O Premio FCW de Ciência e Cultura anuncia, no mês que vem, os vencedores de 2010, sua 9ª edição. Cada um dos ganhadores receberá R$ 300 mil, incluindo encargos fiscais, o que representa um aumento de 50% com relação ao prêmio anterior, e coloca a iniciativa da Fundação Conrado Wessel entre as mais importantes do mundo, já que, pelo cambio de ontem, o valor dá pouco mais de US$ 175 mil. O presidente da diretoria executiva, Américo Fialdini Jr, e o superintendente José Moscogliatto Caricatti, no comando da Fundação desde 2000, definem o prêmio como o Nobel nacional. Pelo menos, esta foi a idéia e a inspiração, quando foi criado em 2002, respeitando a vontade deixada pelo próprio Wessel.
Nas edições anteriores, escolhidos por um corpo de jurados de notório saber, nomeados por entidades como CNPq, Capes, Fapesp e as academias científicas, médicas e culturais, foram premiados na área de Ciência, nomes como Wanderley de Souza, Leopoldo de Meis, Isaias Raw, Aziz Ab"Saber, o Museu Paraense Emilio Goeldi e o Instituto Agronômico de Campinas. Na área de Medicina, receberam o prêmio, entre outros, Ivo Pitanguy, Fulvio Pileggi, Adib Jatene, Ricardo Renzo Brentani. E na área de Cultura: Ruth Rocha, Ferreira Gullar, Ariano Suassuna e Antonio Nóbrega, para citar alguns. A i Fundação também tem um premio para I a Arte, sempre voltado para a Fotografia, já que esse era o campo em que trabalhou Wessel. Bob Wolfenson, Paulo " Vainer, Felipe Hellmeister, Ricardo de Vicq estão entre os já agraciados. A seleção e premiação deste será só em 2011.
Estes prêmios, e mais ações sociais realizadas anualmente pela Fundação, são fruto da vontade expressa em testamento por Conrado Wessel, que deixou uma fortuna hoje avaliada em R$ 500 milhões. A base desta fortuna foi o interesse de Wessel - filho de alemães, nascido na Argentina, mas estabelecido em São Paulo, com a família desde que tinha um ano de idade -pela fotografia. Desenvolveu e patenteou o primeiro papel fotográfico brasileiro, mais tarde comprado pela Kodak. Durante os anos que dirigiu a fábrica da Kodak em Santo Amaro, adquiriu uma grande quantidade de imóveis na Barra Funda e em Higienópolis. E não deixou herdeiros.
Quando comecei minha conversa com Fialdini e Caricatti, a primeira coisa que perguntei foi se a FCW seria como a Fundação Vitae, de muito saudosa memória, que parou de dar bolsas para a pesquisa e cultura e se extinguiu porque terminaram os recursos. Na época, a direção daquela Fundação explicou que seu destino era esse mesmo, o de distribuir dinheiro até acabar. "De jeito nenhum", reage Fialdini. "Fundação é assim, se não tiver cabeça para administrar, ela quebra! É um patrimônio com personalidade jurídica, controlado pelo Ministério Público e pela Curadoria das Fundações", explica o presidente. Mas adverte: "Se não tratar Fundação como empresa, ela desaparece. Os exemplos são muitos".
E de fato, foi a Curadoria das Fundações que escolheu esta diretoria, para salvar a FCW, que até o ano 2000 dava prejuízo. Consumia sua receita e chegava no fim do ano devendo. A partir desta direção, o patrimônio foi otimizado. Basta dizer que os imóveis de Wessel que estavam em Higienópolis se transformaram em grande parte do shopping Patio Higienópolis, que hoje representa cerca de 70% do capital da fundação e uma fatia ainda maior de sua renda, que deve chegar a R$ 12 milhões no ano que vem, com a ampliação do Shopping, cuja inauguração está prevista para este mês. Como sócia, a FCW teve de investir na ampliação. E tinha capital para isso.
Fialdini e Caricatti, que compraram uma confortável sede para a Fundação num prédio comercial de Higienópolis, contam que continuam investindo para otimizar o patrimônio. "Há pequenos terrenos, lojas, galpões que, isolados, não rendem quase nada. Estamos comprando os terrenos adjacentes, para criar projetos mais rentáveis. Já construímos dois prédios que estão alugados. E em dois ou três anos, teremos um salto em recuperação de renda", explica Caricatti. Fialdini acrescenta: "Nada disso se faz sem laudos oficiais. As fundações têm de ser transparentes, não podem por e dispor do patrimônio".
Por enquanto, mais da metade da renda anual vai para os prêmios e ações sociais. Um valor que tende a melhorar conforme vão se realizando estes progressos no patrimônio. Além dos prêmios, e também seguindo a orientação do testamento de Wessel, a Fundação faz doações, em cotas iguais, para o Corpo de Bombeiros de São Paulo (que recebe 3 cotas), o Exército da Salvação, Aldeias Infantis SOS Brasil, Fundação Antonio Prudente (Hospital do Cancer), o Colégio Benjamin Constant (onde Wessel estudou) e a última cota vai para cestas básicas distribuídas pelo MP em 30 instituições destinadas a crianças carentes. Só essa parte social dá mais de R$ 1 milhão por ano. Os prêmios, mais as publicações relativas a eles, mais a divulgação e as cerimônias somam cerca de R$ 3 milhões ano.
Além disso, a FCW patrocina as revistas da Academia Brasileira de Ciências e realiza a festa de posse da ABC, no Copacabana Palace, no Rio; patrocina a revista da Fapesp e a publicação da série Estudos Estratégicos; assumiu a realização do Prêmio Almirante Álvaro Alberto, do CNPq; complementa bolsas do Capes; ajuda cientistas que vão ao exterior apresentar pesquisas. Na área da Cultura, a FCW está pagando a metade dos custos dos estudos de um jovem violinista brasileiro na Universidade de Indiana. Essas atividades, mais a seriedade na condução das escolhas dos premiados, deram à Fundação credibilidade nos meios acadêmicos. Fialdini conta que muitas reuniões das entidades científicas são realizadas na sede da FCW, considerada território neutro. ¦