Sérgio Mauro, professor da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, Câmpus de Araraquara, recebeu, pela quinta vez, uma Bolsa de Pesquisa no Exterior da Fapesp. De 8 de dezembro a 8 de fevereiro, ele realiza pesquisas na Universidade de Bolonha sobre a visão da Revolução Francesa e da ciência nas poesias dos italianos Vincenzo Monti e Vittorio Alfieri, escritores que atuaram entre o final do século XVIII e o início do XIX.
Mauro explica que Vincenzo Monti (1754-1828) cultuava os cientistas e fazia deles heróis emblemáticos da época até mesmo nos primeiros anos do século XIX. Na poesia "In morte di Lorenzo Mascheroni", de 1801, ele manifestou estupor e entusiasmo diante das fantásticas descobertas de Alessandro Volta. O poeta colocou-se como observador entusiasta a descrever as experiências do cientista, demonstrando inclusive conhecimento dos processos empíricos que levaram às descobertas. Na verdade, ele buscava relacionar as descobertas científicas anteriores (as de Galvani) com as experiências de Alessandro Volta, notável inventor da primeira pilha elétrica.
Monti, no entanto, não foi apenas autor de poesias empoladas e grandiloquentes, mas também poeta capaz de inegáveis feitos como o poema Bassvilliana, obra bastante discutida, lida e relida principalmente no século XX. O livro baseia-se no linchamento do republicano francês Ugo Bassville. Cometido por pessoas do povo em Roma, o linchamento deu o estímulo de que o poeta necessitava para conjugar as suas ideias contrárias aos "horrores revolucionários" da França à tentativa de adotar Dante como modelo inspirador. De fato, ao narrar em versos o itinerário da alma de Ugo Bassville, em evidente relação intertextual com a Divina Commedia, Monti buscou condenar o jacobinismo da Revolução Francesa, à medida que a alma de Bassville só poderá ascender a Deus quando cessarem os enforcamentos e todos os delitos, na visão do autor, que eram cometidos na França. Parte da crítica considerou inclusive que na Bassvilliana o poeta demonstrou-se "pouco sincero", à medida que na vida real nutria sentimentos ambíguos com relação aos ideais revolucionários.
"O projeto que pretendo desenvolver deverá limitar-se, porém, no período referido, apenas à análise da produção poética de Monti diretamente relacionada ao louvor da nova ciência e dos novos cientistas, assim como ao citado Bassvilliana, em que o poeta posiciona-se diante da Revolução Francesa", diz Mauro.
"Como contraponto ao "reacionarismo" de Monti, analisarei também apenas as poesias de Vittorio Alfieri (1749-1803) diretamente relacionadas à revolução. De Alfieri, grande autor de dramas teatrais trágicos como Filippo e Saul, analisaremos as Rime, praticamente o único livro de poesias do autor, e no qual é evidente a influência de Petrarca", afirma.
Mauro informa que, de todas as poesias presentes em Rime, serão objeto de análise e de cotejo com as composições de Monti principalmente as XVIII, XLVII, XLI, CLIII, CLXXXVII e CLXXXIII, nas quais é evidente a denúncia da tirania e a plena concatenação (ou o desapontamento) com os ideais da Revolução Francesa.
Etapas do Projeto
1) Primeira etapa (de 09/12/13 a 09/01/14)
Como etapa inicial da pesquisa, pretende-se realizar o levantamento e a síntese dos principais ensaios publicados na Itália sobre Vincenzo Monti, com destaque para os volumes críticos, ensaios e artigos em revistas e anais de congressos dos últimos vinte anos que analisaram a visão da ciência na poesia do século XVIII na Itália, especialmente as citadas composições poéticas "montianas". Deve-se consultar o vasto acervo das bibliotecas da Universidade de Bolonha e o da "Nazionale Centrale" de Florença, o que tornará perfeitamente exequível a pesquisa.
2) Segunda etapa (de 10/01/14 a 06/02/14)
À luz dos estudos citados anteriormente, quer-se realizar nesta fase das pesquisas a análise dos "extremos" revolucionários nas citadas poesias de Alfieri, visando à justa avaliação da constante presença de ideias iluministas e quase sempre francamente favoráveis aos ideais da Revolução Francesa. Como já afirmado na "Introdução", deverá ser cotejado o "reacionarismo" de Monti e o "jacobinismo" de Alfieri.
Objetivos
O objetivo principal será o de estudar detalhadamente a formação da visão científica associada ao caráter encomiástico na poesia de Monti e suas evidentes contradições ou incoerências que marcaram um período de transição. Pretende-se investigar, também, a contemporaneidade dos temas típicos arcádicos ou iluministas, tanto em Monti como em Alfieri, direcionados à execração ou ao louvor dos ideais revolucionários. Devido ao relativamente curto período de pesquisas, tenciona-se analisar objetivamente apenas as várias composições poéticas presentes em Basvilliana, de Monti, e em Rime, de Alfieri, que diretamente trataram do tema científico e da Revolução Francesa.
Materiais e Métodos
Todo o material necessário à pesquisa consistirá no estudo da bibliografia sobre a poesia do Arcadismo/Iluminismo na Itália, com destaque para os últimos trabalhos críticos publicados sobre a visão científica no "Settecento", em especial os estudos críticos publicados em volume e em revistas especializadas sobre Monti e Alfieri.
O confronto entre as diferentes visões presentes nas poesias dos dois referidos poetas permitirá, segundo Mauro, estabelecer as contradições que marcaram o Arcadismo/Iluminismo na Itália, não apenas com relação ao progresso científico, mas também no que diz respeito aos rumos da Revolução Francesa e aos ecos revolucionários na Itália.
Portal Unesp