Notícia

Jornal da USP

PROJETO TEMÁTICO

Publicado em 15 novembro 1998

Com quatro anos de duração, uma pesquisa liderada por professores da USP, UnB e UFMG fará amplo estudo geofísico da região do Tocantins - uma área que, há bilhões de anos, era semelhante à atual Cordilheira dos Andes A ciência tem indícios de que, há bilhões de anos, o perfil geológico da região onde hoje se situa o Estado do Tocantins era tão acidentado quanto a atual Cordilheira dos Andes, com altas montanhas, grandes depressões e freqüentes terremotos. Entender esse processo de transformação - que deverá afetar também, nos próximos bilhões de anos, as montanhas andinas - é o objetivo de um projeto de pesquisa que reúne professores da USP, da Universidade de Brasília (Unb) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Coordenado pelo professor Jesus Berrocal, do Departamento de Geofísica do Instituto Astronômico e Geofísico (IAG) da USP, o projeto recebeu o nome de Estudos geofísicos e modelo tectônico dos setores central e sudeste da Província Tocantins, Brasil Central. Iniciado em fevereiro passado, é uma das grandes pesquisas financiadas pelo Programa Projetos Temáticos da Fapesp (leia texto abaixo). Em quatro anos de trabalho, os pesquisadores receberão financiamento de R$ 350 mil. No dia 29 de outubro, Berrocal reuniu professores e alunos no IAG para analisar o andamento do projeto. Além do interesse científico, o projeto terá importantes aplicações práticas. O impacto econômico do estudo, por exemplo, será bastante significativo. A região pode concentrar depósitos de minérios - entre eles o ouro - cuja localização será possibilitada pelo trabalho dos pesquisadores. A pesquisa também definirá os parâmetros para a prospecção de áreas potencialmente mineralizadas. O projeto trará contribuições também no campo social. Graças à pesquisa, será possível avaliar os riscos sísmicos proporcionados pela construção de obras de engenharia de grande porte - como barragens hidrelétricas-, que são ao mesmo tempo perigosas para a população mas necessárias para o desenvolvimento da região. Mas não é só. Do ponto de vista acadêmico, a pesquisa geofísica sobre a região do Tocantins será uma rica fonte de informações e formação de recursos humanos. Ela renderá várias dissertações de mestrado e teses de doutorado, feitas pelos alunos da USP, UnB e UFMG engajados no trabalho. "A geologia da região já é relativamente bem conhecida", afirma o professor Jesus Berrocal, apontando vários trabalhos científicos que, desde a década de 80, estudam a área. "Mas a evolução tectônica dela ainda é controvertida. Além disso, ela apresenta um nível de sismicidade significativo e, por isso, sua dinâmica atual precisa ser melhor conhecida." MONITORAÇÃO COM GPS O projeto está dividido em vários tipos de atividades, que vão desde análises gravimétricas - capazes de fornecer a direção e intensidade do campo gravitacional da Terra - até estudos tectônicos com telessistemas e levantamentos geológicos. Outra atividade prevista no projeto é a monitoração tectônica com GPS. Desenvolvido a partir da década de 80, nos Estados Unidos - inicialmente para fins militares-, o GPS é uma moderna tecnologia de localização terrestre usada para vários fins. Em geofísica, ela permite conhecer a dinâmica das placas tectônicas, como está sendo feito em Tocantins. Ali, distribuídas por toda a região, foram instaladas 21 estações de monitoração, segundo o professor Nelsi Côgo de Sá, também do Departamento de Geofísica do IAG. A posição dessas estações, que estão encravadas na rocha, é medida por satélites em relação ao que os especialistas chamam de "ponto referencial" - o centro de massa da Terra. "Além da estação principal, instalamos outras 21 estações de segurança, para não perdermos o trabalho no caso de alguém descobrir e destruir algum dos aparelhos", afirma o professor Nelsi de Sá. O que os pesquisadores da USP vão fazer é, a cada um ou dois anos, voltar à região e verificar as deformações feitas nas estações e os deslocamentos ocorridos em relação ao "ponto referencial". Dessa forma, pode-se saber se as tectônicas estão se movimentando e em que velocidade e direção. "É uma tecnologia usada nos principais centros de pesquisa no setor de geofísica", diz o professor. "Os alunos de mestrado e doutorado que participam do projeto vão se beneficiar muito ao estar em contato com essa tecnologia." Embora o Tocantins e todo o Brasil estejam assentados sobre uma única placa tectônica, a Sul-Americana, e longe do encontro de diferentes placas - fato que explica a ausência de terremotos no País-, a região estudada pelo projeto apresenta falhas responsáveis por deslocamentos que provocam abalos. O trabalho dos pesquisadores da USP, entre outras coisas, vai ajudar a prever e analisar a intensidade desses abalos.