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DCI

Prótese de nióbio e titânio é desenvolvida no Brasil

Publicado em 22 dezembro 2016

São Paulo - Uma parceria que envolve a indústria da mineração pode viabilizar a produção local de próteses internas de nióbio e titânio, cuja liga tende a se adaptar melhor ao corpo humano. A perspectiva é que o dispositivo possa estar disponível no mercado em cerca de cinco anos.

 

Porém, até lá, um extenso trabalho de pesquisa será realizado no Brasil. "A chave do projeto é a combinação de um material diferenciado e o uso de manufatura extremamente avançada", afirmou ao DCI o CEO da Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), Tadeu Carneiro.

 

Apesar dos estudos desse tipo de prótese já estarem em fase avançada no Japão e nos Estados Unidos, onde inclusive o dispositivo já é produzido, o projeto no Brasil é pioneiro, afirma o executivo.

 

A CBMM irá atuar no projeto em duas frentes. Além do investimento de aproximadamente R$ 12 milhões na primeira fase para cobrir custos como salários de especialistas, montagem de aparato e a compra do titânio, a mineradora também irá doar a liga de nióbio metálico puro (na forma de lingote), cujo valor no mercado varia entre US$ 120 a US$ 150 o quilo.

 

Carneiro explica que as próteses internas mais comuns no mercado - e que têm maior escala - são as de titânio, alumínio, vanádio e aço inoxidável.

 

Porém, segundo o executivo, a liga nióbio-titânio é muito parecida com a estrutura do osso humano, o que proporciona uma adaptação mais uniforme e prolonga a vida útil do dispositivo implantável.

 

Ainda de acordo com Carneiro, o nióbio e o titânio estão entre os cinco únicos elementos químicos da natureza que são hipoalergênicos.

 

Conforme explica o CEO da mineradora, a produção da liga de nióbio metálico puro requer muita tecnologia. "Só para atingir o ponto de fusão de 2.500 graus Celsius, é necessário um processo altamente avançado." O forno especial utilizado para refino usa como combustível feixes de elétrons. "O custo de produção do nióbio puro é muito alto."

 

Desenvolvimento

 

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) fará a pesquisa sob o ponto de vista da tecnologia de produção, que envolve questões como resistência mecânica e de corrosão da prótese, além de biocompatibilidade, ou seja, menor risco de rejeição pelo corpo humano.

 

"O grande diferencial desse projeto é que poderemos produzir, no Brasil, próteses customizadas, que dispensam adaptações e evitam desperdício de material", afirma o pesquisador responsável pelo laboratório de processos metalúrgicos do IPT, João Batista Ferreira Neto.

 

A prótese será produzida com tecnologia de manufatura aditiva, conhecida como "impressora 3D". Para "imprimir" o dispositivo implantável, será usado como matéria-prima um "pó" da liga de nióbio-titânio, que está sendo desenvolvido pelo IPT.

 

"Após a conclusão dos estudos, uma empresa poderá fabricar esse pó", explica o pesquisador. "Este seria um dos negócios a ser desenvolvido localmente", acrescenta.

 

Carneiro, da CBMM, explica que o projeto de cada prótese será feito no computador e a impressora 3D executará o comando. "Dessa forma, não haverá desperdício de material, considerando ainda o fato de que os insumos utilizados são muito caros", salienta.

 

Segundo Neto, caso a prótese entre em produção comercial, o investimento no negócio de impressoras 3D também poderá crescer no País.

 

"É bem possível que haja um desenvolvimento desse negócio no Brasil", avalia.

 

Testes clínicos

 

O pesquisador do IPT destaca que os testes clínicos da prótese de nióbio-titânio serão feitos na Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). O tempo desses estudos deve ser de aproximadamente dois anos, avalia Neto.

 

Para o CEO da CBMM, é importante que a AACD participe do projeto. "O instituto precisa das próteses e essa parceria beneficia a quem não pode pagar", complementa Carneiro.

 

O projeto conta ainda com a parceria da Associação Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Este é o único projeto no País com a participação de três agências de fomento", revela Carneiro.

 

Apesar de estimar um tempo mínimo de cinco a sete anos para que a prótese de nióbio-titânio passe a ser produzida e comercializada, o executivo está otimista. "Este pode ser o futuro das próteses internas", avalia.

 

 

Juliana Estigarríbia