Notícia

Gazeta Mercantil

Preparo de mão-de-obra para o futuro

Publicado em 22 abril 1999

Os números do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), que indicam uma taxa de desemprego de 18,7% em fevereiro na Grande São Paulo, mostram que o problema afeta todas as faixas da população, atingindo ainda mais fortemente os mais jovens, que estão chegando ao mercado de trabalho. A saída para isso, é claro, é o retorno do País à rota do desenvolvimento a taxas significativas. A nossa expectativa é de que, a partir do segundo semestre deste ano, a economia possa expandir-se, embora se preveja que a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 1999 seja negativa. Só a partir de 2000 o produto real poderia iniciar uma recuperação efetiva, tendo continuidade nos anos seguintes. Os reflexos que essa retomada deve ter sobre o nível de emprego são ainda incertos. Os técnicos só se sentem seguros em afirmar que, mesmo com novos investimentos programados em novas fábricas, em pontos diversos do território nacional, o emprego industrial, tomado globalmente, crescerá muito pouco, mesmo incluída nessa categoria a construção civil. Da mesma forma, a absorção de mão-de-obra pela agricultura não será significativa. Na realidade, já será um grande feito se os trabalhadores desempregados no campo puderem, em grande parte, ser reassentados. Sobra o setor de serviços, que já é o que mais cresce na economia brasileira e cuja influência sobre o emprego é muito mais sensível que em outros campos. A área de serviços é muito vasta e tende a ampliar-se, por efeito, inclusive, dá terceirização, mas há alguns segmentos que nos parecem mais promissores, como o turismo, lazer, informática, telecomunicações e a tecnologia da informação, de modo geral. O País já se vem preparando para um aproveitamento mais intenso de seu potencial turístico, embora não tanto quanto se desejaria. O que mais nos preocupa é justamente a formação de mão-de-obra, com alto nível, para atender às exigências crescentes das empresas mais avançadas na área de tecnologia e telecomunicações. O pior que poderia acontecer ao País, ao retomar o crescimento, seria a importação de um grande número de técnicos nessas áreas, pela inexistência de profissionais brasileiros qualificados. Esta, na realidade, é uma situação que se vem desenhando e está a exigir um programa de entrosa-mento entre as instituições de ensino e as empresas, sob os auspícios de nossas universidades, em articulação com os ministérios da Educação e do Trabalho. Como mostrou oportuna reportagem publicada no caderno mensal Tecnologia da Informação (TI), publicado por este jornal, há excesso de vagas no País para técnicos especializados na área de tecnologia, em meio ao desemprego que atinge um grande número de profissionais de nível superior. O problema, diga-se de passagem, não é só brasileiro, mas também de todo o mundo. Calcula a International Data Corp. (IDC) haver hoje mais de 750 mil vagas abertas, nos Estados Unidos, para profissionais de tecnologia da informação com boa formação ou experiência. As empresas multinacionais da área vêm procurando contornar o problema mediante cursos de certificação e de gerenciamento. Meritório como é este trabalho, ele é limitado pelo volume de recursos destinados à área de treinamento pelas empresas, sendo privilegiados os seus funcionários. A certificação, insistem as empresas, não substitui a formação acadêmica, mas por que não estabelecer um vínculo entre as duas? De fato, são ainda muito poucos no Brasil os cursos de formação técnica, combinados com estágios de alunos em empresas geradoras de novas tecnologias. É, pois, urgente um trabalho para aproximar ainda mais as universidade e os institutos técnicos do mundo empresarial, como parte de uma política ampla de emprego. Do estágio, concebido como instrumento verdadeiro de ensino, o aluno poderia passar para a fase de certificação, abrindo vaga para outro. Se desse esforço participassem também as empresas clientes das grandes companhias de informática e tecnologia, o bolo de recursos poderia ser consideravelmente aumentado, de modo a satisfazer à imensa demanda de TI no futuro.