A mediação do nível da proteína dissulfeto isomerase (PDI) no plasma sanguíneo pode se tornar uma forma de diagnosticar a predisposição a doenças cardiovasculares até mesmo em pessoas saudáveis. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Instituto Butantan.
“A principal descoberta desse estudo é que a quantidade de proteínas de dissulfeto isomerase (PDI) no sangue pode definir quais os pacientes que estão mais ou menos propensos a trombose. Foram observados que indivíduos que possuem baixos níveis de PDI têm um perfil mais inflamatório e, portanto, são mais propensos a desenvolver tromboses. Por outro lado, pessoas que possuem o plasma com bastante PDI, tem mais proteínas associadas a manter uma boa homeostase celular, ou seja, manter as células mais saudáveis. E, dessa forma, indicando uma menor propensão a tromboses”, explica Daniel Martins de Souza, professor de bioquímica no Instituto de Biologia da Unicamp e colaborador do estudo.
A equipe da Unicamp ficou responsável pela parte da análise proteômica, que analisa o perfil de proteínas dos pacientes voluntários do estudo.
A pesquisa foi conduzida em conjunto pelo Centro de Pesquisa em Processos Redox em Biomedicina (Redoxoma), o Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) e sediado no Instituto de Química da USP. O trabalho foi realizado durante o doutorado de Percíllia Victória Santos de Oliveira com bolsa da FAPESP.
Metodologia
Foram analisadas amostras de plasma sanguíneo de 35 voluntários saudáveis, sem histórico de doenças crônicas ou agudas. Ninguém era fumante, nem utilizava drogas ou medicamentos de uso contínuo.
O plasma foi coletado de 10 a 15 vezes, com intervalos variáveis, em um período de 10 a 15 meses. Na maior parte dos casos, os níveis de PDI circulante mudavam muito pouco em cada pessoa. Em um conjunto de cinco voluntários, a PDI foi medida três vezes em um período de nove horas. Também nesse caso a variação dos resultados foi baixa.
“No entanto, as medidas indicaram que havia pacientes com valores bem elevados e outros com valores muito baixos de PDI, quase indetectáveis. Repetindo os testes na mesma pessoa ao longo do tempo, esses valores variavam muito pouco”, ressalta Francisco Rafael Martins Laurindo, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador do projeto.
Além disso, foram medidos os níveis de PDI em 90 amostras de um banco de plasma de pacientes com doenças cardiovasculares em fase crônica. Nessa análise, os níveis da proteína foram sempre baixos.
Foram também realizados estudos adicionais relacionando os valores plasmáticos de PDI com assinaturas proteômicas do plasma dos voluntários. Células endoteliais vasculares em cultura tratadas com plasma pobre em PDI tiveram a adesão e migração celular retardada em comparação às que receberam plasma rico em PDI.
Considerações sobre estudo
Segundo Daniel de Souza, as análises totais de proteína apontam que a PDI pode indicar uma propensão às doenças cardiovasculares, uma vez que existe um conjunto de proteínas no plasma desses pacientes investigados que está associado a uma função epitelial.
Foi verificado que não houve correlação da PDI mesmo levando em consideração algumas variáveis ligadas ao risco de doenças cardiovasculares, como idade, níveis de triglicérides e colesterol.
Entre os próximos passos do estudo está a investigação do papel e das quantidades da PDI em condições de doenças coronárias agudas.
Autora:
Úrsula Neves
Jornalista carioca. Diretora executiva do Digitais do Marketing, colunista de cultura e maternidade dos sites Cabine Cultural e Feminino e Além, respectivamente.
Referências:
https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2019/05/27/proteina-pode-indicar-predisposicao-doencas-cardiovasculares www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2213231719300217 www.nature.com/articles/s41419-019-1402-y www.physiology.org/doi/abs/10.1152/ajpheart.00379.2018