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Jornal da Cidade (Bauru, SP) online

Protótipo garante economia de energia em sistema de irrigação

Publicado em 02 outubro 2006

Pesquisadores do Departamento de Engenharia Elétrica (DEE) da Faculdade de Engenharia (FE) da Unesp Bauru concluíram um projeto de pesquisa, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Fundunesp. O resultado foi um sistema de irrigação com baixo consumo de água e energia, com queda de mais de 60% em relação aos tradicionais.

A idéia do grupo coordenado pelo professor doutor José Angelo Cagnon, do DEE, seria desenvolver um sistema de controle e supervisão do processo de irrigação que garantisse o pleno desenvolvimento das mudas, porém, com significativos índices de economia de água e energia. Outro fator considerado pelo grupo, do qual fazem parte o professor doutor Ivo Reis Fontes e mestre André Luiz Andreoli, seria criar um produto acessível ao pequeno, médio e grande produtor agrícola.

Nas palavras do professor Fontes, seria basicamente disponibilizar ao usuário "uma arquitetura de armazenamento de dados, a baixo custo, que garantisse a execução das tarefas de automação (iniciar o gotejamento, desligar os ventiladores, entre outras) com economia de água e energia".

Durante o desenvolvimento do projeto, intitulado "Sistema de Controle e Supervisão Dedicado a Sistemas de Irrigação", iniciado em julho de 2002 e concluído em julho de 2005, os pesquisadores foram conhecer os sistemas já existentes, dentre eles um produto israelense que foi adquirido por uma empresa da região, porém, mostrou-se pouco adequado às necessidades brasileiras, além do custo elevado para o pequeno produtor.

Cagnon recorda o período do experimento. "Fizemos uma parceria com o Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências da Unesp (sob a supervisão da pesquisadora doutora Inês Cechin) e montamos uma estufa com 40 mudas de morango. Todo o processo foi monitorado e os resultados foram muito positivos", acrescenta.

O protótipo desenvolvido também se difere dos existentes no mercado pela forma de transmissão, via radiofreqüência. "Isso evita o excesso de cabos nas estufas e permite que os profissionais façam o monitoramento 24h de todas as condições a que estão submetidas as plantas, como a umidade e temperatura, e podem acionar ou cessar qualquer ação", explica Cagnon.

Monitoramento

Para o armazenamento e controle dos dados coletados, o grupo optou por utilizar, durante o desenvolvimento do experimento, o software Elipse Pro, já existente no mercado. Porém, Fontes salienta que é perfeitamente viável a criação de um aplicativo adicional de baixo custo, que possa acompanhar o produto. "Para desenvolver o projeto, procuramos resolver os problemas existentes. Desenvolver um sistema com o auxílio de hidrômetros, sensores e outros equipamentos de monitoramento que medisse e transmitisse via rádio para um banco de dados e fosse acionado de acordo com uma receita determinada", explica.

Em outras palavras, o objetivo seria verificar as condições da estufa de morangos, transmitir para um computador dotado de um programa (Elipse Pro) capaz de acionar ou não os mecanismos de tratamento das plantas, sem a necessidade da presença de um operador.

"O sistema pode ser usado desde um produtor de mudas, com poucas estufas, até no monitoramento e acionamento de irrigação de grandes plantações, como a de soja", exemplifica Fontes.

Resultados surpreendem

A cultura de morango foi irrigada e monitorada por dois meses, período que corresponde ao ciclo completo do experimento, com coleta de dados a cada cinco minutos. As informações, como a umidade do substrato, transmitidas via radiofreqüência, são relacionadas a uma receita armazenada no software, definindo a quantidade de água e, conseqüentemente, os momentos de acionamento da irrigação e outros controles.

Os pesquisadores da Unesp fizeram a análise comparativa dos dados, diferenciando o período em que o gotejamento e todo o processo ocorreu automaticamente (Irrigação Automática a partir do protótipo) e a Irrigação Temporizada (tradicional), que mantém a irrigação, independentemente das condições da estufa.

Nesta comparação, os resultados apresentaram uma significativa redução no consumo de água e energia. Na Irrigação Temporizada, o consumo de água caiu 69,91%, enquanto ao usar o sistema monitorado, o consumo foi reduzido em mais de 50%, pontuando 30,09%.

Paralelamente, o consumo de energia elétrica também traz uma redução expressiva, tendo o consumo na Irrigação Temporizada de 74,91%, em comparação à automática, com 25,09%. Uma economia energética maior que 60%.

Diante dos resultados positivos, o grupo, que já apresentou a pesquisa no Induscon, em 2004, pretende se dedicar ao aperfeiçoamento do protótipo e desenvolvimento do software. Futuramente, é possível que a invenção desperte o interesse da indústria nacional, permitindo sua utilização pelo mercado.

A universidade, em sua atuação em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), gera soluções viáveis, econômicas, pautadas na redução do impacto ambiental causado pelo homem, mas não é seu objetivo colocar o produto no mercado. Segundo os pesquisadores, esta etapa cabe à indústria, que aliada ao potencial criativo dos cientistas brasileiros, pode gerar inovações que contribuam para a economia de água e energia elétrica e a possibilidade de redução dos custos da produção agrícola em todas as escalas.