Notícia

A Gazeta (Cuiabá, MT)

Quando a arte é invisível aos olhos

Publicado em 24 janeiro 2013

Por Luiz Fernando Vieira

Já se vão algumas décadas desde que os suportes artísticos tradicionais começaram a ser substituídos por materiais diversos. As artes plásticas passaram a não precisar deles pois não eram mais tão essenciais para o desenvolvimento do trabalho. Graças a essa visão mais contemporânea de arte é que hoje se encontram inúmeras maneiras de produzi-la. Uma, em especial é, literalmente, invisível aos olhos: a Nanoarte. Uma exposição em Nova York (EUA) dá a exata dimensão dessa nova forma de expressão artística, inclusive com a participação de brasileiros.

Como o próprio nome já informa, trata-se de um material que é medido em milionésimos de milímetro. A expressão nano, coincidentemente, passou a ser usada na década de 1960, a mesma em que se começou a romper artisticamente com os padrões tradicionais. Como não têm inspiração em escolas artísticas ou movimentos, fica difícil defini-la, sendo o mais próximo, talvez, a arte abstrata ou surreal. A Nanoarte, no entanto, não depende das ideias e tem base material, que pode ser um grupo de esporos de cogumelo que juntos formam um desenho intrigante.

O Brasil hoje é referência no assunto. Trabalhos nacionais levaram prêmios na quarta edição da exposição on-line de Nanoarte organizada pela Universidade de Nova York em 2010. As imagens foram criadas por pesquisadores do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Materiais em Nanotecnologia (INCTMN). O país participou da competição com 15 trabalhos elaborados pelos técnicos Rorivaldo Camargo, Ricardo Tranquilin e Daniela Caceta.

Os 3, mais Enio Longo, também participam da exposição Nanoarte 2013 em Nova York com 20 imagens. O concurso deste ano reúne 107 trabalhos de 33 participantes oriundos dos EUA, Brasil, Alemanha, Canadá, Itália, Romênia, Holanda, Eslovênia, Austrália, Russia, Japão e México. As imagens são fantásticas e o único problema é que, além de estar em inglês, o material não traz informações sobre os materiais que as originaram. O que não impede, absolutamente, que as pessoas apreciem essa nova e internacionalmente reconhecida forma de arte. O jornal americano The New York Times publicou matéria sobre a exposição, demonstrando a valorização internacional da Nanoarte.

O que é – A Nanoarte é uma expressão artística recente, oriunda da nanotecnologia. Os materiais são sintetizados nos laboratórios mais importantes do mundo e dão origem a morfologias inéditas e artísticas produzidas pela natureza. Estas morfologias são transformadas em imagens num mundo surrealista. Pode-se dizer que a natureza morta transcende ao imaginário.

Este processo é obtido pelos artesãos de laboratório que usam sua habilidade computacional para dar vida e vigor à estas morfologias. Os materiais são obtidos em nanoescala, isto é, com dimensão menor que 100 nm que são obtidas por intermédio de microscópios eletrônicos de alta precisão.

Também se pode dizer que a Nanoarte é uma disciplina que pode estar localizada em uma área de investigação em que convergem arte, ciência e tecnologia. Os resultados obtidos com as nanoestruturas deram origem à Nanoarte, que foi criada pelos cientistas, por meio de produtos químicos e/ou processos físicos, que podem ser visualizadas a partir de ferramentas poderosas como a microscopia de força atômica.

Arte e utilidade - O INCTMN tem como foco principal gerar conhecimento por meio de estudos básicos em síntese, caracterização e processamento de materiais cerâmicos nanométricos e também aplicar tal conhecimento no desenvolvimento de cerâmicas eletrônicas de alto desempenho, incluindo dispositivos baseados em filmes finos. Esse conhecimento será gerado em diferentes instituições, desde o sul até o nordeste do país. Isso tornará o conhecimento descentralizado e difundido, o que poderá gerar benefícios sociais e econômicos em diferentes regiões do país.

O INCTMN é parceiro do Centro Multidisciplinar de Desenvolvimento de Materiais Cerâmicos (CMDMC), centro integrado de pesquisa científica e tecnológica financiado pela FAPESP, cujo foco principal é o desenvolvimento de novos materiais inorgânicos e de novas tecnologias de síntese e processamento.

SERVIÇO - Confira a exposição on-line no link: nanoart21.org/nanoart-exhibitions. Também se pode encontrar uma série de imagens de Nanoarte no site do CMDMC (www.cmdmc.com.br). (Com assessoria)