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A Cidade On (Ribeirão Preto, SP)

Proteína de leite sem vaca? Tecnologia começou a ser desenvolvida em Ribeirão Preto (38 notícias)

Publicado em 06 de junho de 2025

Startup brasileira Future Cow apresenta tecnologia de produção de proteínas do leite sem vacas na VivaTech, na França

Uma startup brasileira, que começou a operar no Supera Parque , em Ribeirão Preto vai produzir proteínas do leite sem a necessidade de vacas . A Future Cow vai apresentar sua tecnologia no estande da USP (Universidade de São Paulo) na VivaTech , um dos maiores eventos de startups e de tecnologia da Europa.

O evento acontece entre 11 e 14 de junho em Paris, na França. A startup foi convidada pela FAPESP e tem o apoio da Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas). “A tecnologia já existe em outros países e vamos poder mostrar na VivaTech que o Brasil também tem”, diz Leonardo Vieira, cofundador e CEO da empresa.

“Podemos conquistar investidores que percebam que podemos fabricar no Brasil e exportar para outras localidades. Essa exposição no exterior não é comum para empresas brasileiras.”

Proteínas alternativas

À Agência FAPESP , Leonardo Vieira afirma que, na VivaTech, o objetivo da Future Cow é se conectar ao ecossistema de inovação, dar visibilidade ao desenvolvimento da tecnologia no Brasil e atrair potenciais parceiros corporativos.

“Queremos demonstrar que estamos desenvolvendo proteínas alternativas e, com isso, atrair multinacionais do setor de laticínios para serem nossos clientes”, disse.

A startup quer transformar o mercado de laticínios com a fermentação de precisão, que alia alta tecnologia, sustentabilidade e eficiência produtiva. “Nossa missão é fazer leite sem vaca” , resume Vieira. “A fermentação de precisão é uma tecnologia semelhante à utilizada na produção de cerveja ou vinho.”

Como funciona?

O empreendedor explica que a tecnologia consiste em identificar no DNA do animal a sequência genética com as instruções para produzir a proteína do leite , copiá-la e codificá-la em um hospedeiro – que pode ser um fungo, uma levedura ou uma bactéria. Depois, o hospedeiro se multiplica em um tanque de fermentação, com nutrição de uma fonte de caloria.

O resultado é um líquido que, após filtrado e seco, se transforma nas proteínas do leite programadas inicialmente. “Essas proteínas servem como ingredientes para a indústria de alimentos e laticínios, que podem recombinar o produto para criar diversos derivados”, explica.

A foodtech vai utilizar leveduras como hospedeiros para produzir, inicialmente, caseína e whey protein , duas das principais proteínas encontradas no leite. A caseína é amplamente utilizada na produção de queijos e iogurtes, enquanto o whey é rico em proteínas e muito valorizado no mercado de suplementos alimentares.

Existem, ainda, outras proteínas no leite, cada uma com aplicações específicas. “Uma delas é a lactoferrina, que é extremamente difícil de ser produzida por métodos tradicionais”, conta Vieira. “São necessários 10 mil litros de leite para obter apenas um quilo desse ingrediente.”

Do laboratório para o mercado

Após ter sido instalada no Supera Parque, em 2023, a Future Cow produziu os primeiros gramas de proteína do leite a partir da fermentação de precisão. Em seguida, foi selecionada para participar do Pace (Programa de Aceleração de DeepTechs) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais

A startup não pretende substituir completamente o leite animal: em vez disso, quer criar soluções complementares para a indústria. “Quando a fermentação de precisão começou, era tudo muito preto ou branco: ou o produto é animal ou não é animal. Agora vemos modelos mais híbridos”, observa.

Segundo Vieira, executivos de grandes indústrias de laticínios relatam que já compram todo o leite disponível no mercado. “Eles não conseguem aumentar a produção em 20% ou 30% apenas com a matéria-prima tradicional”, pontua.

“Se eles puderem misturar nosso ingrediente com o produto animal para criar um produto híbrido e aumentar a escala, será um ganho significativo”, avalia.

Além disso, outro aspecto relevante é a agenda de descarbonização de grandes empresas. “Mesmo que a fermentação de precisão não substitua completamente o leite animal, uma redução de 10% ou 20% na pegada de carbono de grandes corporações do setor alimentício já representaria um impacto ambiental considerável.”

Perspectivas futuras

A Future Cow já tem uma cepa funcional e agora busca aumentar o rendimento da produção. “Quanto mais a cepa produz, mais cai o preço unitário. Então, otimizamos os processos de fermentação”. A expectativa é que, até o fim de 2026, o produto esteja pronto e disponível para comercialização.

Como se trata de um ingrediente, a empresa não vai vender diretamente para o consumidor final, mas atuar como fornecedora da indústria alimentícia. A abordagem da startup pode facilitar sua entrada no mercado. “Nosso produto, como ingrediente, pode ser incorporado a outros já existentes, sem enfrentar uma barreira de entrada alta”.

Inicialmente, a startup vai comercializar as proteínas já desenvolvidas para depois expandir para outras variedades. “Só depois da primeira comercialização vamos desenvolver outras proteínas”, afirma o empreendedor.

*com informações Roseli Andrion/Agência FAPESP

Leonardo dos Santos