O radiotelescópio está em construção no município de Aguiar, no Sertão da Paraíba
Os governos do Brasil e da China declararam oficialmente apoio ao desenvolvimento do Radiotelescópio BINGO. A afirmação consta na “Declaração Conjunta entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China sobre o Aprofundamento da Parceria Estratégica Global” (Item 33), acordada entre os presidentes Luís Inácio Lula da Silva, do Brasil, e Xi Jinping, da China, durante a visita do presidente brasileiro à China realizada em abril.
O BINGO é uma colaboração científica internacional para a construção de radiotelescópio projetado para gerar informações que possibilitem “estudar o conteúdo material do Universo (sua parte escura), construir novas tecnologias, tecnologias (no estado da arte) de sensoriamento celeste e atmosférico, promover a cultura e a educação científicas, promover o desenvolvimento local através de investimentos em educação e até mesmo de turismo científico, metas novas no Brasil, mas de enorme alcance desenvolvimentista do país e da economia em geral”, como explica o coordenador Geral do Projeto BINGO Élcio Abdalla.
O aval de ambos os governos tem o potencial de fomentar mais investimentos ao projeto. O radiotelescópio BINGO está em construção no município de Aguiar, no Sertão da Paraíba, Brasil. O acrônimo de BINGO, Baryon acoustic oscillations from Integrated Neutral Gas Observations explica a sua função principal: o estudo de eventos astronômicos através da detecção de oscilações acústicas de bárions, em determinada localidade espacial.
A colaboração internacional reúne mais de 100 pesquisadores da Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos, além da China e Brasil. Revela pioneirismos como sendo o único equipamento no mundo a fazer leitura das ondas acústicas de bárion no universo, dentro da frequência estipulada. Usará tecnologia de ponta como a nova geração de radares. Além disso, é o único projeto científico internacional com a presença majoritária de cientistas brasileiros na governança do projeto, sendo seis brasileiros e um pesquisador chinês.
Os investimentos ao BINGO contaram com o Governo do Estado da Paraíba, que transferiu ao projeto BINGO, por meio da Fundação de Apoio à Pesquisa da Paraíba, recursos da ordem de mais de R$ 13 milhões. O projeto conta ainda com recursos financeiros do Governo de São Paulo, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, com investimentos de mais de R$ 14 milhões, do Governo Federal (MCTI/Finep), e da China, por meio da Yangzhou University.
O Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Ensino Superior da Paraíba, Claudio Furtado, salienta que o governador João Azevêdo destaca a importância e apoia os trabalhos, especialmente pela interiorização da ciência na Paraíba. Furtado explica que o BINGO se coloca como um projeto de grandes equipes internacionais. Está sendo instalado na Serra do Urubu, em Aguiar, em função de condições físicas da região: baixa incidência de microondas em determinada faixa, o que não atrapalhará a percepção do radiotelescópio. O equipamento terá o tamanho em torno de um estádio de futebol.
“O Bingo enxerga uma luz que não vemos, as ondas de rádio. Pretende observar fenômenos em um universo mais jovem. Apenas em torno de 5% é matéria visível, grande parte é energia escura e matéria escura. Essa será uma forma de tentar entender como se comporta essa energia escura”, ressalta Claudio Furtado.
O Secretário Estadual aborda também o desenvolvimento de tecnologias como antenas receptoras, sensores para microondas, tratamento de dados computacionais. “Cada antena, modelo corneta, tem cerca de uma tonelada, serão um conjunto de 20, desenvolvidas totalmente no Brasil. Dominar tecnologia de ponta de antenas e sensores é importante, por exemplo, para o desenvolvimento de telecomunicação e radares. Portanto, o projeto trará respostas em paralelo, em outros setores”.
Propostas de cooperação entre projetos de tecnologia espacial obtém consenso
O Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, realizou uma visita de Estado à China, entre os dias 12 e 15 de abril a convite do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping. Durante a visita, os dois chefes de Estado intercambiaram percepções sobre as relações sino-brasileiras em todas as áreas de cooperação bilateral, bem como sobre temas internacionais e regionais de interesse comum, chegando a amplos consensos.
“Os governos de ambos os países têm visto com excelentes olhos esses esforços para um projeto da magnitude do radiotelescópio BINGO, que tem as características de realizar ciência de ponta, colaborações internacionais, interiorização da tecnologia e da educação científica, promoção da ciência. É um projeto que tem o rosto do fazer científico do século XXI unindo tecnologia e desenvolvimento social e educacional,” afirma um dos coordenadores regionais do projeto, Amílcar Rabelo, da Universidade Federal de Campina Grande.
O reconhecimento ao mérito científico na área pesquisa básica do projeto Bingo no Brasil foi intensificado depois de esforços que pesquisadores e apoiadores promoveram através de uma série de explanações em instituições de pesquisa e órgãos do Governo Federal. Foram apresentadas as atividades que o projeto já desenvolve e as perspectivas de pesquisas futuras.
Dentre os esforços para apresentar o projeto BINGO no Brasil os pesquisadores visitaram desde o início deste ano o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e a Associação Espacial Brasileira (AEB), responsável por formular, coordenar e executar a Política Espacial Brasileira. Após conhecer o projeto BINGO, o presidente da AEB Carlos Augusto Teixeira de Moura, teve a oportunidade de realizar reunião sobre o radiotelescópio BINGO com entidades chinesas participantes do Projeto em Xangai.
Na reunião os integrantes do projeto Bingo na China ressaltaram o objetivo científico principal do Bingo, “o estudo da expansão acelerada do Universo, de sua parte escura e das maiores fontes de energia do Universo, as Rajadas Rápidas de Rádio”. “O BINGO é resultado de cooperação científica entre instituições acadêmicas brasileiras, chinesas e de outros países (tais como Coreia do Sul, Suíça e Reino Unido)”, além da “capacidade de atrair e engajar novos talentos em pesquisa científica”.
“Os participantes concordaram que o BINGO é relevante iniciativa para impulsionar maior intercâmbio de cientistas e reforçar a cooperação científica sino-brasileira de longo prazo”, relata documento do Ministério das Relações Exteriores.
Origem do universo continua como um mistério para os cientistas
A origem e evolução do universo, bem como a decodificação da energia escura, ainda um mistério para os cientistas, é um desafio para o coordenador Geral do Projeto BINGO Élcio Abdalla:
“Lembremo-nos que o século XX foi o século americano. Em 1943, Henry Luce escreveu um artigo na Revista Life em que dizia que seria o século americano através de grandes projetos no mundo dos negócios e de grandes projetos científicos. Assim o foi. A ciência alavancou, mais uma vez, o desenvolvimento, a era dos computadores e da internet levou a nação americana a alturas antes não previstas.
Os grandes projetos americanos de pesquisa científica levaram a novos patamares. Hoje a Mecânica Quântica, Teoria aparentemente longe do alcance do cidadão comum, é responsável por grande parte da economia americana, veja-se, apenas um exemplo, o Vale do Silício e a indústria de semicondutores. Outra consequência direta da pesquisa científica, a internet, levou a empresas trilionárias, como a Google.
O Brasil há de ser um polo de ciência no século XXI. Para isto estamos propondo nosso projeto BINGO, acima, um olhar para o futuro através do escrutínio dos céus. O projeto é hoje uma realidade, sua pedra fundamental já está colocada, e as primeiras luzes científicas já estão nas prateleiras das revistas científicas, com observações previstas para o início de 2024.
A China, sempre com uma visão primeira de futuro, já apoia o projeto, e prevê grandes desenvolvimentos que vão se efetivar através das Agências Espaciais, com o acordo assinado entre os governos brasileiro e chinês. A assinatura da proposta conjunta pelos presidentes Lula e Xi representa enorme avanço nesta proposta científica, técnica e educacional. Prevemos que o projeto seja agora alavancado a enormes alturas através do esforço comum de cientistas de ambos os países. O projeto já conta com uma centena de cientistas brasileiros e chineses, com estudos detalhados do projeto e de suas consequências.
Gostaríamos, como foi feito no século XX nos Estados Unidos da América, de ter a participação maciça dos brasileiros nesta empreitada, que, sendo um projeto de qualidade, evidenciará um retorno imenso, necessitando também do esforço de muitos brasileiros.
Sugerimos também a participação direta de mais brasileiros neste projeto. Certamente não menos importantes serão as tecnologias advindas do BINGO, em setores de sensoriamento, em eletrônica, ciência espacial, estatística (inclusive com aplicação em economia e ciência de dados) e outras questões de relevância.”
Projeto Radiotelescópio BINGO – É um esforço científico internacional para a construção de radiotelescópio projetado para fazer a detecção de Oscilações Acústicas de Bárions, que são ondas geradas pela interação dos átomos com a radiação no inicio do Universo, e que podem ser observadas na faixa de radiofrequência. Atualmente, o projeto conta com parceria de universidades chinesas e com o Research Institute of China Electronics Technology Group Corporation, para a fabricação de equipamentos integrantes do radiotelescópio BINGO (como dos refletores e torres, entre outros) e transferência de tecnologia. Está em construção no município de Aguiar, sertão da Paraíba, com financiamento do Governo do Estado da Paraíba (Fapesq), Governo do Estado de São Paulo (Fapesp), Governo Federal (MCTI/Finep), Yangzhou University.
Ascom SECTIES – Paraíba