Com a abertura das fronteiras econômicas, o Brasil foi obrigado a tornar-se internacionalmente competitivo, adotando novos padrões de qualidade e de custos de seus produtos, introduzindo na cultura brasileira uma mentalização positiva de melhoria e de evolução tecnológica. Esse movimento renovador dos processos produtivos contagia todos os segmentos produtivos, numa verdadeira onda em busca da qualidade total.
Paralelamente, a perversidade da automação na eliminação de empregos e a busca de novas formas organizativas, visando à redução de custos, tais como reengenharia de processos e de estruturas, geraram nas organizações novas tensões e ansiedades, acelerando a doença organizacional deste fim de século chamada "stress".
Os grandes sucessos alcançados mensurados pela marca acima do milhar de certificados ISO num prazo relativamente curto de cinco anos demonstraram que a versatilidade e flexibilidade tipicamente brasileiras item alta capacidade de mobilização, de implantação e de reorganização dos fatores produtivos.
Como manter o sucesso e a motivação dos movimentos renovadores se a valorização do homem, a melhoria da qualidade de vida dos colaboradores e o alívio diário do "stress" não se fizeram acompanhar no mesmo nível de mobilização, muito menos na mesma velocidade?
O grande desafio brasileiro de fim de século na obtenção das metas de qualidade total passa necessariamente pelo diagnóstico, implantação e desenvolvimento de programas de qualidade de vida no ambiente organizacional.
Em 1875, os EUA tinham uma taxa de 24 mortes a cada 100 habitantes. Um grande movimento de saneamento invadiu a sociedade americana; através do tratamento de água, da pasteurização do leite, das campanhas de saúde pública e do advento da insulina, a taxa de mortalidade caiu para 13% nos anos 40.
Nos anos 90, adveio a chamada "Era do Estilo de Vida", com a elevação do grau de consciência das pessoas e da reeducação de hábitos através de intensos programas antifumo, estímulo à prática de exercícios físicos, adoção de hábitos alimentares saudáveis e do desenvolvimento de técnicas anti-"stress". A população americana percebeu que não só ganhava qualidade de vida como também criava bases saudáveis para uma vivência de terceira idade longeva e prazerosa. Como conseqüência, a taxa de mortalidade foi reduzida para cinco mortes por cem habitantes e a expectativa de vida elevada para 75 anos.
O relatório Healthy People 2000, publicado em 1995 nos EUA, sintetiza metas americanas de redução de riscos das principais doenças mortais, por grupo de risco, através de intensos programas de atividade física, nutrição, antifumo, antiálcool e outras drogas, planejamento familiar, saúde mental, comportamento social contra abusos e violência, programas comunitários, redução de acidentes, medicina ocupacional, saúde ambiental, saúde bucal e segurança na produção de alimentos sem contaminação.
O Canadá é outro exemplo de sucesso na evolução da qualidade de vida de sua população e não é à toa que é considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o melhor país do mundo, medido pelo índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com a marca de 10,950. Os Estados Unidos vêm em segundo lugar, com 0,937. O Brasil encontra-se no modesto 63°lugar, com IDH de 0,797.
Há vinte anos, o Canadá introduziu um programa nacional denominado Active Living, que busca motivar sua população à prática regular de atividade física, conseguindo mobilizar de 3% para 32% a parcela da população que realiza algum tipo de atividade física de no mínimo 30 minutos, três vezes por semana.
Com 160 milhões de habitantes, o Brasil destina 4% do seu PIB à área de saúde; em 1990 investiu apenas US$ 132 por habitante. Nosso perfil populacional sofreu profunda transformação de 1970 para cá. De um país de grande contingente jovem na década de 70, cuja expectativa de vida beirava os 60 anos (tinha somente 2% da população acima de 65 anos) e perfil populacional imaturo, passou a uma pirâmide mais equilibrada e madura, em 1991, com expectativa de vida de 63 anos, mantendo apenas 4% da população acima de 65 anos.
A projeção para o ano 2000 revela maturidade plena com 5% da população acima de 65 anos. Considerando que a expectativa de vida atual é de 66 anos, pode-se esperar atingir o ano 2000 com índice de 68 a 69 anos, bem longe ainda dos atuais 77 do Canadá e 76 dos Estados Unidos.
O perfil adulto da população brasileira antevê um significativo incremento no grau de consciência e uma profunda responsabilidade educacional de todos, aliando-se ao Estado no desenvolvimento ecológico humano de nossa população através de um processo contínuo de educação formal de melhor conteúdo técnico e profissional. Tal amadurecimento será refletido pela sociedade na busca de valores mais integrados, tais como o senso de comunidade, o senso de totalidade. Já não seremos mais cidadãos isolados e perdidos, mas membros de grupos solidários e produtivos.
A busca da identidade e do sentido de vida reforçará substancialmente o equilíbrio corpo-mente-espírito, fazendo com que cada pessoa desenvolva o seu poder pessoal que dá prazer de viver, bem diferente do poder mandatório característico dos "coronéis" ou políticos feudais. A sociedade caminhará para um sentido mais total, mais global, de forma a reforçar o conceito do todo.
As forças dessas mudanças estruturais indicam que o processo de busca da qualidade total integrará a qualidade de vida, que passa a ser fator estratégico e integrador. A saúde dos colaboradores da empresa também agrega valor estratégico. A educação, como processo permanente, seguramente passa a exercer o papel de recurso estratégico.
* Presidente da Logus Pró-Saúde e presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida.
Notícia
Gazeta Mercantil