Projeto Vegetando, criado pelo Laboratório de Sistemática de Plantas da USP de Ribeirão Preto, busca aproximar a sociedade da biodiversidade, oferecendo experiências educativas e científicas por meio
Para aproximar a sociedade do universo botânico, o Laboratório de Sistemática de Plantas do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP criou o Projeto Vegetando. “O nome é uma alusão à ideia de vivenciar, observar e refletir sobre a vida das plantas, saindo da impercepção botânica e despertando um novo olhar para a biodiversidade”, conta o coordenador do Laboratório, professor Milton Groppo.
O projeto Vegetando engloba três pilares principais: o Jardim da Botânica do Departamento de Biologia, espaço de educação e pesquisa ao ar livre; o Herbário do Departamento de Biologia (Herbário SPFR), um acervo de quase 20 mil amostras vegetais, chamadas exsicatas – amostras de plantas prensadas e secas – estão preservadas e catalogadas; e as visitas guiadas, que conectam alunos e público geral ao conhecimento científico.
Refúgio verde para a educação e a pesquisa Espalhado por aproximadamente quatro mil metros quadrados, o Jardim da Botânica é um mosaico de cores, formas e texturas. Seus espaços incluem estufas, canteiros temáticos, mesa de suculentas e até um tanque para plantas aquáticas. “Mais do que um ambiente exuberante, o Jardim é um laboratório a céu aberto, onde estudantes, professores e visitantes podem explorar, tocar e conhecer a diversidade vegetal”, conta o professor. O espaço também conta com caixas de nove espécies de abelhas nativas sem ferrão (meliponídeos), todas catalogadas e fotografadas e podem ser consultadas neste link.
O projeto teve início de forma espontânea. Inicialmente, recebia apenas alunos da USP para atividades acadêmicas, mas, com o tempo, escolas e grupos externos começaram a demonstrar interesse. “Sempre tinha alguém de fora que queria visitar, então começamos a receber escolas e oficializamos o projeto como uma atividade de extensão”.
As visitas, guiadas por monitores, despertam um olhar atento sobre as plantas. O professor destaca que a iniciativa combate um fenômeno chamado impercepção botânica – antes denominado cegueira botânica. “As pessoas veem tudo verde e não conseguem individualizar as plantas, não prestam atenção nelas, apenas nas flores e olhe lá”, destaca Groppo. “Nosso objetivo é mostrar a importância das plantas para a biodiversidade e para a própria existência humana”.
Em 2024, cerca de 450 visitantes, entre estudantes de diferentes idades interessados em bôtanica, passaram pelo Jardim e pelo Herbário. Muitos deles chegam ao projeto por meio do “boca a boca”, levados por professores que foram alunos da USP. Além disso, eventos como a Feira de Profissões da USP e a Semana da Biologia ampliam o alcance do projeto.
No jardim, diz o professor, o aprendizado acontece pelos sentidos. “Tocar as plantas, sentir suas texturas, cheirá-las… Isso tudo faz parte da experiência”, e acrescenta: “O contato direto permite que os visitantes vivenciem a botânica de maneira concreta, despertando o encantamento pelo mundo vegetal”.
Arquivo vivo da biodiversidade Se o jardim é um espaço de vivência, o Herbário SPFR (sigla do Herbário da USP Ribeirão Preto, registrada no Index Herbariorum, um catálogo global de coleções botânicas mantido pelo New York Botanical Garden) é um tesouro científico, onde quase 20 mil histórias vegetais estão preservadas. Em armários climatizados, as exsicatas guardam a memória botânica de diversas regiões do Brasil e do mundo.
O professor Groppo, coordenador e curador do Herbário SPFR, lembra que cada amostra é muito mais do que uma folha seca colada em um papel. “Trata-se de um registro científico, contendo informações detalhadas sobre onde e quando a planta foi coletada, quem a identificou e quais eram suas características no momento da coleta. Groppo fala com entusiasmo de um exemplo desse tesouro: “Trocamos material com o Jardim Botânico de São Paulo e recebemos uma coleta de 123 anos, feita em 1902, em uma área que hoje corresponde à cidade de São Bernardo do Campo. Agora, essa amostra está preservada aqui e vai durar para sempre se bem conservada”.
O processo de preservação das exsicatas é minucioso. Durante uma expedição, os botânicos coletam ramos férteis – com flores ou frutos – e registram suas características. “No laboratório, as amostras são cuidadosamente prensadas entre folhas de jornal, secas em estufa e posteriormente montadas em cartolinas brancas. Cada planta recebe uma etiqueta com todas as informações de sua origem e, em seguida, é arquivada em ordem alfabética por família, gênero e espécie”, conta a doutoranda Laura Fernandes Afonso, uma das pesquisadoras envolvidas no processo.
Além do acervo físico, o herbário vem passando por um intenso processo de informatização desde 2015, atualmente conduzido pela bióloga do laboratório, Heloisa Midori Maeoka. As amostras são fotografadas e inseridas no banco de dados on-line speciesLink, permitindo que pesquisadores de qualquer lugar do mundo tenham acesso às informações. Até agora, 16.073 das 19.650 plantas catalogadas já estão informatizadas, sendo 8.304 delas com imagens disponíveis. “Os herbários são fundamentais para a ciência, pois possibilitam estudos sobre biodiversidade, evolução, conservação e até mudanças climáticas”, explica Groppo. Além disso, são espaços de intercâmbio científico: “Plantas podem ser compartilhadas com herbários nacionais e internacionais, contribuindo para pesquisas botânicas em escala global”, finaliza.
O projeto tem financiamento da FAPESP, CNPq, Capes, do Programa Unificado de Bolsas (PUB) da USP, do INCT Herbário Virtual da Flora e dos Fungos, da International Association for Plant Taxonomy (IAPT) e Banco Santander. Além do professor Groppo, e das biólogas Laura e Heloisa, participam do projeto: os biólogos José Ricardo Barosela, Sidnei Mateus, Éllen da Silva Garcia e os estudantes Luiza Esmeraldo Seccani, André Davanso Fabro, e Carlos Vinícius Santos Caires, como voluntários. Alexsandra Beatriz Pinheiro, Gabriela Sakata Luiz, Fernanda Gonçalves Mistrin e Letícia de Oliveira Silva já foram bolsistas PUB no projeto e a bióloga Cintia Erbert foi responsável pela implementação da digitalização.
Os interessados em saber mais sobre o projeto Jardim da Botânica clique neste link, sobre o herbário basta acessar o perfil no Instagram @herbario_spfr ou pelo e-mail: herbariospfr@usp.br.
*Informações do Jornal USP Ribeirão Preto.
Foto: Divulgação/FFCLRP USP