Uma pesquisa desenvolvida no Departamento de Computação (DC) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em colaboração com o Departamento de Engenharia de Computação e Elétrica da University of British Columbia, no Canadá, tem apresentado resultados relevantes na concepção e desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação (TICs) para ambientes hospitalares que atendem indivíduos com distúrbios neurológicos e psiquiátricos.
Com início em junho de 2011, sob coordenação da professora Junia Coutinho Anacleto, do DC, a pesquisa é desenvolvida no Centro de Atenção Integral à Saúde (Cais) Clemente Ferreira, em Lins, no interior de São Paulo. O objetivo é criar condições para que as TICs proporcionem melhorias na interação, comunicação e registro das ações entre profissionais, com impacto na qualidade do trabalho e na vida dos pacientes deste hospital.
O trabalho dos pesquisadores já resultou na concepção de três sistemas. O primeiro, intitulado Collab, atende requisições de tarefas e permite postagem de mensagens curtas de natureza diversa em telas grandes instaladas nos corredores. Em outra frente, o software CareHub distribui conteúdos para smartphones e tablets entregues à equipe, exibindo informações em telas espalhadas pelo hospital, dirigidas a diversos públicos. Por fim, o EmotionFeed auxilia na avaliação do impacto dos comunicados oficiais enviados pela diretoria às equipes.
Em recente entrevista à Agência Fapesp, a professora Anacleto ressaltou que o ambiente de hospital não convencional exige que o design de sistemas computacionais respeite as rotinas e fluxos de trabalho particulares deste espaço. "Trata–se de um ambiente diferente do hospitalar convencional, onde o paciente pode chegar em estado grave, correndo risco de morrer. Aqui o paciente chega para aprender a viver, já que ele passa a maior parte de sua vida convivendo com os profissionais, criando vínculos afetivos", enfatiza a pesquisadora.
Anacleto ressalta ainda os desafios de desenvolver sistemas para esse ambiente hospitalar. Ela ressalta o grau de comprometimento dos internos. "A maioria vive sob medicação ou é acamada. Há restrições ao uso dos equipamentos e é preciso tempo para entendermos como contornar essa e outras dificuldades", disse a docente, que afirma também que enquanto há uma abordagem madura e segura, deve–se "respeitar os limites dos pacientes e do próprio hospital. Com o desenvolvimento do trabalho, naturalmente vamos alcançá–los".
Segundo ela, os sistemas possuem um diferencial porque têm um design centrado no profissional da Saúde e em todo o fluxo do trabalho de ressocialização de pacientes, diferente de outros softwares disponíveis para área da Saúde, centrados ora em questões de gerência ora em informações do paciente. Nesta frente de pesquisa, a professora ressalta que o grupo tem trabalhado com uma linha de pesquisa emergente no Brasil, intitulada Visual Analytics (VA), que dedica–se ao desafio de gerenciar, organizar e compreender os grandes volumes de dados gerados na sociedade contemporânea, decorrentes de práticas computacionais como a Cloud Computing.
Na UFSCar, a proposta está estruturada em projetos de extensão. Um deles, em 2012, foi crucial, segundo Anacleto, para fomentar a discussão e pesquisa na área de VA e reunir pesquisadores brasileiros com o objetivo de formar o Instituto de Pesquisa BRAVA (Brazilian Visual Analytics). A partir daí surgiram oportunidades que têm ajudado a financiar as pesquisas. Por meio dessa frente, por exemplo, foi possível doar ao hospital de Lins 18 tablets e smarthphones de dez, sete e cinco polegadas, duas TVs, sete computadores, nove roteadores Wi–Fi, sete roteadores e toda a infraestrutura de rede, o que compreende aproximadamente 600 metros de instalação.
Os softwares utilizados no hospital de Lins ainda são protótipos funcionais utilizados apenas no âmbito da pesquisa, porém Anacleto ressalta que o grupo tem a expectativa de que, a partir do amadurecimento das pesquisas, no futuro sejam feitos processos de transferência de tecnologia que permitam que as soluções estudadas possam ser utilizadas por outras instituições de Saúde, em contextos de assistência e tutoria de longo prazo em saúde no próprio hospital e em outros ambientes, como lares de idosos e espaços de cuidados para pessoas com deficiência, além de cenários educacionais convencionais.
Até o momento a proposta já mobilizou oito mestrandos e cinco doutorandos, sendo dois canadenses, além de quatro estudantes em Iniciação Científica (IC) da UFSCar. O financiamento das bolsas destes estudantes tem ocorrido por meio de projetos mantidos junto à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), no âmbito de um acordo de cooperação com a Microsoft Research, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do Programa CAPES–DFAIT, e a empresa Boeing.