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USP - Universidade de São Paulo

Professor do IFSC integra grupo internacional de pesquisa em remédios contra doenças negligenciadas (1 notícias)

Publicado em 25 de junho de 2013

Uma iniciativa mundial nascida de uma parceria internacional que reúne cientistas, indústria e representantes governamentais, pretende combater de forma mais eficaz as doenças negligenciadas - ou doenças dos pobres -, que, pelo seu foco, são pouco interessantes para as indústrias farmacêuticas, já que praticamente não dão lucro. O grupo denominado Molecules, Materials and Medicines for Neglected Diseases (M3MD) conta com o trabalho de 13 pesquisadores e de responsáveis laboratoriais oriundos de várias partes do mundo, como, Índia, África do Sul, Argentina, Irlanda, Estados Unidos, México, Canadá e Brasil. Os cientistas brasileiros paricipantes do M3MD são: Alejandro Ayala, da Universidade Federal do Ceará (UFC), Chung Man Chin da Universidade Estadual Paulista (UNESP), de Araraquara, e Javier Ellena, do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP.

O objetivo do grupo M3MD é transformar os medicamentos destinados a doenças negligenciadas existentes no mercado e transformá-los em versões melhoradas, com propriedades farmacocinéticas reforçadas, tendo em vista o bem-estar dos pacientes e a resolução das situações.

Este trabalho de engenharia de novas fórmulas sólidas de fármacos, embora complexo do ponto de vista laboratorial, consiste numa ideia simples. Para combater qualquer doença, o primeiro passo é "desenhar" um fármaco que mostre eficácia no combate a esse alvo. Outro passo importante é transformar esse "desenho" - que mais não é do que uma molécula -num fármaco que, principalmente no caso das doenças negligenciadas (Malária, Doença de Chagas, etc.), é majoritariamente apresentado na forma de um sólido farmacêutico ( um simples comprimido), até porque, se fosse injetável, teria questões relacionadas com armazenamento, aplicabilidade e segurança, etc.

Os trabalhos do M3MD começaram há cerca de um ano e meio. Por intermédio da química do estado sólido, o objetivo é desenvolver novas formulações orais e combinações que aumentem a eficácia de medicamentos orais já existentes e que combatem as doenças negligenciadas, com o intuito de anular seus efeitos colaterais, promovendo, principalmente, o aumento da solubilidade desses remédios.

Sem interação com o organismo

Um dos grandes problemas dos fármacos sólidos é que eles não se dissolverem no corpo dos pacientes. Não ocorre a interação do medicamento com o organismo. Ou seja, a doença não é debelada e nem curada. Um exemplo disso são os retrovirais utilizados para o controle da AIDS, como explica o professor Javier Ellena. De fato, esses pacientes tomam, durante muito tempo, um coquetel composto por vinte produtos e todos eles apresentam grandes problemas quanto à sua solubilidade: graças a isso, é o doente quem sofre. Ao interagirem entre si e o organismo, esses medicamentos apresentam uma eficácia reduzida, acrescida de inúmeros efeitos colaterais, que são terríveis. Por exemplo, com esse tipo de medicamento, um paciente com AIDS poderá estabilizar a doença, porém, também irá sofrer fortes efeitos colaterais, tais como problemas hepáticos, diarreia, vômitos, enfraquecimento do sistema imunológico, etc. " O que estamos fazendo é trabalhar para minimizar ou anular as dificuldades de solubilidade desses medicamentos no organismo e neutralizar os efeitos colaterais nos pacientes. Estamos fazendo a aplicação da tecnologia do estado sólido às indústrias farmacêuticas", descreve Ellena.

Assim, ao contrário do que se possa pensar, a ação do grupo de pesquisadores não é fazer um novo medicamento, até porque isso levaria mais de uma década até ficar concluído. O objetivo do grupo M3MD é pegar nos medicamentos que já existem no mercado, que são destinados a doenças negligenciadas, e transformá-los em versões melhoradas, com propriedades farmacocinéticas reforçadas, tendo em vista o bem-estar dos pacientes e a resolução das situações.Patente em tramitação

O desenvolvimento do trabalho do grupo M3MD tem sido rápido e eficaz. "Neste momento, temos um medicamento contra a AIDS, completamente desenvolvido por nós, cuja patente está sendo tramitada no Instituto Nacional de Patentes-INPA", conta o docente. "É um medicamento que se apresenta cinco vezes mais eficaz do que aquele que está no mercado. Ou seja, é possível produzir o mesmo comprimido com cinco vezes menos matéria-prima e com uma eficácia largamente superior, com melhor absorção pelo organismo, neutralizando efeitos colaterais e fazendo com que o paciente ingira menos quantidades de químicos fármacos", garante Ellena.

Outro exemplo é o Mebendazol, medicamento bastante utilizado para o controle de parasitas no organismo humano e que é consumido principalmente em zonas pobres, onde os índices de higiene e de salubridade pública são baixos. Nosso medicamento, que está esperando ser patenteado será vezes mais eficaz", explica Javier Ellena.

O M3MD também atua no combate à Doença de Chagas. Uma das iniciativas do grupo é promover, ainda este ano, entre os meses de Novembro e Dezembro, um workshop com as indústrias farmacêuticas nacionais, explicando todo este trabalho e seus resultados, dando inclusive ênfase à questão de segurança nacional, já que as matérias-primas e a maioria dos medicamentos comercializados no Brasil vêm do exterior, com graves problemas na área do controle de qualidade.

O M3MD conta com os apoios do CNPq (Ciência sem Fronteiras), CAPES e FAPESP, bem como as colaborações do IFSC-USP, FUNCAP, Ministério da Saúde, USF - University of South Florida - USA, UFC - Universidade Federal do Ceará.

O time completo do M3MD tem conta com os representantes do Brasil, Javier Ellena (IFSC), Alejandro Ayala (UFC) e Chung Man Chin (Unesp); Gautam Desiraju (Indian Institute of Science - Índia); Gaurav Sahal (IPCA - Laboratories - Índia); Susan Bourne (University of Cape Town - África do Sul); Maria Eugenia Olivera (Universidad Nacional de Córdoba - Argentina); Jon O"Halloran (SSPC - University of Limerick - Irlanda); Michael Zawarotko, Dennis Kyle e Roman Manetsch (University of South Florida - Estados Unidos da América); Orn Almaersson (Alkermes - Estados Unidos da América); Drazen Ostovic (KO Pharm R&D - Estados Unidos da América); Hugo Morales-Rojas - UAEM - Universidad Autónoma del Estado de México - México) e Marcelo Sarkis (Heenan Blaikie - LLP - Canadá).

Mais informações: (16) 3373-8096, email javiere@ifsc.usp.br

Da Assessoria de Comunicação do IFSC