Estudo pretende responder quais as melhores práticas para recuperar áreas degradadasA diferença de um pasto saudável e um que, provavelmente, não é manejado como lavoura pelo pecuarista | Embrapa / Naylor Perez
No Brasil, dos 200 milhões de hectares de pastagens, 130 milhões podem estar degradados, de acordo com a Embrapa. Erosões ou aquela comum secura perceptível em folhas opacas, podem deixar o solo exposto, característica que só gera consequências ruins, como animais subnutridos e ineficiência no sequestro de gases de efeito estufa (GEEs), uma função natural das plantas.
Do contrário, com solo protegido e úmido, provavelmente, o pasto está praticando a fotossíntese e contribuindo com o que o especialista Daniel Vargas, coordenador do Observatório de Bioeconomia da FGV, chama de uma reciclagem dos GEEs. É quando o animal come e, na digestão, gera o metano. Porém, a planta que fica absorve parte do que foi emitido.
Agora, quem estuda o tema quer descobrir, então, qual a forma mais ágil e eficiente de recuperar as pastagens. Esse é o objetivo do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).
"O país se comprometeu, dentre outras medidas, a recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas, o que, inclusive, já aconteceu. Mas esse é um número baixo, se pensarmos que aproximadamente 50% dos pastos permanecem com algum grau de degradação", diz o engenheiro agrônomo Carlos Eduardo Pellegrino Cerri, coordenador do projeto na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP).
Se os pastos bem manejados podem sequestrar e estocar carbono no solo, "queremos descobrir a quanto isso pode chegar", explica Cerri. As informações podem servir de subsídio para a elaboração de políticas públicas que incentivem a recuperação de pastagens, por exemplo. Ou então contribuir para a avaliação de iniciativas já existentes.
A equipe é composta por 20 estudantes de graduação e 10 pesquisadores de várias partes do Brasil, além de consultores dos Estados Unidos e Reino Unido. O professor conta que já foram visitadas 20 localidades na região Nordeste. "Em breve seguiremos para os Estados de Rondônia, Mato Grosso e Tocantins". Estão previstas 47 viagens pelo país.
A ideia é conhecer em cada localidade pelo menos uma dupla de pastos, um deles saudável e outro degradado. "A ideia é comparar essas duas situações. A partir de amostras de uma pastagem bem cuidada, podemos saber, por exemplo, qual é o máximo de acúmulo de carbono possível de se obter naquela região com a adoção de boas práticas de manejo."
Em todos os lugares, os pesquisadores coletam amostras do solo, de vegetação e gases do efeito estufa. O material segue para laboratório. Depois, os pesquisadores vão avaliar as amostras com a bibliografia disponível. "Vamos testar no computador vários cenários, levando em consideração as características de cada região do Brasil", adianta o professor.