Projeto Jovens na Pandemia foi criado pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo
Até os 14 anos, o adolescente João Pedro, hoje com 16 anos, levava uma vida comum para um garoto da sua idade. Ia à escola, praticava natação, visitava os avós maternos e a avó paterna aos finais de semana. Em 2021, com o agravamento da pandemia do novo coronavírus, sua rotina mudou. As aulas passaram a ser on-line, as visitas cessaram e a covid-19 vitimou sua avó. A partir daí, com o luto da família, o distanciamento dos colegas de escola, a suspensão das aulas de natação, sua vida se resumiu a meses de confinamento easaída foi interagir com os amigos on-line, em bate papos e jogos.
O resultado, como atesta a mãe do adolescente, a professora Joana Souza, foi o ganho de peso, irritabilidade e ansiedade. “Ele sempre foi um garoto de fácil convivência, com os amigos e a família, de repente, ficou fechado, sem falar, preferia ficar no quarto, no computador, até comia lá”, contou a mãe.
Ela disse que a situação piorou quando ela foi diagnosticada com covid-19 e precisou ficar isolada do filho e do marido. “Ele piorou porque minha mãe morreu meses antes e na cabeça dele eu iria morrer também, foi muito difícil”, lembra emocionada.
Joana conta que, apesar da volta da ‘normalidade’, ainda vê traços de ansiedade no filho, que ficou mais fechado, apesar do retorno das atividades e convívio com amigos e primos. “Eu o levei a uma psicóloga, que afastou o diagnóstico de depressão, ficamos mais tranquilos, mas sinto que ele precisa de ajuda”, admitiu a mãe.
Criada por um grupo de pesquisadores do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, o Projeto Jovens na Pandemia recebe inscrições de crianças e adolescentes entre 8 e 17 anos com sintomas de ansiedade e de depressão de alguma forma relacionados ao contexto da pandemia de covid-19.
O objetivo é ajudar esses jovens a lidar melhor com emoções difíceis, que podem ter ficado mais frequentes nessa época, como estresse, tristeza e ansiedade.
O programa psicoterápico é realizado em sessões on-line, via computador, celular ou tablet. Participam tanto a criança e o adolescente como um dos pais. O atendimento é totalmente gratuito é voltado a jovens de todo o Brasil.
O estudo faz parte do Projeto Temático “Intervenções na primeira infância e trajetórias de desenvolvimento cognitivo, social e emocional”, financiado pela Fapesp (Fundação de AmparoàPesquisa do Estado de São paulo) e coordenado pelo professor Guilherme Polanczyk.
PESQUISA
A covid-19 é uma situação difícil para todas as famílias. O estresse provocado pelas restrições, a preocupação com a doença e com a saúde de quem amamos, dentre outros problemas, acabam levando a um aumento dos sintomas de ansiedade e de depressão a muitas pessoas, inclusive a crianças e adolescentes.
Quem aceitar participar do projeto vai ser sorteado para fazer parte de um de dois grupos. O primeiro grupo receberá acesso a 15 vídeos ao longo de cinco semanas que ensinam algumas técnicas para lidar melhor com essas emoções, além de falar de outros pontos importantes, como ajudar a criar rotinas em casa e a importância de controlar o uso de eletrônicos.
O segundo grupo, além de ter acesso a esses vídeos, também vai receber cinco sessões de atendimento por teleconferência, ao longo de cinco semanas. As sessões abordarão os mesmos temas presentes nos vídeos. É importante que um cuidador (em geral, o pai ou a mãe) participe das sessões junto com a criança ou o adolescente, além de também assistir aos vídeos com ele. Assim, o adulto poderá ajudar seu filho (a) a compreender melhor o conteúdo dos vídeos e das sessões, além de ele mesmo poder aprender bastante. Esse projeto é totalmente gratuito e não gera nenhum custo para o participante.
Mais informações sobre o programa no site jovensnapandemia.com.br