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Quarentena desafia gestores, educadores, pais e toda uma geração de jovens

Publicado em 19 março 2021

Uma das áreas que mais geraram polêmica na sociedade e desafiaram os gestores a buscar alternativas na pandemia foi a Educação.

O debate teve início com a primeira suspensão das aulas presenciais em Campinas, no dia 13 de março de 2020, pela Unicamp. Entre erros e acertos, um ano se passou – e as escolas também suspenderam as aulas, desafiando toda uma geração de crianças e jovens a fazerem uso efetivo das tecnologias remotas para muito além dos jogos e das redes sociais.

Marina Zarpelon, de 16 anos, que cursa atualmente o 3° ano do Ensino Médio, resume a aventura em busca do saber virtual – e aponta a dedicação dos professores.

“Estudar em casa está sendo um desafio, porque, mesmo eu tendo um ambiente próprio pra isso, não deixa de ser um lugar com muitas distrações, onde a gente pode perder o foco a qualquer hora. Mesmo assim, tive a sorte de conseguir estudar com o ensino remoto e professores que cooperam com os alunos em uma situação atípica como essa que estamos passando”, diz Marina.

Mas bem antes dela ter de se adaptar a encarar o ensino remoto, a Unicamp já havia suspendido todas as atividades presenciais em seus campi, tornando-se a primeira universidade do País a tomar essa decisão, apenas dois dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar que o mundo estava vivendo uma pandemia.

“No mesmo período, teve início o engajamento da Universidade em uma série de medidas de combate à pandemia, como a criação de uma força-tarefa contra a Covid-19, somando-se a isso os esforços de toda a comunidade acadêmica para seguir as atividades de ensino, pesquisa e extensão mesmo diante da imposição do formato virtual”, aponta a instituição em seu balanço de um ano de pandemia.

De acordo com relatórios da instituição, foram investidos R$ 3 milhões em 24 projetos de pesquisa e ensaios clínicos relacionados à Covid-19 pelo Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepex). Dez projetos de pesquisadores também foram submetidos e aprovados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), recebendo financiamento de R$ 2,7 milhões.

Com a suspensão das atividades de ensino presenciais, a Unicamp adotou formas de garantir que as atividades acadêmicas fossem mantidas sem prejudicar muito o andamento dos cursos e formação dos estudantes. “Uma das opções encontradas foi o estímulo ao uso de tecnologias digitais de ensino, possibilitando aos docentes a realização de aulas e atividades remotas”, diz o relatório.

Rede municipal

Para a secretário municipal de Educação. José Tadeu Jorge, o período foi marcado por tristeza e esperança. “Essas duas palavras resumem o ano vivido sob a égide da pandemia. Tristeza pelas vidas que foram interrompidas, pela incapacidade de compreensão da importância das recomendações científicas, pelo negacionismo absurdo e desumano. E esperança de que a vacinação avance, de que a solidariedade vença e o respeito à vida prevaleça”.

A rede municipal tem 18.827 alunos no Ensino Fundamental e 41.675 na Educação Infantil em 207 unidades escolares. Os professore somam 2.596. O secretário destaca que no ano passado foram distribuídos 21 mil chips para todos os alunos do Ensino Fundamental e de Educação e Jovens e Adultos (EJA). Os alunos do 9ª ano também receberam tablets.

Uma parceria com a TV Câmara garantiu a transmissão de conteúdos para a Educação. E atividades impressas também foram encaminhadas às casas dos alunos. Para substituir as merendas, de abril a novembro foram distribuídas 171 mil cestas básicas, e de maio a novembro foram entregues 244 mil kits de hortifrutigranjeiros.

Segundo a Secretaria, em abril foram atendidas 9 mil famílias. Em novembro, esse número saltou para 41 mil. E este ano já foram entregues 28 mil e 33 mil kits de hortifrutigranjeiros, com 36 mil famílias atendidas.

Tadeu Jorge aposta no retorno às aulas presencias ainda este ano. “A Secretaria irá aprimorar as iniciativas já adotadas e retomar as aulas presenciais assim que o arrefecimento da pandemia permitir. Para um retorno em segurança, todas as escolas obedecerão aos protocolos de segurança estabelecidos pelo Devisa. Todas as unidades serão higienizadas a cada troca de turno. Serão distribuídos kits de máscara, álcool gel e faceshield (aos professores)”, afirma, acrescentando ainda que a temperatura dos alunos será aferida na entrada da escolas e que as unidades atenderão com 50% da capacidade dos seus alunos.

Pelo lado dos professores da rede municipal, o período também foi marcado por pressões – mas neste caso, para impedir o retorno presencial. Para a categoria, não há segurança sanitária suficiente.

O coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Campinas, Tadeu Cohen Paranatinga, destaca que a categoria se mobilizou para ter direito à vacinação antes de voltas às salas de aula.

“Barramos o retorno presencial das aulas em outubro de 2020 e também em agora em março, depois que ele foi aprovado sem nenhuma condição de retomada. Fizemos várias denúncias exigindo a vacinação dos trabalhadores. Mostramos que muitas escolas nem têm estrutura para atender os protocolos sanitários. Não vamos aceitar a volta às aulas presenciais porque entendemos que isso coloca em risco a vida dos trabalhadores, dos estudantes e das famílias”, afirma Paranatinga.

Resiliência

Para a dentista e mãe de dois filhos em idade escolar, Marisa Karla Álvares Pedro Zarpelon, de 47 anos, o período foi marcado pela resiliência. “Em tempos de caos e incertezas, ter os filhos estudando cada um no seu quarto não foi a tarefa mais difícil aqui em casa. Fomos privilegiados pela rapidez da escola em iniciar as aulas, pela presença dos avós que moram conosco e principalmente pela disciplina que meus filhos já tinham com a rotina de estudos”, diz.

Harmonia familiar e resiliência marcaram o período na casa da dentista Marisa Karla Álvares Pedro Zarpelon (Foto: Arquivo Pessoal)

Isso e mais uma “trégua” familiar ajudaram a manter uma atitude positiva. “Nos adaptamos, tivemos paciência quando as aulas não fluíam, quando a conexão não ajudava. Combinamos essa resiliência, essa postura de aliviar a pressão do dia a dia e tentar prezar pela sanidade mental. Sabe-se lá até quando essa situação vai durar. Mas estamos tentando”, pondera Marisa.

A Secretaria Estadual de Educação e a Apeoesp, entidade que representa os professores da rede estadual, foram procurados para avaliar o impacto do último ano, mas não retornaram os contatos.