O estudo EPICOVID-19 BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência de Acesso Expandido, representa a fase final do projeto EPICOVID-19 BR, conduzido em 133 municípios brasileiros ao longo de 2020. Trata-se do mais abrangente estudo epidemiológico sendo feito no Brasil com relação à presente epidemia de coronavírus.
Projetado originalmente em seis etapas, o EPICOVID-19 BR tem como objetivo estimar o percentual de brasileiros infectados com o SARS-CoV-2 por idade, gênero, condição econômica, município e região geográfica; determinar o percentual de assintomáticos; avaliar sintomas e letalidade, além de oferecer subsídio para políticas públicas e medidas de isolamento social. Nas quatro fases iniciais foram testadas quase 100.000 pessoas.
Desenho do inquérito
A etapa final conta com apoio da FAPESP e é coordenada pelo Prof. Dr. Marcelo N. Burattini, da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que integra também a equipe de coordenação das etapas iniciais do estudo EPICOVID-19 BR. Essa última etapa da pesquisa, que se inicia em 25/01/2021, seguirá a mesma metodologia dos inquéritos anteriores. "O desenho básico do inquérito será mantido para permitir agregar informações aos inquéritos anteriores", explica Burattini.
Nesse sentido, serão avaliados os níveis de infecção nos mesmos 133 municípios. Cada município será dividido em 25 setores censitários, nos quais serão selecionados aleatoriamente 8 domicílios. Em cada um dos domicílios, os participantes da pesquisa, respondem a um questionário com 15 questões sobre escolaridade, cor da pele, atividade econômica e condições de saúde, e todos os moradores serão testados para a identificação de anticorpos contra o SARS-CoV-2.
O inquérito utilizará testes sorológico para identificação dos anticorpos SARS CoV-2 da classe IgG presente no soro. Esses testes permitirão aos moradores saberem se já tiveram contato com o vírus e se desenvolveram resposta de anticorpos ao mesmo, indicando proteção eventual.
Um país, várias epidemias
Os três primeiros inquéritos identificaram uma prevalência média de contágio de 3,8% no conjunto da população da amostra. Na calha do Amazonas, no entanto, a média foi de 20%. Na cidade de Breves, no Pará, por exemplo, 24,8% das pessoas testadas apresentaram anticorpos contra o SARS-CoV-2.
Entre o primeiro e o último levantamento, a prevalência da infecção dobrou na população como um todo: os percentuais passaram de 1,9% (1,7- 2,1%, pela margem de erro), na primeira etapa, para 3,1% (2,8 - 4,4%), na segunda, e alcançaram 3,8% (3,5 - 4,2%), na última etapa. Nesse mesmo intervalo, o distanciamento social (percentual de pessoas que ficam sempre em casa) caiu de 23,1% para 18,9%.
Os resultados também demonstraram que, no período coberto pelo inquérito, "várias epidemias" estavam em curso no país. Enquanto no Norte 10% da população, em média, tinha ou já havia contraído o coronavírus, no Sul esse percentual ficava em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. No caso dos indígenas, o risco de contrair a doença mostrou-se cinco vezes maior do que os brancos.
A pesquisa também estimou que aproximadamente 60% dos casos apresentaram sintomas. Metade dos entrevistados com anticorpos para a covid-19 declarou ter dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%).
O estudo EPICOVID-19 BR 2: Inquérito Nacional de Soroprevalência de Acesso Expandido representa o final do projeto EPICOVID-19 BR e é o mais importante da série de quatro fases realizada até agora.
"Mais importante porque acontece em um momento estratégico ao final do primeiro ano da Epidemia e antes do início da vacinação de massa. Também porque representará a avaliação de aproximadamente 149.280 indivíduos nos 133 municípios pré-selecionados, equivalente a acréscimo de 50% nos indivíduos testados em relação às quatro fases anteriores conjuntas", diz Burattini.