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Jornal da Unicamp

Projeto avalia impactos de pesquisas na agricultura (1 notícias)

Publicado em 01 de junho de 2003

Uma metodologia inovadora no Brasil, para a avaliação dos impactos de pesquisas científicas, foi desenvolvida pelo Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (GEOPI) do Departamento de Política Científica e Tecnológica (DPCT) do Instituto de Geociências da Unicamp. A nova metodologia foi desenvolvida como um instrumental a ser utilizado por gestores, pesquisadores e analistas de instituições públicas ou organizações privadas, na sensível tarefa de avaliação de projetos e tomada de decisões. Resultado do Projeto "Políticas Públicas para a Inovação Tecnológica na Agricultura do Estado de São Paulo: métodos para avaliação de impactos da pesquisa", financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep, agência de fomento do Ministério da Ciência e Tecnologia), a metodologia desenvolvida no Instituto de Geociências (IG) da Unicamp tem como uma de suas características inovadoras a abertura para avaliação não apenas dos impactos econômicos de um projeto de pesquisa, como normalmente ocorre. O instrumental metodológico permite igualmente a avaliação dos impactos sociais, ambientais e em termos de capacitação tecnológica decorrentes de uma pesquisa científica. "O objetivo era encontrar uma abordagem que não fosse reducionista, mas multidimensional, ou seja, que considerasse várias dimensões no momento de avaliação dos impactos de uma pesquisa", afirma o economista André Tosi Furtado, professor do DPCT-IG-Unicamp e que integrou o grupo responsável pelo desenvolvimento da metodologia. O professor Furtado nota que as poucas metodologias existentes para avaliação dos impactos de pesquisas geralmente se restringem a uma dimensão, sobretudo a econômica. Outra característica inovadora da metodologia foi a sua formulação com base em um trabalho em rede, integrando várias instituições parceiras, como o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC-RJ) e Bureau d'Economie Théorique et Appliquée (Beta), ligado à Universidade de Estrasburgo (França). A professora Maria Beatriz Machado Bonacelli, também do DPCT-IG-Unicamp, lembra que a metodologia batizada de ESAC (sigla das dimensões econômica, social, ambiental e de capacitação) foi estruturada para a avaliação de dois programas de pesquisa coordenados pelo IAC, sobre aspectos do desenvolvimento tecnológico nas duas principais culturas agrícolas do Estado de São Paulo, a cana-de-açúcar e a laranja. Por este motivo foi idealizado um trabalho em rede, que envolvesse diferentes instituições de pesquisa e de gestão na área agrícola e de agronegócios. Como a própria natureza da metodologia multidimensional exigia, estiveram envolvidos nos últimos dois anos, em um esforço coletivo, profissionais de diferentes formações das instituições integradas em rede, como economistas, sociólogos, ecólogos e agrônomos. "Desenvolver uma metodologia de avaliação de pesquisa com um caráter multidimensional seria certamente um trabalho complexo, e que apenas seria realizado por uma equipe multidisciplinar", salienta o professor André Furtado. Inicialmente, explica o professor do DPCT-IG-Unicamp, foram criadas as bases conceituais para o modelo de avaliação dos impactos de cada dimensão estudada. "Esse trabalho conceitual já exigiu um grande envolvimento da equipe, porque se tratava de uma nova perspectiva de avaliação dos resultados de pesquisas científicas", completa. Em seguida foi trabalhada a integração entre as várias dimensões consideradas, até que fosse formulada uma visão sintética que constituísse a base da nova metodologia de avaliação de impactos de pesquisas. Foram consideradas de 80 a 100 variáveis diferentes na montagem do instrumental metodológico. A etapa final foi a aplicação da metodologia em trabalho de campo, para avaliar os impactos econômicos, sociais, ambientais e de capacitação dos programas de pesquisa em cana-de-açúcar e laranja implementados pelo IAC. Foram três meses de trabalho de campo, com visitas a mais de 20 cidades das principais regiões produtoras de cana e laranja em território paulista. O professor André Furtado acentua que a avaliação dos impactos de pesquisas em Ciência, Tecnologia e Inovação é essencial nas sociedades modernas, e de modo especial em um país que está se esforçando para ampliar os investimentos no setor como o Brasil. "É importante definir que tipo de pesquisa desenvolver e com qual finalidade. Essa é uma tendência mundial", destaca. Os responsáveis pelo projeto entendem que a metodologia desenvolvida no IG, em cooperação com outras instituições, mantém sintonia com o empenho específico que a Unicamp vem fazendo para estimular o setor de Ciência, Tecnologia e Inovação. "Um dos aspectos do projeto foi a busca do aprimoramento da interação entre Universidade e sociedade, pois estiveram envolvidas outras instituições, inclusive do setor privado, e além disso havia a preocupação com as duas principais culturas agrícolas de São Paulo", diz a professora Maria Beatriz Machado Bonacelli. O Fundecitrus, por exemplo, é uma instituição mantida por produtores e indústrias de suco direcionada para a defesa vegetal contra doenças e pragas. Outro aspecto do projeto, relacionado ao esforço da Unicamp para incentiva r o setor de CT&I, é a prevista ampliação, para os segmentos industrial e de serviços, da aplicação da metodologia para avaliação de impactos de pesquisas. "Este será o próximo passo do projeto", completa a professora do DPCT-IG-Unicamp. Outro ganho com o projeto, na opinião dos professores do IG, foi o desenvolvimento da competência da própria Universidade na avaliação de projetos de pesquisa, o que representa um ingrediente central para as atividades de gestão e de tomada de decisões.