Proposta parte do coletivo e espera garantir a longevidade da plataforma colaborativa Arquigrafia da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da USP; outra ação realizada pela equipe é a remodelagem de seu site por meio de sessões de codesign
Pensar coletivamente um futuro digital sustentável e o aprimoramento das funcionalidades de uma plataforma colaborativa que acolhe mais de 14.000 imagens de edifícios e espaços urbanos do Brasil e de países de língua portuguesa. Foi com isso em mente que a equipe do Arquigrafia, projeto temático , apoiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP),
realizou, recentemente, um workshop de sustentabilidade sociotécnica e uma série de sessões de codesign.
As atividades reuniram diferentes participantes, de dentro e de fora da equipe, como pesquisadores, bolsistas e usuários, para discutir alternativas que assegurem a atualização técnica, a preservação dos dados e a manutenção da plataforma colaborativa mesmo em um eventual momento de transição entre financiamentos de agências de fomento.
A realização do workshop de sustentabilidade sociotécnica, segundo Martim Passos, bolsista de treinamento técnico nível V (TT-V) do Arquigrafia que tomou a iniciativa de realização do evento, foi inspirada pelo o que é feito no laboratório de mídias visuais da Universidade de Pittsburgh.
Esse workshop é uma etapa fundamental no planejamento de médio e longo prazos da plataforma colaborativa atual e de suas futuras versões. Isso porque, de acordo com ele, a atividade permitiu alinhar a equipe em relação ao escopo do projeto, definir prioridades e traçar um plano de ação para viabilizar seus objetivos intelectuais e técnicos, considerando as tecnologias adotadas, as responsabilidades de cada um de seus membros e as necessidades dos usuários.
Além disso, “o workshop nos proporcionou um entendimento mais claro sobre quais componentes do projeto são essenciais e como viabilizá-los de forma sustentável, garantindo sua continuidade ao longo do tempo”, destaca Passos.
Workshop de sustentabilidade sociotécnica – Foto: Acervo Arquigrafia
Para uma preservação duradoura no ambiente digital
De acordo com o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design (FAU) e coordenador do projeto, a importância de a equipe traçar um plano de sustentabilidade sociotécnica durante o workshop relaciona-se à preocupação com a preservação da plataforma colaborativa, com a sua continuidade e suas perspectivas de desenvolvimento.
Isso diz respeito a um planejamento que envolve o reconhecimento das dificuldades relativas à manutenção de projetos web seguirem ativos, mesmo em momentos de transição entre financiamentos.
“Então, ao final do projeto temático, como fica o projeto Arquigrafia em termos técnicos para sua manutenção?”, questiona. “Ele ficará na nuvem USP com apoio técnico eventual de ex-bolsistas, que serão acionados voluntariamente para fazerem uma manutenção pontual? Ou o projeto será, digamos, acolhido e abrigado em alguma instância da USP e essa manutenção será feita pela própria universidade, pelos seus quadros técnicos?”
Segundo Rozestraten, “a nossa grande questão é: como artefatos, como o Arquigrafia e outros que a universidade desenvolve, se mantêm ativos, em condição de uso e com uma possibilidade de desenvolvimento e adequação às novas tecnologias, na medida em que eles não contam com apoio financeiro externo, como é o nosso caso agora com a FAPESP”.
Martim Passos lembra que o que ocorre frequentemente é que, ao término do financiamento, os projetos ficam sem manutenção ou atualização, limitando seu alcance junto aos usuários, acumulando erros, bugs e, eventualmente, saindo do ar. Somado a isso, a gestão de bolsistas é um desafio adicional, já que a equipe se renova periodicamente, gerando alta rotatividade.
“Isso dificulta a manutenção de um fluxo de desenvolvimento consistente e cria uma situação de ‘palimpsesto' [o software é constantemente reescrito, sem avanço linear]. A ausência de uma figura de gestor técnico contínuo, que domine o projeto em profundidade e que possa transmitir esse conhecimento, também agrava essa fragilidade”.
Para a elaboração do plano de sustentabilidade sociotécnica do Arquigrafia, algo essencial foi o trabalho colaborativo realizado. “Os membros da equipe participaram diretamente das atividades de tomada de decisão relacionadas ao futuro sustentável da plataforma, o que aprimorou seu senso de pertencimento, de valorização, de respeito e de reconhecimento. Isso, por sua vez, fortaleceu a confiança, considerada o núcleo de uma colaboração bem-sucedida, entre a equipe de desenvolvimento e os pesquisadores principais do projeto”, explica Sayed Samimi, bolsista TT-V e um dos participantes do workshop.
Outro ponto destacado por Samimi é que o trabalho colaborativo serviu como um método de ensino baseado na interação em grupo. “Ao longo do processo, os membros da equipe estiveram em constante aprendizado, o que melhorou tanto o desempenho individual quanto as interações dentro da equipe, durante e após o desenvolvimento do plano [de sustentabilidade sociotécnica]”.
Um aprimoramento a partir da colaboração do coletivo
Já as sessões de codesign, segundo afirma Ana Carolina Ribeiro, bolsista TT-IV A do Arquigrafia e responsável pela condução do evento, foram atividades que fizeram parte do processo de desenvolvimento da nova plataforma Arquigrafia 4.0 a ser implementada nos próximos meses. “Tínhamos por objetivo apresentar e validar as novas telas e mecânicas do site com a comunidade que usa a plataforma”. Isso incluiu os estudantes, os pesquisadores e os professores envolvidos com o projeto e os usuários da plataforma colaborativa.
“Além disso, sessões como essas ajudam a orientar o que é mais importante e interessante para o projeto. Muitas vezes a equipe de desenvolvimento não é capaz de enxergar ideias equivocadas ou erros porque está muito imersa no projeto. Mas quando apresentamos os resultados e os discutimos com pessoas de fora da equipe, mas que também usam e se interessam pela plataforma, podemos ter uma visão mais rica de como deve ser o resultado”, pontua.
Uma das sessões de codesign – Foto: Acervo Arquigrafia
O coordenador da equipe de desenvolvimento do Arquigrafia e bolsista TT-V Henrique Junges conta que “desde o começo do envolvimento dos bolsistas da atual equipe de desenvolvimento, existe a ideia de que a gente precisa fazer um site que realmente atenda às necessidades das pessoas que têm interesse e que participam desse projeto e que utilizam a plataforma”. Por isso, tais eventos não são internos à equipe do projeto.
Um dos participantes das sessões de codesign foi Gustavo Ribeiro, ex-bolsista de iniciação científica do Arquigrafia. Para ele, cada participante pôde contribuir para gerar um repositório de ideias, que “mesmo que não seja utilizado naquele momento, para aquela solução, o designer, no futuro, pode estar sempre voltando, checando e aprendendo coisas novas”.
De fato, segundo Ribeiro, cada sessão de codesign gerou uma série de sugestões e novas ideias que foram incorporadas ao backlog do projeto, ou seja, uma lista de funcionalidades e correções que devem ser implementadas no novo sistema.
Agora, a equipe de desenvolvimento tem trabalhado para refinar o protótipo com base no que foi discutido nessas sessões. “Ainda temos muito chão pela frente, mas, com certeza, as sessões nos ajudaram a trazer uma visão mais abrangente e refinada, fruto de um esforço colaborativo. Colheremos esses resultados um pouco mais adiante, quando a nova plataforma for publicada e estiver aberta para o público”, observa Ana Carolina Ribeiro.
Para saber o que tem sido feito pela equipe do Arquigrafia, acesse o Instagram neste link
Bolsista JC-IV junto ao Projeto Temático FAPESP Experiência Arquigrafia 4.0 e pesquisadora colaboradora da FAU
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