“Pouco importa às pessoas saber que tem direitos reconhecidos, se o exercício deles lhes é negado na prática.”
Atualmente ainda é raro você ver mães no nosso meio. As mulheres geralmente tem filho mais tarde, depois de ter passado num concurso ou após abandonar a carreira (o que não é incomum diante de tudo isso). Veja o que aconteceu comigo durante o doutorado: assim que comecei minha pesquisa, tinha bolsa CAPES. Na época era pouco mais de dois mil reais por mês. Engravidei, bem no comecinho, e quando minha filha nasceu eu ainda tinha essa bolsa. Meses depois do nascimento, meu projeto foi aprovado pela FAPESP e comecei a ganhar uma bolsa um pouco melhor. Recentemente foi aprovado o direito de licença maternidade remunerado para bolsistas de pós-graduação. Funciona assim: você tem seu filho durante a pós, tira os quatro meses de licença e, após o término da sua bolsa, você tem mais quatro meses com bolsa para terminar sua dissertação/tese. Na prática, seria assim comigo. Apesar do desespero inicial de uma segunda gravidez surpresa (e logo no início de um doutorado), fiquei mais tranquila ao saber que teria a licença remunerada. Apesar disso não fiquei afastada quatro meses após o nascimento. Voltei pouco depois de um mês porque, como já era mãe, sabia que teria que diluir essa licença durante os quatro anos, pra cuidar de viroses, dores de barriga, braços quebrados, festinhas na escola, férias escolares, etc. Quando no começo do quarto e último ano do doutorado eu soube que teria os quatro meses de prorrogação, mas não teria bolsa. Motivo: troquei de agência financiadora. Ninguém previu minha situação e agora estou “correndo” para conseguir terminar a tese a tempo de não precisar estender o desenvolvimento da minha pesquisa além do término da bolsa. Perdi quatro meses, pois não posso usufruir dessa prorrogação sem ter dinheiro pra sustentar meus dois filhos. Tenho feito “bicos” como cozinheira pelo menos três vezes por mês para conseguir poupar dinheiro caso precise ultrapassar esse tempo. Ainda tenho que ser mãe, produzir artigos e ter uma vida.
Continua… (toda quarta, não percam!)
E leia aqui a Parte 3!