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Roraima em Foco

Projeto que documenta o patrimônio arqueológico de Roraima é selecionado para a Iniciativa Amazônia+10 (31 notícias)

Publicado em 06 de novembro de 2024

Roraima abriga tesouros que, por vezes, permanecem ocultos no solo amazônico. Neste contexto, o Dia da Cultura e Ciência, comemorado nesta terça-feira, 5, reforça a preservação do conhecimento local por intermédio do projeto “Inventário e Documentação do Patrimônio Arqueológico de Roraima”.

Fomentado pela Faperr (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Roraima) por meio da chamada Expedições Científicas da Iniciativa Amazônia+10, o projeto visa tornar a riqueza arqueológica do estado mais acessível, revelando fragmentos da história que integram a identidade amazônica.

A conservação das raízes locais é uma das principais motivações de Ananda Machado, que enfatiza a pluralidade cultural do estado. A professora, doutora e pesquisadora conta que sua trajetória começou há cerca de 20 anos e vem sendo frutífera até mesmo na preparação de materiais para o ensino nas escolas indígenas.

“Minha trajetória como pesquisadora começa com os Guarani, lá no Rio de Janeiro, onde já havia trabalhado no Rio Grande do Sul e Espírito Santo, e foi uma experiência muito rica. Desde minha chegada em Roraima, venho trabalhando principalmente com os Wapichana e com os Macuxi, explorando essa relação dos povos com esses lugares de memória que são os sítios arqueológicos. As línguas indígenas, as histórias e as origens dos nomes somam para o ensino da língua indígena, o ensino de literatura e o ensino de história aqui no estado”, conta.

A Dra. Ananda é coordenadora geral do projeto, que conta com uma equipe formada por Edithe Pereira, arqueóloga do Museu Emílio Goeldi, no Pará, e coordenadora científica; Irmânio Sarmento, mestrando em Antropologia na UFRR (Universidade Federal de Roraima) e assessor da APITSM (Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos); Luís Augusto Veiga, da UFPR (Universidade Federal do Paraná); Jorge Macedo, da Superintendência do Patrimônio da União (SPU/RR); Ednelson Pereira; e outros colaboradores.

“Não é porque você está aqui no Norte, não é porque enfrentamos muitas dificuldades em relação às distâncias, à qualidade da internet e questões de energia. Nada disso é empecilho para conseguir aprovar um projeto ou para alcançar reconhecimento”, acrescenta.

Edithe Pereira, que é doutora em Arqueologia, trabalha no Museu Goeldi há mais de 40 anos, dedicando-se ao estudo da arte rupestre amazônica. “Sou bolsista de Produtividade do CNPq há quase 30 anos no campo da arqueologia, e foi esse aspecto da pesquisa que me trouxe a Roraima. “Atualmente, minha bolsa tem como foco recuperar e organizar o material arqueológico e a documentação proveniente da primeira pesquisa arqueológica realizada no estado, que ocorreu entre 1985 e 1987. Durante essa pesquisa, descobri a riqueza arqueológica da região, que contrasta fortemente com o desconhecimento da população não indígena sobre esse importante patrimônio. A ideia de realizar o inventário surgiu dessa constatação, pois Roraima é o único estado brasileiro onde praticamente nada se sabe sobre os sítios arqueológicos e o passado indígena relacionado a eles”, pontua.

O projeto, que está na fase de análise de recursos, ressalta a importância da cartografia do patrimônio arqueológico local para a população indígena e não indígena, visando aprofundar o conhecimento e fortalecer a construção identitária. Com o crescimento do turismo indígena, a cartografia também auxiliará comunidades interessadas em realizar turismo arqueológico, uma vez que Roraima abriga um dos maiores parques arqueológicos do Brasil, com extensas áreas de pinturas, gravuras e cerâmicas.

A elaboração e divulgação do inventário de sítios arqueológicos de Roraima representam o primeiro passo para dar visibilidade a esse patrimônio. A proposta tem como objetivo construir um inventário baseado em informações bibliográficas e expedições científicas, realizadas com a colaboração dos povos da Terra Indígena São Marcos. O resultado será divulgado por meio de um livro impresso e de um e-book, que, com o uso de story maps, alcançará um público mundial. O projeto também será promovido nas redes sociais, por jovens indígenas que farão as publicações em suas línguas nativas.