Os adeptos das teorias apocalípticas começam a torcer o nariz para uma aparentemente inofensiva proposta científica: diante da enorme variedade de peixes existentes, catalogá-los através do código de barras - aquele mesmo que comunica os preços das mercadorias que compramos aos leitores eletrônicos das lojas.
Atualmente existem cerca de 28 mil espécies de peixes catalogadas com nomes científicos. Mas, depois de identificar 7 mil dessas espécies com o uso da técnica de DNA barcoding - ou código de barras de DNA -, uma rede internacional de cientistas começa a suspeitar que o número total de peixes conhecidos pode ser muito maior. A aplicação da nova metodologia mostrou que muitos dos nomes científicos podem remeter a espécies distintas.
Os apocalípticos temem que os seres humanos também sejam rotulados em códigos de barras, que vinculam ao bíblico "número da besta": um número único para substituir carteiras de identidade, motorista, título de eleitor cartão de crédito etc.
A proposta de ir mais fundo na catalogação dos peixes, devido à presunção de que haja mais variedades do que se imagina e já se registrou, vem do cientista Robert Hanner, da Universidade de Guelph, no Canadá, que participou do Simpósio Internacional sobre DNA Barcoding do Programa Biota-Fapesp, em São Paulo.
Hanner coordena o projeto Fish-BOL, associado ao Projeto Internacional do Código de Barras da Vida (iBOL, na sigla em inglês), que será lançado em julho de 2010. Ambas as iniciativas são sediadas na Universidade de Guelph. De acordo com Hanner, o projeto já identificou mais de 7 mil espécies de peixes empregando a nova técnica, que utiliza um pequeno trecho do DNA como marcador para caracterizar espécies biológicas. O total das espécies registradas chega a 23% do total de espécies nomeadas pela ciência.
"Existem cerca de 28 mil espécies nomeadas e fizemos até agora o código de barras de DNA de 7 mil delas. Nesse processo, no entanto, estamos revelando novas espécies. Tanto espécies realmente novas, como algumas que eram confundidas com outras pelos métodos taxonômicos tradicionais. Isso nos leva a estimar que pode haver cerca de 40 mil espécies no total, em todo o planeta", disse Hanner.