Mais uma equipe de pesquisadores do campus da USP de Ribeirão Preto está incluída no projeto "Biota" da Fapesp, que vai desvendar a biodiversidade do Estado de São Paulo.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) lançou em março deste ano o Projeto Biota que pretende mapear e analisar os inúmeros aspectos da biodiversidade do Estado. Para isso, está sendo formado um amplo banco de dados que estará disponível na Internet.
A palavra biota vem do grego e significa "o conjunto de toda a flora e fauna de uma região". O objetivo do programa é sistematizar informações que permitam a criação de políticas públicas de conservação e uso sustentável dos recursos naturais.
Novos docentes da Faculdade de Filosofia. Ciências e Letras de Ribeirão Preto, da USP, integram-se ao Biota. Já foi aprovado e encontra-se em fase final de acertos burocráticos o projeto "Levantamento da fauna e aspectos da biologia de macro invertebrados de água doce dos principais mananciais do Estado de São Paulo, com ênfase aos bivalves, insecta (Plecoptera, Trichoptera e Diptera) e Crustácea (Decapoda)".
Coordenam o projeto os professores Cláudio Froelich, na área de insetos aquáticos, Wagner Avelar, que analisará os moluscos, ambos do Departamento de Biologia da FFCLRP e ainda Sérgio Siqueira Bueno, do Instituto de Biologia (IB-USP) que fará o levantamento dos Crustáceos.
Participarão, ainda, vários pós-graduandos e docentes como Luís Ricardo Lopes de Simone, do Museu de Zoologia da USP, Wagner Cotroni Valenti, da Unesp de Jaboticabal, e Célio Magalhães, do Inpa. Do exterior virão Ralph Holzenthal, da Universidade de Minnesota, EUA, e Eduardo Dominguez, do Instituto Miguel Lillo, da Argentina.
O Biota tem previsão para ser desenvolvido em quatro anos. Para a equipe dos Invertebrados de Água Doce serão destinados cerca de 900 mil reais. A verba será utilizada principalmente para os trabalhos de campo. A principal aquisição da equipe na fase inicial será um veículo (caminhonete) para ajudar na coleta de campo.
Disponíveis na Internet
Os resultados, conforme o levantamento for sendo realizado, serão colocados na Internet. A primeira parte, uma coleção de livros intitulada "Biodiversidade do Estado de São Paulo: Síntese do Conhecimento ao Final do século XX", foi editada e lançada em papel e está também no site da Fapesp: (www.bdt.org.br/bdt/biotasp/livros). Ali podem ser encontrados sete títulos: Microorganismos e Vírus, Fungos Macroscópicos e Plantas, Invertebrados Marinhos, Invertebrados de Água Doce, Invertebrados Terrestres, Vertebrados e Infra-estrutura de Conservação in situ e ex situ Insetos"..
Cláudio Froelich, especialista em ecologia, explica que na área de invertebrados "ainda estamos muito atrasados nos estudos de reconhecimento das espécies". Na área de insetos aquáticos ele explica que os de importância médica, que transmitem doenças, como pernilongos, borrachudos e o mosquito palha, estão bem estudados. Os demais foram esquecidos, embora tenham grande impacto para a ecologia. Mostrando a importância deste conhecimento o professor cita que métodos modernos têm utilizado a fauna de insetos como indicador da qualidade de água. "Ao invés de uma série de exames de análise química, que mostram apenas a evidência de elementos da água em um determinado instante, a presença de algumas espécies - que só sobrevivem em água pura - pode detectar melhor e com maior facilidade a poluição", exemplifica.
Guias de campos e vídeos
A base principal para coleta dos insetos será o Parque Estadual Intervales, próximo do município de Capão Bonito, mas também serão investigadas áreas da Serra do Mar, da Mantiqueira e vários pontos do interior do Estado. A estratégia é avaliar inicialmente os rios mais limpos e depois compará-los aos mais degradados.
O professor Wagner Avelar explica que na área de Moluscos do Projeto Biota, os exemplares serão coletados em rios maiores. Assim como no caso dos insetos, as espécies de moluscos que transmitem doenças são bastante estudadas. Avelar conta que, mesmo as outras espécies também já receberam atenção especial, mas de pesquisadores estrangeiros, que inclusive levaram os exemplares coletados. Assim existe pouco material para estudo no País. No entanto, com os relatos do passado, que estão distribuídos por vários museus do mundo, será possível verificar a degradação e as modificações ao longo dos anos.
As bacias selecionadas pela equipe de Avelar para coleta são as dos rios Tietê, Moji, Pardo, Sapucaí, Grande, Paranapanema, do Peixe, Ribeira e Parnaíba. O professor esclarece que o estudo de moluscos apresenta uma dificuldade extra. Em geral estas espécies têm uma fase larvária que vive como parasita de peixes.
Assim como no caso dos insetos, os moluscos vêm sendo utilizados como indicadores biológicos na análise da presença de metais pesados e pesticidas clorados como o DDT.
Crustáceos desconhecidos
Entre as espécies mais populares de moluscos do Estado estão os caramujos, lesmas e conchas.
Na área de crustáceos serão investigadas as espécies que vivem no fundo dos rios e são esperados exemplares desconhecidos. Também será feita uma avaliação das espécies grandes, utilizadas na alimentação humana, como o camarão de água doce, conhecido como pitu. A idéia é realizar um aproveitamento econômico facilitando as criações em viveiros. É nesta parte que entra a equipe de "aqüicultura" da Unesp de Jaboticabal.
Atualmente as criações de camarões de água doce em cativeiros são realizadas com espécies importadas.
Além do conhecimento que será gerado pela coleta de dados, o projeto dos Invertebrados de Água Doce prevê alguns "produtos", como a "consolidação da infra-estrutura de coleções e acervos do museu de Zoologia da USP".
Avelar acrescenta que parte dos exemplares coletados servirá para a criação de um museu na USP de Ribeirão Preto. Também serão confeccionados catálogos taxonômicos para saber a que grupo pertence uma espécie, o que servirá para difundir os conhecimentos adquiridos entre estudantes de todas as idades e graus. E ainda um guia de campo com "chaves" de identificação e produção de vídeos relacionados aos temas pesquisados e o estudo da fisiologia e biologia populacional de alguns grupos estudados.
Outras informações do projeto com os professores Avelar e Froelich no Departamento de Biologia da FFCLRP. O telefone é (016)602.3666.
Notícia
Jornal da USP