 100 mil, ou até mais. Para quem não pode ou não quer arcar com as despesas, uma bolsa de estudos é a opção mais desejada. Elas existem, não são poucas, mas o problema é que muitos brasileiros ainda desconhecem sua existência.
“Tenho vontade de fazer uma pós fora, mas sei que preciso me planejar. Ainda não conheço muitas bolsas específicas para brasileiros”, conta o professor de Arquitetura e fotógrafo Lucas Barros, de 34. Se a bolsa não vier, uma alternativa é buscar um empréstimo, que pode ser feito na própria faculdade, explica o médico Daniel Branco. “As pessoas não devem ter medo de fazer dívidas para estudar. Cheguei a dever R$ 350 mil, mas deu tudo certo”, diz Branco.
Problemas. Se o caminho até a pós não é dos mais fáceis, os estudantes que migram temporariamente para o exterior precisam também atentar para questões operacionais – e psicológicas – durante e após a viagem. “A burocracia, em especial para os casos de doutorado pleno, pode virar um drama. Os estudantes não são avisados previamente dos documentos necessários para validar os estudos quando retornam ao País”, diz Luana Bonone, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos. Na questão mais subjetiva, atenção com o lado psicológico é condição para a realização de uma viagem mais proveitosa. “Tem muita gente que não está preparada para assumir os riscos da ambivalência que virão. As perdas deixadas para trás são claras, mas os ganhos nem sempre. É preciso saber lidar com a solidão, por exemplo”, exemplifica Andrea. Por isso, a experiência deve ser planejada passo a passo, orienta Carolina Yumi, de 21, que cursa graduação na Universidade da Carolina do Sul. Aos 13anos, ela foi para a Escócia fazer um intercâmbio de alguns meses. Depois, aos 16, passou seis meses na Nova Zelândia. Agora, ficará quatro anos nos EUA.
Carolina também quer fazer uma pós no exterior, mas ainda não decidiu quando. Por enquanto, quer pensar cada vez mais “fora da caixinha”: “Lá fora, as pessoas acreditam mais em você, no que você pensa”.
Universidades gringas buscam alunos no Brasil
• o crescimento expressivo do número de brasileiros que vão para o exterior estudar – hoje são mais de 175 mil estudantes, mais que o dobro do registrado há cinco anos, segundo a organização Belta – resultou na proliferação de escritórios de representação de universidades britânicas, alemãs e americanas.
A Universidade de Edimburgo foi a última a abrir um escritório no Brasil. “Temos interesse no estudante e em parcerias com as instituições brasileiras na área de pesquisa”, diz Claudio Anjos, diretor de Educação e Exames do Conselho Britânico
Os escritórios funcionam ainda como facilitadores. “1 W’s” ajudamos os interessados que desejam estudar no exterior”, afirma Vinícius Barreto, diretor do Australian Centre, que representa um grupo de cinco universidades australianas. I O.L
Novidade: Universidade de Edimburgo abriu escritório em São Paulo há três meses
Depoimento
• Luísa ferreira, de 23 anos, faz mestrado em Comunicação na Espanha
“Eu já tinha morado fora do Brasil em três ocasiões.mas nenhuma experiência se comparou à de fazer um mestrado no exterior. Vim para a cidade de Valladolid, na Espanha, em setembro de 2012, após ganhar urna bolsa do Santander Universidades, O tempo passou muito rápido e em julho já vou defender minha dissertação de procurar muito pela internet até encontrar um curso que me interessasse e uma bolsa que cobrisse praticamente todos os meus gastos, Foi assim que descobri que há muitas oportunidades por aí . para quem se prepara e corre atrás. Por isso, criei um blog de viagens (www.janelasabertas. com). explicando o caminho que percorri e as bolsas que mapeei. Depois das cartas de motivação e recomendação, do currículo, das traduções de documentos e de receber o esperado sim, percebi que o caminho só estava começando. A rotina lá fora é um exercício de superação diária. Minha conclusão hoje é que experiências internacionais são maravilhosas, especialmente se você tirar delas tudo o que puder.”
Bolsas lá fora
Confira algumas oportunidades. Além dessas, muitas universidades estrangeiras têm programas de auxilio
ENTIDADES OFICIAIS
Capes
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) oferece bolsas para vários países, especialmente nos níveis de doutorado e pós-doutorado e também para estágios. Geralmente, os candidatos estão vinculados a uma instituição de ensino no País, cursando programas de pós graduação. Informações: http://www.cnpq.br/web/guest/apresentaca013.
CNPq
Vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) financia bolsas para doutorado- sanduíche e doutorado pleno no exterior. O valor mensal da bolsa é de USS 1,3 mil (cerca de RS 2,8 mil). Informações: www.cnpq.br/web/guest/apresentaca013.
Ciência Sem Fronteiras
Até 2015, o programa Ciência sem Fronteiras, bancado pelo governo federal, pretende conceder mais de 45 mil bolsas de pós-graduação para os estudantes brasileiros. Áreas como engenharia, tecnologia e saúde são prioritárias. Informações: www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/pos-graduacaodoutorado.
Entre outros
Fonte: O Estado de S. Paulo - Impresso / SP