Notícia

Gazeta Mercantil

Projeto Genoma vira série de TV

Publicado em 16 agosto 1999

Por Eduardo Geraque - de São Paulo
O sucesso do projeto Genoma - lançado em outubro de 1.997 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) - virou série de televisão. A partir das 21 horas de hoje, até sexta-feira, a TV Cultura coloca no ar cinco programas de 30 minutos cada sobre o assunto. Na série, que recebeu o título de "Genoma: Em Busca dos Sonhos da Ciência", o telespectador terá contato com as principais etapas do projeto Genoma-Fapesp, que já recebeu, desde seu início, um orçamento de US$ 35 milhões. "A minha intenção é mostrar ao telespectador o que os cientistas estão fazendo e por que estão fazendo", argumenta a jornalista Mônica Teixeira, diretora e criadora do programa que vai ao ar hoje. "O programa não é didático, porque essa palavra sempre acaba sendo sinônimo de chatice", assegura a jornalista. "Mas no fim dos cinco programas, o telespectador, acredito, terá uma boa bagagem para entender um pouco mais de biologia molecular", diz a jornalista. Segundo informa a criadora do programa - uma das maiores séries de jornalismo científico produzidas no Brasil até hoje -, serão exibidos nos cinco episódios algumas novas características da biologia molecular. "Ao todo devem aparecer uns 25 cientistas. Todos terão, em algum momento, possibilidade de falar das suas especialidades e sobre os seus sonhos em relação à ciência." A estrutura dos cinco episódios montados pela equipe da TV Cultura obedece a uma ordem que leva o espectador desde os princípios básicos das teorias e técnicas genéticas até a sua utilização no ambicioso projeto do Genoma Humano. Na segunda-feira, vai ao ar o programa "Cosmídeos Verdes". Será abordada uma introdução da biologia molecular, além do trabalho dos pesquisadores brasileiros nos laboratórios. Na terça, o "Prazer de Descobrir" vai tratar dos estudos e das descobertas já feitas pelo processo de seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa (ver boxe nesta página). A manipulação genética e toda a tecnologia empregada pela ciência para as moléculas do DNA recombinante será o assunto do terceiro programa da série. No penúltimo dia da série, a pergunta a ser respondida pelos cientistas será: O que é a vida? Como eles (os cientistas moleculares) vêem a química da vida? O fechamento da série, na sexta-feira, vai discutir o projeto Genoma Humano. Com a palavra a dupla de biólogos moleculares James Watson e Francis Crick, vencedores do prêmio Nobel de Medicina em 1962. Os dois descreveram o modelo da molécula do DNA (ácido desoxiribonucléico em inglês) e, como conseqüência, fundaram as bases da engenharia genética. É a famosa dupla hélice de Watson & Crick ensinada até hoje nas aulas de biologia no segundo grau. Maurice Wilkins também ganhou o Nobel ao lado dos dois biólogos. Para realizar essas entrevistas, a equipe da Cultura percorreu os mais importantes laboratórios de biologia molecular dos Estados Unidos (Seattle, Washington D.C., Rockville, Newton e Saint Louis). "É interessante que alguns desses cientistas hoje estão preocupados também em ganhar dinheiro. Eles são homens de negócio e fogem completamente do estereótipo que nós temos dos homens da ciência", diz Mônica. Segundo Crick - hoje ele tem 82 anos - disse em entrevista a este jornal em julho de 1998 (Caderno Fim de Semana), eles, três semanas antes da descoberta da estrutura do DNA, não tinham a menor idéia de como era essa molécula. "Na verdade, tenho tido muita sorte em meu trabalho", comentou o sempre bem-humorado pesquisador norte-americano, que trabalha na Califórnia. Para ler mais sobre a série inédita que vai ao ar a partir de hoje na TV Cultura veja a coluna do crítico Gabriel Priolli, na página 7. Bactéria Desvendada O seqüenciamento genético da bactéria Xyllela fastidiosa está 99,9% pronto. A afirmação, sem esconder uma grande ponta de orgulho, foi feita na sexta-feira por José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp, a este jornal. A bactéria que está praticamente desvendada pelos pesquisadores de São Paulo é a principal causadora da praga do amarelinho, doença que ataca os cítricos brasileiros. "Não fizemos o projeto Genoma para resolver o problema do amarelinho", afirma Perez. "Nossa intenção é muito mais ampla. Vamos ter um grande know-how na área de biologia molecular", diz. Segundo informa o diretor da Fapesp, outra grande virtude do projeto até agora foi a "garimpagem de talentos". "O livro feito pela dupla da Unicamp Phillip Green e João Carlos Setúbal sobre bioinformática está sendo usado nos EUA", diz. "A divulgação científica é fundamental. Nos Estados Unidos, o apoio da comunidade aos investimentos em ciência, segundo a revista Nature, cresceu tanto que a imprensa passou a acompanhar mais de perto as novas descobertas." (E.G.)