Pesquisadores do Núcleo de Terapia Celular e Molecular (Nucel) da Universidade de São Paulo (USP) produziram em laboratório duas proteínas recombinantes que deverão ser utilizadas na formulação de um novo biofármaco destinado ao tratamento de fraturas ósseas.
De acordo com a coordenadora do Nucel e da pesquisa, a professora do Instituto de Química da universidade, Mari Cleide Sogayar, as proteínas BMP2 e BMP7 estimulam a formação de tecido ósseo em reparos tanto em ortopedia como em odontologia.
“Identificamos as seqüências de DNA que codificam para essas duas proteínas a partir dos bancos de cDNA do Projeto Transcriptoma da FAPESP, conhecido como Transcript Finishing Initiative, em que foram obtidas amostras de vários tipos de linhagens celulares, de diferentes tecidos humanos como estômago, fígado e próstata. Foram quase seis anos de pesquisa e desenvolvimento até chegarmos a essas duas proteínas recombinantes”, disse Mari Cleide à Agência FAPESP.
O Projeto Transcriptoma, resultado de parceria entre a FAPESP e o Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o Câncer, foi conduzido de 2000 a 2003 dentro do Projeto Genoma Humano do Câncer.
O cDNA, ou DNA complementar, é o DNA sintetizado por uma molécula de RNA mensageiro em uma reação catalisada pela enzima transcriptase reversa. Quando inseridos em células, cDNAs podem levar ao aumento dos níveis da proteína codificada.
“No banco do Projeto Transcriptoma encontramos dois cDNAs que permitiram amplificar as seqüências da BMP2 e da BMP7. Com as seqüências de DNA que codificam para as BMPs em mãos, clonamos essas seqüências, utilizando células de ovário de hamster e também células de rim embrionário humano, para produzir as duas proteínas recombinantes”, explicou Mari Cleide.
O estudo, que também correspondeu à tese de doutorado de Juan Carlos Bustos Valenzuela, foi feito no âmbito de um projeto apoiado pela FAPESP na modalidade Auxílio a Pesquisa. Segundo a professora, o trabalho deve gerar dentro de poucos anos a formulação de um medicamento para reparos de fraturas e traumas ósseos decorrentes, por exemplo, de osteoporose ou implantes dentários.
“Para criar um biofármaco precisamos de células que produzam as duas proteínas de interesse em larga escala. Em nosso laboratório temos algumas células superprodutoras, mas ainda as estamos aperfeiçoando para que purifiquem e produzam em maior quantidade, em meio de cultura, tanto a BMP2 como a BMP7”, disse.
O medicamento, segundo a pesquisadora, poderá chegar ao mercado dentro de até cinco anos. “Estamos em processo de aperfeiçoamento das células superprodutoras. Em seguida, vamos iniciar a transferência de tecnologia para uma empresa farmacêutica nacional que já demonstrou interesse em produzir o biofármaco”, afirmou.
Medicamentos semelhantes, mas importados, estão disponíveis em clínicas odontológicas e ortopédicas no país, ainda que em baixa quantidade devido aos altos custos. “Nossa expectativa é que esse novo biofármaco seja mais de 50% mais barato do que os importados”, disse Mari Cleide.
O desenvolvimento das proteínas no Nucel também contou com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.
Fonte: Agência FAPESP