Governo diz que recursos serão garantidos por decretos
Dirigentes da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) expressaram desconforto com a solução proposta pelo governo estadual para preservar o orçamento da entidade no próximo ano de um corte de 30%, previsto por um mecanismo de desvinculação de receitas aprovado pela Assembleia Legislativa nesta quinta (17).
O governo comunicou à fundação que os recursos serão garantidos por decretos que o governador João Doria (PSDB) assinará para realocar o dinheiro durante o ano. "Para manter nossa autonomia, o ideal seria não depender de decretos", disse a geneticista Mayana Zatz, do conselho superior da Fapesp.
O planejamento da instituição para concessão de auxílios e bolsas de pesquisa no ano que vem foi feito sem considerar a possibilidade de cortes, com base nas garantias oferecidas pelos representantes do governador.
Na terça (15), os conselheiros da Fapesp se reuniram com o vice-governador paulista, Rodrigo Garcia, e a secretária de Desenvolvimento Econômico, Patrícia Ellen, que prometeram assegurar o orçamento da entidade. "Ficamos conformados, mas só ficaríamos sossegados com a retirada da desvinculação", disse Zatz.
Pesquisadores, docentes e estudantes protestaram em frente ao prédio da Fapesp nesta semana. - Marlene Bargamo/Folhapress (Foto: Marlene Bargamo/Folhapress)
Carlos Alberto de Carvalho Pinto, governador do estado de São Paulo, em foto de 1974. Foi ele que em 1960 criou a Fapesp, que passou a funcionar em 1962. "Se me fosse dado destacar alguma das realizações da minha despretensiosa vida pública, não hesitaria em eleger a Fapesp como uma das mais significativas para o desenvolvimento econômico, social e cultural do país". Hoje o orçamento anual da Fapesp supera R$ 1 bilhão. (Foto: /Folhapress)
"Felizmente, temos um fundo, criado quando a Fapesp surgiu e que conta com o equivalente a vários anos de orçamento. Isso nos dá uma boa margem de manobra, mas é preciso ter o rigor prudencial. Tudo depende de quantos anos a crise vai levar", disse Celso Lafer, ex-presidente da Fapesp, que deixou o cargo em 2015 (Foto: Jorge Araújo/Folhapress)
"Aqui no Brasil não podemos ter critérios de amizades. Eles precisam ser objetivos. Outra má ideia é essa história de acabar com a nota das teses. O sistema quando tinha nota passava uma mensagem. Se você fosse aprovado com 9 ou 9,5, ficava bem. Não me lembro de ter dado nunca um dez em uma banca", disse em 2016 José Goldemberg , que presida Fapesp entre 2015 e 2018. (Foto: Gabriela Di Bella/Folhapress)
O médico Marco Antonio Zago, ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo), é o atual presidente da Fapesp (Foto: Diego Padgurschi/Folhapress)
O engenheiro José Fernando Perez, diretor-científico da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) entre 1993 e 2005, em debate sobre "Propostas de financiamento para o ensino superior e pesquisa", realizado na Folha em 1995 (Foto: Evelson de Freitas/Folhapress)
Carlos Henrique de Brito Cruz é diretor científico da instituição desde 2005. Em 2017, ele disse em entrevista à Folha: "A razão pela qual o contribuinte aceita que se use o dinheiro dele para financiar pesquisa é que ele espera algum tipo de benefício: 1) a pesquisa melhora a vida na sociedade, 2) faz a economia funcionar melhor, e/ou 3) traz conhecimentos que a sociedade brasileira ou internacional valorize, tornando-a mais sábia, por exemplo." (Foto: Karime Xavier/Folhapress)
"Eu não tenho clareza de que o cidadão comum saiba o que é Fapesp, por mais visibilidade que ela tenha. Não consigo acreditar que tem gente que fala que a Terra é plana. Gera uma estupefação. Acho até ruim falar disso, parece gozação, e sempre que você fala sobre algo propagandiza essa coisa.", diz Luiz Eugênio Mello, que assume a diretoria científica da Fapesp em 2020 (Foto: Gabriel Cabral/Folhapress)
Além de investir em pesquisa e na formação de recursos humanos, a Fapesp também tem programas de divulgação científica, como o Ciência Aberta. (Foto: Felipe Maeda/Agência Fapesp)