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Projeto de inclusão digital da Embrapa chega ao sertão da Bahia (31 notícias)

Publicado em 03 de junho de 2024

Abril marcou a chegada à caatinga da equipe interinstitucional do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura Digital (Semear Digital), liderado pela Embrapa Agricultura Digital e com financiamento da Fapesp. O único bioma exclusivamente brasileiro estará representado no projeto por Boa Vista do Tupim/BA, destacado como Distrito Agrotecnológico (DAT), que é o ambiente de produção em que as ações do projeto começam a ser realizadas.

O município baiano tem quase 17 mil habitantes e abriga mais de 2.500 propriedades agropecuárias, que vivenciam o desafio de produzir no semiárido nordestino. Produtores e produtoras lidam com dificuldades como a escassez de recursos hídricos somada às formações rochosas e solos rasos característicos da região. Disponíveis em boa parte das propriedades, as cisternas têm sido insuficientes diante dos impactos das mudanças climáticas.

A conectividade na região é feita via rádio ou fibra ótica, que atendem as residências, chegando também aos equipamentos públicos instalados nas agrovilas dos assentamentos. A estrutura atual deve viabilizar as capacitações iniciais do projeto, apesar de o sinal não alcançar localidades mais remotas, onde estão instalados os cultivos.

“A chegada do Semear Digital nos causa muita esperança, ter uma equipe capacitada para nos ajudar a trilhar novos caminhos. São muitos anos produzindo os produtos da agricultura familiar sem conquistar o mercado comercial”, diz Rutileia Rodrigues, que integra a associação local Dona Menina do Agro e lidera a empresa Fufucas do Licuri.

Cenário Levantamento feito pela equipe técnica nas propriedades visitadas explicam o cenário apontado pela agricultora. Individualmente, as áreas disponíveis para explorações agrícolas somam menos de 0,5 hectares, “o que associado à devastadora limitação hídrica, posiciona os agricultores familiares em condição de precariedade absoluta. As políticas públicas de cunho social são complementos essenciais”, avalia Celso Vegro, do Instituto de Economia Agrícola (IEA), parceiro do Semear Digital.

As pastagens para criação de gado bovino, ovino e pequenos animais formam a maior extensão cultivada. Pequena parcela é destinada à fruticultura e cultivo de hortaliças, sendo poucas as áreas irrigadas, realizadas com ferramentas manuais, resultando em baixa produtividade e rendimentos. “Ainda assim, quem utiliza a irrigação obtém renda mais de cinquenta vezes maior do que os agricultores de sequeiro”, continua Vegro.

A apicultura surge como oportunidade onde falta oferta de água, destaca a pesquisadora da Embrapa Agricultura Digital, Luciana Romani. A coordenadora de parcerias do projeto cita ainda a atividade baseada no extrativismo do licuri, produto usado na ração dos animais e é matéria-prima para produção de artesanato, biscoitos e doces.

Segundo Romani, o gado leiteiro é produzido pelas famílias para consumo próprio e venda de excedente em feiras. Também a criação de aves poedeiras está sendo planejada por produtores para complemento de renda, assim como a criação de peixes, cujo potencial está em avaliação junto a instituições da região.

Alternativas Apesar das condições desafiadoras observadas, a equipe do Semear Digital avalia que o setor produtivo local mostra capacidade de planejamento, favorecendo a adoção de aplicativos voltados à agricultura 4.0. “Num primeiro momento conhecemos as demandas e os desafios para as próximas etapas. Estão previstas capacitações e intervenções em propriedades rurais selecionadas”, diz o pesquisador Luciano Mendes - ponto focal do DAT pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).

A visita a propriedades rurais revelou, por exemplo, que produtores de milho seguem utilizando plantas e tecnologias inadequadas às condições do semiárido. Desse modo, as plantas poupadoras de recursos hídricos - como o sorgo ao invés do milho -, os manejos visando à retenção da água no solo, açudes subterrâneos, são possibilidades a serem exploradas no aumento da produtividade e da qualidade de vida, indica o pesquisador Celso Vegro.

A fruticultura e, com alguns cuidados, a formação de pastagens podem driblar limitações à exploração agropecuária representadas pelo solo da região semiárida, diz o especialista. Já o analista de transferência de tecnologia Ildos Parizotto, da Embrapa Mandioca e Fruticultura, avalia que capacitações relacionadas aos temas uso da irrigação e plantio de mandioca de mesa podem fortalecer a sustentabilidade das famílias de agricultores.

“O uso de motobomba elétrica, foi relatado por líderes das associações como muito dispendioso, e há necessidade de uma fonte de energia mais barata. Assim sendo, a capacitação no uso mais racional da água na irrigação auxiliará nos cultivos irrigados”, completa Parizotto.