Expectativa da empresa é de que o novo imunizante esteja pronto para testes clínicos em dois anos. Projeto é financiado pela Fapesp e está na fase de prova de conceito.
Um grupo de sete pesquisadores de uma startup de Ribeirão Preto (SP) desenvolve um projeto de vacina contra a Covid-19 de uso oral. A expectativa é de que o novo candidato a imunizante esteja pronto para testes em humanos em dois anos.
Ainda no início, as pesquisas se mostraram promissoras, sobretudo no que se refere à tecnologia, custo e logística, segundo o pesquisador Ebert Hanna, dono da startup sediada no Supera Parque de Inovação, no campus da USP, que lista três vantagens:
Não é invasiva: o pesquisador diz que a vacina não precisa de outros insumos para que a pessoa seja imunizada, como seringa, por exemplo;
Fácil produção: o processo, de acordo com Hanna, é simples e pode ser feito em um fomentador, o que faz acelerar a produção em larga escala.
Oral: o imunizante atinge a mucosa respiratória por meio de um sistema de defesa criado na mucosa intestinal.
De acordo com Hanna, que também é farmacêutico e doutor em biologia molecular, para execução da primeira fase do estudo, chamada de prova de conceito, houve a liberação de R$ 120 mil por meio de um financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) com duração de nove meses.
O pesquisador ainda afirma que a startup tem conversas adiantadas com uma empresa farmacêutica de São Paulo para produção em larga escala, além de parcerias em análises com o Departamento de Farmacologia e o Centro de Virologia da USP.
"São dois laboratórios de referências nos setores que atuam. Eu também entendi que eu precisaria de um virologista, porque ele tem estrutura para estudos. Eu vou precisar usar o vírus e, para usar esse vírus, eu vou precisar de uma estrutura de biossegurança", explica.
Em gotas
Hanna conta que a ideia da criação de uma vacina contra a Covid-19 surgiu após testes positivos da startup no uso de uma tecnologia de imunização oral de potros contra uma pneumonia equina que, segundo ele, apresentou 100% de eficácia.
O objetivo, agora, é adaptar essa plataforma para o novo coronavírus e descobrir se é possível aplicar em humanos.
Segundo o pesquisador, o projeto inicial prevê que a vacina via oral seja aplicada em gotas. Ainda não se sabe, no entanto, quantidade de gotas por dose ou então se o imunizante vai ser disponibilizado em cápsulas.
“Dentro daquilo que a gente já desenvolveu, a gente precisaria de dez gotas para imunizar o indivíduo em uma dose só, mas pode ser que a gente diminua isso”, afirma.
Mucosa como alvo
A tecnologia utilizada na candidata a vacina consiste em fazer uma construção genética em uma bactéria atenuada, ou seja, cultivada in vitro, para que ela seja capaz de produzir uma proteína do coronavírus.
Quando essa bactéria entra no organismo da pessoa, ela vai colonizar no intestino, depois de ter passado pela faringe, esôfago e estômago.
No intestino, ocorre a produção das proteínas dessa bactéria e do vírus.
"Tudo isso vai ser interpretado como estranho para o organismo, que vai desenvolver resposta imunológica. A partir do momento que entra em contato real com o vírus, vai reconhecer e responder. Aí não vai deixar que o vírus cause prejuízo", explica o pesquisador.
Hanna ainda afirma que isso ocorre porque as células do intestino são imunitárias, assim como as encontradas no sistema respiratório, que é por onde o coronavírus entra no organismo.
"É justamente pelo paralelo de mucosa. Não é a mucosa respiratória que ele vai atingir, mas é uma mucosa digestória que possui células de resposta imunitária em um circuito muito similar à respiratória.
Fases de produção de vacinas
Até uma vacina chegar, de fato, ao organismo da população, diversas etapas do estudo precisam ser cumpridas pelos desenvolvedores.
O primeiro passo é um levantamento do tipo de vacina que pode ser feita. É justamente nessa etapa em que o projeto da startup de Ribeirão Preto está.
Depois, iniciam-se os testes pré-clínicos, realizados em animais ou in vitro. O objetivo é demonstrar a segurança do imunizante.
Por fim, caso as outras fases tenham resultados positivos, a desenvolvedora dá início aos testes em humanos, divididos em quatro fases:
Fase 1: feita em grupo restrito de seres humanos, para verificar a segurança da vacina nestes organismos
Fase 2: o grupo é ampliado e procura-se estabelecer qual a resposta imunológica do organismo (imunogenicidade)
Fase 3: última fase de estudo, com testes aplicados em centenas e milhares de pessoas, para obter o registro sanitário
Fase 4: distribuição para a população