Rio de Janeiro, 24 out (EFE).- Uma proteína extraída de uma lagarta por pesquisadores brasileiros se mostrou eficaz para combater o vírus do sarampo e o da gripe A (H1N1), informaram nesta quinta-feira fontes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os cientistas do Instituto Butantã identificaram na hemolinfa (sangue dos insetos) da lagarta substâncias com alta potencialidade para combater os vírus, segundo comunicado da Fapesp, que financiou o estudo.
Ainda não sabemos exatamente a composição química dessa substância, mas ela já demonstrou ter um grande potencial: reduziu em duas mil vezes a replicação do picornavírus (um parente do vírus da poliomielite) e em 750 vezes a do vírus do sarampo, além de ter neutralizado o H1N1, garantiu o virólogo Ronaldo Zucatelli Mendonça, citado na nota da Fapesp.
O pesquisador admitiu que os dados são preliminares e que no final do trabalho será possível descobrir um poder de combate ainda maior.
A proteína identificada pelos cientistas foi extraída de uma lagarta da família Megalopygidae.
Segundo o especialista, diferentes estudos demonstraram que as substâncias presentes na hemolinfa dos insetos têm ação efetiva contra micro-organismos como vírus, bactérias e fungos.
Os profissionais do Instituto Butantan já tinham identificado uma proteína da Lonomia obliqua, uma lagarta da família Saturniidae, que, em testes de laboratório, mostrou ser capaz de reduzir em um milhão de vezes a replicação do vírus da herpes e em dez mil vezes a do vírus da rubéola.
A potencialidade da proteína da Lonomia obliqua foi destacada em um artigo científico publicado em 2012 na revista internacional Antiviral Research pelos próprios pesquisadores do Butantã.
Ambas as proteínas, segundo a pesquisa, demonstraram ter uma ação efetiva contra os vírus e serem capazes de promover a apoptose (morte celular programada) de células invasoras ou danificadas.
Esta última propriedade também as transforma em candidatas a matéria-prima para remédios contra o câncer, de acordo com a Fapesp.
Os pesquisadores já desenvolveram métodos para obter as proteínas em laboratório mediante técnicas genéticas que aumentam a escala de produção e simplificam o processo.
O aproveitamento das substâncias na indústria ainda exige testes em animais e clínicos (com humanos) para verificar se as substâncias são seguras e eficazes e se o processo é viável economicamente, garantiu o pesquisador.
As lagartas estudadas pelo Instituto Butantã estão entre as urticantes, que representam ameaça para a saúde humana devido à presença de cerdas em seu corpo que produzem um veneno que pode até levar à morte.
Por EFE Brasil, por EFE Multimedia
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