O consumo diário de pequenas doses de própolis pode ser uma aliado na saúde de pessoas que convivem com o HIV e já realizam o tratamento padrão com remédios antivirais. É o que descobriu dois estudos brasileiros, desenvolvidos por cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu. Entre as vantagens, está a melhora do sistema imunológico e a redução da quantidade de radicais livres.
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Vale explicar que, diferente do mel, a própolis é um tipo de resina coletada pelas abelhas de diferentes partes das plantas e que será misturada com a saliva do inseto. Dentro da colméia, a substância é usada para proteger o espaço, enquanto o mel serve de alimento e é feito apenas do néctar das flores. Ambos os produtos são conhecidos por seus benefícios para a saúde. No entanto, faltavam dados que comprovassem os efeitos benéficos em pessoas que convivem com o vírus da Aids.
Os dois estudos brasileiros sobre a suplementação diária de própolis foram publicados na revista científica Biomedicine & Pharmacotherapy e contaram com apoio da Fapesp. Aqui, cabe destacar que, por pequenas doses, os autores consideram a ingestão de 0,5 g de própolis por dia.
“Apesar das pessoas que vivem com o HIV apresentarem excelente expectativa de vida com as atuais terapias, um dos problemas ainda enfrentados é a questão do envelhecimento precoce — de aproximadamente 10 a 20 anos — em comparação à população não infectada”, explica Karen Ingrid Tasca, bióloga e uma das autoras do estudo, para a Agência Fapesp.
Além disso, a cientista Tasca explica que “há uma deterioração da imunidade [imunossenescência] acelerada nessa população e o desenvolvimento precoce de comorbidades como diabetes, hipertensão e neoplasias”.
De forma geral, essas pessoas tendem a apresentar uma ativação constante do sistema imunológico e desenvolvem indicadores próximos da inflamação crônica. Essa combinação provoca o estresse oxidativo. Por sua vez, “o estresse oxidativo causado pelo vírus e pelos próprios antirretrovirais possui grande impacto nesses pacientes”, acrescenta Tasca.
Nesse contexto, alternativas que melhoram ainda mais a qualidade de vida desses pacientes são bem-vindas. Entre elas, está a suplementação diária de própolis, com propriedades — agora, comprovadas — antioxidante, antiviral e anti-inflamatória.
Por exemplo, após o consumo diário da resina das abelhas por 90 dias (três meses), 20 pacientes com HIV — todos incluídos no estudo — apresentaram uma redução significativa na concentração plasmática de malondialdeído, ou seja, em um dos marcadores de estresse oxidativo. Também foi possível medir o maior combate dos radicais livres, que podem desregular o funcionamento das células saudáveis. O mesmo não ocorreu com os indivíduos do grupo placebo (20).
Para além da questão do estresse oxidativo, o mesmo grupo de cientistas observou que o consumo de própolis reduz os níveis de inflamação do organismo de pacientes com HIV. Após a dieta, os níveis de linfócitos (T CD4+) no sangue aumentam, indicando melhoras duradouras no sistema imunológico.
“Os resultados indicam que a própolis pode ser uma alternativa para melhorar a resposta imune e reduzir a inflamação nos pacientes assintomáticos”, complementa Fernanda Lopes Conte, outra autora do estudo. Hoje, ainda não se sabe o impacto da substância em pacientes que não realizam o tratamento regular contra o HIV.
Fonte: Canaltech