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Projeto Internet 2

Publicado em 25 setembro 2003

Por Max Alberto Gonzales - São Paulo
Estudantes da Costa Leste dos Estados Unidos assistem petrificados a um pequeno submarino vasculhar o casco de um navio naufragado nas profundezas do Mar Negro, como se estivessem dentro da embarcação. Estudantes de medicina de São Paulo, Cidade do México e Buenos Aires acompanham, ao vivo. uma cirurgia dos especialistas do Instituto do Coração (SP) como se estivessem em frente ao paciente. Algo em comum nestas cenas? É a Internet 2, a nova geração da rede mundial de computadores, que tem uso acadêmico e é milhares de vezes mais rápida que a internet que você conhece. A Internet 2 está tomando forma também em universidades latino-americanas. "A internet de hoje funciona na base do 'melhor esforço'. A Internet 2 prioriza aplicações como videoconferência e com garantia de qualidade", diz Edson Moreira, coordenador geral do Centro de Computação Eletrônica da USP. Com a ajuda de empresas, a Internet 2 começa a dar seus primeiros passos na América Latina. O interesse delas é participar de um laboratório real, que coloca em prática as novas tecnologias de rede que ainda são muito avançadas para a rede comercial. Por exemplo, a tecnologia 10 Gigabit Ethernet, que trafega dados a mais de 10 bilhões de bits por secundo. "O foco aqui é a espinha dorsal da rede (backbone)", diz Moreira. Ele refere-se às linhas de comunicação de dados que interligam os vários prédios de um campus, que por sua vez são interligados a outros nós da rede da Internet 2. E como se fosse uma grande malha rodoviária que recebesse o tráfego de várias estradas menores. "Os links principais não podem ser gargalos das vias que elas conectam", explica Moreira. É o que a USP está fazendo com a doação de US$ 150 mil em equipamentos da fabricante norte-americana Foundry Networks. A USP está instalando 18 roteadores BigIron com capacidade total de 230 Gbps para conectar 6 campi, com 585 prédios e 27 mil pomos de rede, aos nós da Internet 2 em São Paulo. Apenas o tráfego dos 600 mil e-mails diários enviados pela universidade gera 30 gigabytes de tráfego - em horários de pico a rede troca 200 Mbps com a Fapesp. um dos nós que interligam o Brasil com a Internet 2. A GigaUSP-net, como foi batizada, é um projeto avaliado em US$ 2,5 milhões nos últimos três anos. Contudo, a Internet 2 ainda é um assunto restrito a círculos acadêmicos, uma situação parecida com a gestação da internet atual - que nasceu de um projeto militar e floresceu nas universidades norte-americanas antes de ser incorporada em todo o mundo. "Ainda é uma tecnologia incipiente". diz Daniel Domeneghetti, diretor de estratégia da consultoria brasileira e-Consulting. "Apesar de ser uma necessidade, hoje é inviável. E assunto para daqui a dois anos", diz ele. A principal dificuldade é justamente o custo do investimento nas novas tecnologias que aceleram as redes, o que diminui o interesse das empresas. "Elas priorizam outras atividades, como apagar os incêndios do ERP ou problemas de segurança", diz Domeneghetti. Parte dos investimentos cabe às provedoras de telecomunicações, por exemplo, a Telefônica, que conecta a USP à Fapesp em São Paulo; ou a Global Crossing, que faz a conexão da AANSP (Advanced Academic Network of São Paulo) à Nacional Science Foundation, um dos principais nós da Internet 2, em Chicago. Segundo Alessandro Magno Matos, diretor-geral da Foundry Networks no Brasil, o mercado global de equipamentos de redes 10 Gigabit pulará dos US$ 100 milhões de 2002 para US$ 1,4 bilhão este ano, e atingirá US$ 4 bilhões em 2005. Diante desses valores, os US$ 150 mil investidos na USP parecem pouco, mas a Foundry está disposta a colocar mais dinheiro no projeto. "Se houver outras oportunidades", diz Matos. A corrida do ouro na nova rede está apenas começando.