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Projeto investiga o genoma de plantas usadas na preparação do chá ayahuasca (12 notícias)

Publicado em 20 de janeiro de 2023

Embora o chá ayahuasca possa ser preparado de diversas formas, uma das mais comuns, e que é a adotada pelos grupos religiosos, envolve o uso de duas plantas.

Em um projeto apoiado pela FAPESP, cientistas de diversas universidades brasileiras trabalham no sequenciamento genético das plantas usadas no preparo do chá ayahuasca , também conhecido como vegetal ou santo daime.

No Brasil, o chá alterador de consciência é utilizado por povos indígenas e diferentes grupos religiosos. A grande diversidade de usuários explica a pluralidade de nomes pelos quais a bebida é conhecida. Entre os cientistas, padronizou-se o uso do termo ayahuasca – palavra em língua quíchua, usada pelos grupos do Peru, que significa “cipó dos mortos”.

Embora o chá ayahuasca possa ser preparado de diversas formas, uma das mais comuns, e que é a adotada pelos grupos religiosos, envolve o uso de duas espécies de planta. Segundo essa prática, o cipó Banisteriopsis caapi , também conhecido como jagube ou mariri, e a arbustiva Psychotria viridis , conhecida como chacrona ou rainha, são macerados e submetidos a um cozimento prolongado, que resulta na preparação da bebida.

Os cientistas já sabem que a alteração de consciência é causada principalmente pela ação da dimetiltriptamina (DMT), encontrada nas folhas da chacrona, e de alcaloides presentes no cipó mariri, que prolongam e potencializam o efeito da DMT. O objetivo do projeto é, pela primeira vez, obter um sequenciamento detalhado do genoma de ambas as espécies, o que abre possibilidades para a produção de conhecimento aplicado a partir da flora brasileira.

Uma vez estabelecido o perfil desse genoma, o grupo de pesquisadores quer identificar quais genes da Psychotria viridis estão associados à produção de enzimas responsáveis pelas substâncias psicoativas.

O primeiro produto do projeto foi publicado na revista PeerJ , na forma de um artigo em que os pesquisadores analisaram os genomas organelares da chacrona. Mais precisamente, os genomas da mitocôndria (organela produtora de energia) e do cloroplasto (organela envolvida na fotossíntese) presentes na célula da planta.

Também está em andamento a análise do genoma nuclear da chacrona e do mariri. Francisco Prosdocimi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do projeto, explica que, em trabalhos de genômica, os genes das organelas são os primeiros a serem montados.

O pesquisador da UFRJ conta com a colaboração de um grupo multidisciplinar que inclui neurocientistas, geneticistas, biólogos moleculares, botânicos e especialistas em sequenciamento genético. Entre eles está o pesquisador Alessandro Varani , da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal.

O trabalho compreende, em um primeiro momento, a interpretação e tratamento dos dados brutos do sequenciamento e, em um segundo momento, a análise e separação dos genes de interesse.

As amostras da chacrona e do cipó mariri sequenciadas no estudo foram coletadas em um núcleo da União do Vegetal, uma das religiões brasileiras que usa o chá e que é parceira no projeto, na floresta da Cantareira, zona norte da cidade de São Paulo. O sequenciamento foi realizado em equipamentos de última geração localizados na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.

“Os nossos próximos passos envolvem a montagem do genoma nuclear, que é o mais importante da célula porque é onde estão os cromossomos e os genes que vão codificar as enzimas que produzem a DMT, na chacrona, e os alcaloides, no mariri. Esse trabalho já está em andamento”, contou Prosdocimi à assessoria de imprensa da Unesp.

Segundo o pesquisador, um dos objetivos é encontrar as vias bioquímicas que produzem DMT, a substância psicoativa presente na chacrona. Atualmente, existe um campo emergente que estuda o uso de psicotrópicos em tratamentos de doenças mentais e o chá ayahuasca também tem sido objeto de investigação. “Entender quais genes estão funcionalmente associados à produção de DMT pode trazer contribuições para essa abordagem”, afirmou.

Fonte: Agência FAPESP