Notícia

Gazeta Mercantil

Projeto resgata história brasileira

Publicado em 18 agosto 1998

São Paulo deve conhecer em breve um pouco mais de sua história, da fase que vai de sua fundação até o fim do período colonial. A Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp), em conjunto com o Ministério da Cultura, lançou na sexta-feira o programa "Resgate de Documentação Histórica Referente à Capitania de São Paulo". O estudo faz parte do "Projeto Resgate de Documentação Histórica Barão do Rio Branco", firmado entre Brasil e Portugal, que permite a pesquisadores brasileiros analisar e microfilmar toda a documentação sobre o Brasil Colônia no "Arquivo Histórico Ultra Marino", em Lisboa. Em troca, estudiosos portugueses podem usar o processo de microfilmagem em documentos da Corte, expedidos durante a permanência de D. João VI no Brasil. Orçado em US$ 3 milhões, financiados pelo governo federal, governos estaduais e pela iniciativa privada, o projeto tem como um de seus objetivos facilitar o acesso de pesquisadores brasileiros a informações sobre o período em que o País esteve sob domínio da coroa portuguesa: "Esse estudo tem não apenas importância cultural, como científica e ambiental. Por meio dele podemos saber inclusive qual era o trajeto dos rios", diz Esther Caldas Bertoletti, coordenadora técnica do projeto. Para o levantamento dos documentos sobre a Capitania de São Paulo, a expectativa é de que sejam gastos cerca de US$ 300 mil. Os estudos, que na prática já começaram, devem estar concluídos até março do próximo ano. Já há oito profissionais, entre eles um coordenador acadêmico e um paleógrafo (especialista em escrita antiga), analisando cem caixas com documentos. Os registros da capitania de São Paulo, contudo, não foram os primeiros a ser garimpados pelo projeto, que teve início em 94. Até agora, já foram levantados todos ps escritos das antigas capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo. Em cada um desses casos, como prevê o projeto, a fundação doou todas as microfilmagens para os arquivos e universidades dos atuais Estados onde estavam localizadas as antigas capitanias. A Fapesp ainda lançou CD-ROM com os textos dos documentos de Minas Gerais e Espírito Santo, que já estão sendo vencidos a R$ 30,00 a unidade. Até o final do mês, a fundação deve entregar os microfilmes dos estudos sobre as capitanias de Sergipe e Bahia, com os respectivos CD-ROMs. "Eles podem ser compra3õs pelos pesquisadores que gostam de trabalhar em casa", explica Esther. Após os estudos no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, a próxima etapa do projeto prevê a garimpagem de registros da história brasileira em outros importantes centros, como a Torre do Tombo, e em arquivos de Portugal. Terminada essa fase, iniciam-se os estudos de documentos em arquivos da Espanha e Holanda, que, por curto período, instalaram-se no País durante o domínio português. O título do projeto é uma homenagem ao barão de Rio Branco, um dos responsáveis pela última demarcação de fronteiras do Brasil com os países vizinhos, ainda na última década do século passado. "Ele utilizava documentos exatamente da época colonial quando um país reclamava de terras que eram do Brasil. Ele recorria a esses papéis e provava que os portugueses haviam passado por esse determinado local", afirma Esther. "Dessa forma, ele garantiu terras para o Brasil." Esther explica que essa vontade do País em "recuperar" documentos de sua história não é recente. Ela surgiu, segundo a coordenadora técnica, logo após a independência, do Brasil, em 1822. Como exemplo, Esther cita que em 1838 foram criados o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Arquivo, já com essa finalidade.