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Jornal da Tarde

Procuram-se mulheres (1 notícias)

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Por Luciana de Camargo

A conquista de novos espaços pelas mulheres - progressiva, mas nem sempre veloz - leva impressa as cores de suas lutas. Entre o trágico episódio de 8 de março de 1857, quando um grupo de operárias foi trancado em uma fábrica em chamas e a sociedade do século 21, envolvida em transformações ainda incompreendidas, há um mundo de histórias, avanços e desafios.

Não é preciso retomar, no curto espaço deste artigo, os passos que ainda são necessários para que as mulheres sejam tratadas igualitariamente na vida social ou no mundo do trabalho. Mas vale a pena fazer um recorte que tem muito a ver com os desafios do Brasil de hoje - o das mulheres em cargos profissionais relacionados às ciências e à tecnologia.

Embora a presença feminina nas áreas científicas venha subindo nos últimos 30 anos, persiste uma clara desigualdade de gênero, com a predominância de homens. Nos Estados Unidos, por exemplo, as mulheres ocupam metade do mercado de trabalho, mas assumem menos de 25% dos postos nas áreas tecnológicas, segundo um relatório recente do Departamento de Comércio americano, intitulado "As mulheres em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM): uma diferença de gênero para a inovação".

Evidentemente, não há explicações únicas para fenômenos como esses. No Brasil, país onde as mulheres avançam mais rapidamente na escolaridade do que os homens, certamente o aumento de cursos de graduação nos últimos anos, que se tornaram mais atrativos do que os cursos de tecnologia, impacta esse crescimento.

De acordo com um levantamento feito pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), houve um aumento no porcentual de mulheres que solicitaram apoio à pesquisa. Em 2010, 42% do número total de solicitações foram feitos por pesquisadoras, enquanto em 1992 esse percentual foi de 30%. A educação universitária e iniciativas do governo também ajudam a garantir mais oportunidades para as mulheres. As parcerias com universidades colaboram para criar cultura de ciência e tecnologia entre os mais jovens.

Atualmente, a IBM tem um programa de parcerias com as universidades chamado "Smart Professional", cujo objetivo é reunir estudantes, professores e profissionais de TI a fim de capacitá-los em tecnologias e conceitos relacionados à área. Os programas de recrutamento visam, também, a identificar mulheres da área de tecnologia em todos os estágios de sua carreira, seja na conclusão da graduação ou em posições com mais experiência.

Não podemos esquecer que este quadro não é influenciado apenas por oportunidades educacionais ou tendências de mercado. Há outros fatores que muitas vezes são esquecidos, como a existência de modelos, ou seja, de precursores que se tornaram pessoas admiradas e exemplos a serem seguidos. Quanto mais modelos femininos influentes tivermos na ciência, mais mulheres se sentirão estimuladas a seguir no mesmo caminho.

Do mesmo modo, a possibilidade de se ter uma carreira que permita a conciliação das demandas de trabalho e pessoais são também fatores fundamentais na atração e retenção de talentos, bem como na geração de oportunidades constantes de desenvolvimento, por meio de comunidades técnicas e oportunidades de participar em projetos em outros países, mesmo sem o deslocamento físico.

Uma vez que as mulheres estão na força de trabalho - especialmente funcionárias que já são mães - formas de trabalho flexíveis podem ajudar na retenção dessas profissionais. A tendência é que mais empresas ofereçam aos funcionários essas opções como uma maneira de conciliar as necessidades dos clientes com as de suas profissionais. Essa flexibilidade pode incluir uma gama de opções, tais como horários de trabalho variados, tempo parcial de trabalho, trabalho partilhado e o trabalho em casa.

Desde programas que incentivam mulheres a estudar ciência e tecnologia a iniciativas de equilíbrio entre trabalho e vida pessoal com o objetivo de atrair e reter funcionárias, ainda há muito trabalho a ser feito. No mês em que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, cabe fazer uma reflexão sobre essas questões e o que as empresas e o mercado de trabalho em geral têm feito nesse sentido. Afinal, essa diversificação reflete a heterogeneidade de nossa sociedade e estimula fortemente a inovação e o crescimento sustentável.

Luciana de Camargo é Diretora de Recursos Humanos da IBM do Brasil