A ideia de que a água da chuva representa uma fonte limpa e segura está sendo desafiada por uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Publicado na revista Chemosphere e divulgado pela Revista FAPESP, o estudo analisou amostras de água pluvial em Campinas, Brotas e São Paulo e encontrou vestígios de agrotóxicos em todas elas.
Pontos Principais:
Estudo da Unicamp detectou agrotóxicos na chuva em três cidades paulistas.
Atrazina, substância proibida, foi encontrada em todas as amostras analisadas.
Campinas apresentou a maior contaminação, associada à área agrícola extensa.
Pesquisadores alertam para o risco do uso da água de chuva sem tratamento.
A coleta foi feita entre agosto de 2019 e setembro de 2021 e identificou resíduos de 14 tipos diferentes de pesticidas, incluindo herbicidas, fungicidas e inseticidas. Uma das descobertas mais alarmantes foi a presença da atrazina, herbicida proibido no Brasil, em todas as amostras analisadas.
Um estudo da Unicamp revelou que a água da chuva pode conter agrotóxicos mesmo em áreas urbanas como São Paulo – © Paulo Pinto/Agência Brasil
Os resultados indicam uma correlação direta entre a concentração de agrotóxicos na água da chuva e a extensão das áreas de cultivo agrícola nas cidades analisadas. Campinas, que possui cerca de 50% de sua área total dedicada à agricultura, apresentou a maior concentração de contaminantes.
Brotas, com 30% de área agrícola, teve a segunda maior taxa de resíduos, enquanto São Paulo, com apenas 7% de área cultivada, registrou a menor quantidade detectada, embora ainda preocupante.
Campinas liderou com 701 microgramas por metro quadrado (µg/m²), seguida por Brotas com 680 µg/m² e São Paulo com 223 µg/m². Esses números revelam que, mesmo em grandes centros urbanos, a presença de pesticidas no ar e na água pode ser significativa.
Segundo a coordenadora do estudo, Cassiana Montagner, a pesquisa “desmistifica a ideia de que a água da chuva é totalmente limpa”. Para ela, é fundamental reavaliar o uso da água pluvial para consumo humano e outras finalidades domésticas.
A presença contínua de agrotóxicos na atmosfera, que acabam sendo absorvidos pela chuva, levanta questões sobre os impactos cumulativos na saúde pública, especialmente em populações vulneráveis como crianças e idosos.
Além do risco à saúde, o uso contínuo de substâncias proibidas como a atrazina aponta falhas nos mecanismos de fiscalização e controle da aplicação de defensivos agrícolas.
A pesquisa também reforça a necessidade de políticas públicas voltadas para o monitoramento ambiental, o uso responsável de pesticidas e o incentivo à agricultura sustentável.
Mais do que um alerta técnico, o estudo representa um chamado à ação. Repensar o uso de recursos naturais e garantir que a água — da chuva ou de qualquer outra fonte — esteja realmente livre de contaminação é um desafio urgente.
Fonte: Agenciabrasil e Veja.