Danilo Enrico Martuscelli, um pesquisador da Unicamp, negou ser o responsável pela distribuição do mapa fraudulento. "Recebi essa mensagem de um amigo, que, por sua vez, não é a fonte original da mensagem", afirmou ele à Agência Estado. A possibilidade de se tratar de uma fraude não parece preocupar o pesquisador, que é ou foi bolsista da Fapesp.
O advogado Carlos T Haddad, da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, concorda. Haddad, que repassou o boato a centenas de congressistas pedindo providências, afirmou numa mensagem sobre o tema que "se os mapas são falsos, se a notícia é falsa, isso não tem a menor importância, pois não se sabe que efeito possa ter causado na situação do Brasil".
Com a mesma desenvoltura com que espalha boatos pela Internet, Haddad sugeriu em mensagem subseqüente distribuída a milhares de pessoas que brasileiros interessados em alertar internautas incautos que o livro e o mapa são falsos podem ser agentes da CIA, a agência de espionagem dos EUA.
Para ele, não há dúvidas. O suposto livro é a prova de que "a Amazônia está cercada, sitiada por forças americanas, que garantirão a posse da região a qualquer hora dessas". Em sua mensagem aos congressistas, Haddad afirmou que o livro inexistente "explica a 'Operação Colômbia", as tropas americanas (80 mil homens!) no Suriname, a apropriação da base aérea da FAB de lançamentos (de foguetes) em Alcântara, a intenção dos EUA de colocar um escritório da CIA na tríplice fronteira (Foz do Iguaçu) e a implementação de duas bases militares na Argentina, uma na Patagônia e outra próxima a Buenos Aires".
O advogado da OAB disse que a nação espera ação imediata de seus parlamentares, pede aos cidadãos que repassem a notícia falsa "a todos os seus conhecidos" e conclama os jornalistas a divulgar "esse absurdo para que a Nação se levante contra essa violência inominável".
Martuscelli não chegou a tanto. Mas, numa primeira resposta a uma pergunta sobre sua autenticidade, feita por um dos membros da lista que inclui vários professores universitários, o acadêmico admitiu que leva boatos a sério. "Na condição de brasileiro, tenho que me alarmar com qualquer notícia, mesmo que seja boato, referente a qualquer tipo de investida dos imperialistas yankees contra a soberania dos povos latinos-americanos (sic)", afirmou ele em mensagem cheia de erros gramaticais.
ERROS CRASSOS TORNAM EVIDENTE A PICARETAGEM
O simples exame do texto que acompanha o mapa revela que seu autor é brasileiro. Fica patente que o texto foi pensado em português e vertido para o inglês, resultando num exemplo acabado do que alguns chamam de "ingreis" - o divertido dialeto das traduções literais e sem sentido que Millôr Fernandes consagrou no livro "The Cow Went to the Swamp", ou, em bom português, "A vaca foi para o brejo".
A primeira frase do texto que acompanha o suposto mapa da Amazônia internacionalizada comprova a falsidade da operação. "Since the middle 80's, the most important rain forest of the world was passed to the responsability of the United States and the United Nations", diz o texto, numa língua que o autor supõe ser inglês, mas é incompreensível para um americano. Trata-se de uma versão literal e sem sentido de uma frase capenga mesmo em português: "Desde meados dos anos 80, a mais importante floresta úmida do mundo passou para a responsabilidade dos Estados Unidos e das Nações Unidas."
Alguns exemplos dos erros mais gritantes: meados, em inglês, é "mid" e não "middle". Fosse "middle", pediria a preposição "of. O verbo "to pass" tem vários significados em inglês, mas um deles não é "transferir", usado pelo autor. Mais: em inglês não se escreve "the most important rain forest of the world", mas "the word's most important rain forest".
Notícia
O Liberal (PA)