Uma equipe do pesquisadores da UNESP, que atua na área de biologia estrutural, está em clima de contagem regressiva. É que falta menos de um mês para o lançamento do próximo vôo do ônibus espacial Discovery da Nasa, que, entre outras missões, ira realizar experimentos de cristalização com cinco proteínas que estão sendo estudadas em dois câmpus da universidade. A expectativa dos pesquisadores é grande. Afinal, os cristais dessas proteínas podem ser a chave para a descoberta de novos medicamentos contra algumas doenças ou para o desenvolvimento de tecnologias de ponta que possam ser aplicadas na indústria.
As proteínas devem permanecer no espaço por uma semana. Neste período, um robô irá acionar o processo de cristalização, pelo qual elas ganharão uma estrutura sólida, o que permitirá "congelar" seus átomos de forma ordenada e cadenciada. A importância deste experimento é que, no espaço, sem a ação da força da gravidade, o processo de cristalização torna-se lento e pode ser controlado, o que resulta em cristais maiores e de melhor qualidade do que aqueles desenvolvidos em laboratório. Na prática, isso significa que os pesquisadores poderão contar com cristais "nítidos", cuja estrutura molecular possa ser determinada com menores distorções.
MECANISMO DE AÇÃO
Segundo o físico Marcos Roberto de Mattos Fontes, do Departamento de Física e Biofísica do Instituto de Biociências (IB), que coordena o grupo de pesquisa no câmpus de Botucatu, a análise da estrutura molecular e o ponto de partida para compreender o funcionamento biológico das proteínas e desvendar seu mecanismo de ação. "No caso de uma proteína que tenha, por exemplo, propriedades anticancerígenas, a estrutura molecular poderia revelar o mecanismo que impede o desenvolvimento das células malignas", afirma Fontes "Assim, seria possível ampliar as possibilidades de desenhar medicamentos mais eficazes para o tratamento dessa doença."
Entre as proteínas que estão sendo pesquisadas pela UNESP, algumas terão aplicação de curto ou a médio prazo. Outras servirão para aumentar o conhecimento científico, ou seja, podem servir de base para novas pesquisas. As proteínas lectina e miotoxina, que estão sendo estudadas pelo grupo de pesquisa coordenado pelo professor Fontes, estão entre as que podem trazer resultados práticos. Extraída do veneno de uma cobra conhecida como Caissaca, pertencente à mesma família da Jararaca (Bothrops moojeni), essa proteína tem capacidade de destruir as células musculares dos animais, uma propriedade que poderia ser utilizada para criar drogas que possam tratar doenças como a trombose, por exemplo. Já a lectina, extraída de uma planta do nordeste (P. Pêndula), possui um princípio ativo que poderia facilitar a detecção de tumores.
Outra esperança concreta é a ADH (álcool desidrogenase secundário), que vem sendo estudada pelo biofísico Raghuvir R. Arni, chefe do grupo de Cristalografia de Proteínas do Departamento de Física do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), câmpus de São José do Rio Preto. Encontrada em bactérias que sobrevivem em altas temperaturas, esta proteína pode ser usada para desenvolver novas tecnologias de fermentação, cuja aplicação vai beneficiar diretamente as indústrias.
As proteínas que despertam interesse acadêmico são a protease aspártica urinária humana e a hemoglobina do cascudo. Ambas são estudadas pelo físico Walter Figueira de Azevedo Jr., que faz parte do grupo de pesquisa do Departamento de Física do Ibilce. A protease aspártica urinária humana pertence a uma vasta família de proteínas, como a das pepsinas e a das proteases isoladas de vírus. Já no caso da hemoglobina do peixe cascudo, que é responsável pelo transporte de oxigênio, os pesquisadores querem entender como essa proteína dá condições ao cascudo de sobreviver em águas extremamente poluídas, onde não há praticamente oxigênio.
O projeto de cristalização de proteínas no espaço só foi possível graças a um convênio entre o INPE (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial) e a Nasa, agência espacial norte-americana. Nesta missão, 11 pesquisas brasileiras passarão por este experimento. A UNESP é a instituição que levará o maior número de proteínas. Além dos professores citados, participam desse projeto pesquisadores de outras instituições do Brasil e do Exterior.
Notícia
Jornal da Unesp