Estas são as cinco vencedoras do Prêmio CLAUDIA 2003, que você ajudou a escolher. A tarefa foi difícil, delicada e minuciosa, já que eram 15 finalistas, atuando nas áreas de ciências, cultura, negócios, trabalho social e políticas públicas, com trabalhos maravilhosos e fundamentais para a conquista de um Brasil melhor. A todas vocês que votaram, o nosso agradecimento. E também ao grupo de notáveis, que, junto com a redação, consolidou a escolha. São eles: Júlio Abramezyk, médico e jornalista da Folha de S. Paulo; Suzana Pádua, fundadora e presidente do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) e ex-finalista do Prêmio CLAUDIA 2002: Gloria Perez, novelista e vencedora do Prêmio CLAUDIA 2002; Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc-SP; Vinícius Prianti, diretor-presidente da Unilever Brasil; Mailson da Nóbrega; ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada; Kosiska Darcy de Oliveira, escritora e presidente do Centro de Liderança da Mulher (Celim); Ilka Gimarotti, coordenadora do Programa (Gestão Pública e Cidadania da Fundação Getúlio Vargas; Keiko Niimi, representante do Unicef no Brasil; e Evelyn Berg Ioschpe, presidente da Fundação Iochpe.
Ciências - Magda Carneiro Sampaio
A Médica e pesquisadora pernambucana criou, em parceria com Luiz Trabulsi, microbiologista do Instituto Butantan, uma vacina contra a bactéria Escherichia coli, que provoca a diarréia aguda, uma das principais causas de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento.
Há mais de duas décadas, Magda Carneiro Sampaio, 53 anos, nascida em Recife, investiga a imunologia do leite materno, rico em anticorpos, que protegem o bebê. Em julho deste ano, a professora titular do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo apresentou o resultado de sua pesquisa no congresso da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC): uma vacina contra a diarréia aguda, que vitima, no mundo, cerca de 7 mil crianças com até 2 anos todos os dias. "Chegamos a ela estudando os mecanismos pelos quais o aleitamento protege o organismo do recém-nascido, sobretudo contra as infecções intestinais", explica a pesquisadora, que é uma grande defensora da amamentação. "O leite é uma perfeição da natureza. Muitas vezes, a única fonte nutritiva de bebês carentes." Para José Fernando Perez, diretor-científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), "o trabalho de Magda terá impacto socioeconômico internacional, porque a diarréia é um problema de saúde pública em muitos países". Hugo Issler, professor do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, concorda: "Magda irá lançar o nome do Brasil entre os cientistas do exterior". No início do próximo ano, a vacina deve entrar em fase de testes em seres humanos para depois ser produzida e distribuída pelo Instituto Butantan, de São Paulo. "O pesquisador não tem resultados imediatos, mas faz um trabalho extremamente estimulante. Estou o tempo todo querendo saber mais, conhecer mais", constata Magda.
Cultura - Tânia Rösing
Há 22 anos, a professora de literatura forma novo leitores. Ela comanda um grande evento cultural: a Jornada Nacional de Literatura, em Passo Fundo (RS), que já levou ao sul do país cerca de 200 renomados escritores nacionais e internacionais e, em agosto deste ano, reuniu 15,5 mil pessoas.
Idealizada e coordenada por Unia Rösing, 55 anos, em sua cidade natal, Passo Fundo (RS), a Jornada Nacional de Literatura é bienal e tem duração de quatro dias, nos quais ocorrem debates, canos, oficinas e bate-papos com autores como Antônio Callado, Nélida Piñon e a portuguesa Inês Pedrosa. Em 2001, Tânia incorporou ao evento a 1ª Jornadinha Nacional de Literatura, abrindo espaço para a atuação de crianças, adolescentes e escritoras infanto-juvenis.
A última jornada, realizada entre 26 e 29 de agosto, reuniu 4,5 mil adultos e 11 mil crianças e jovens. Como sempre, os inscritos também participarem de atividades preparatórias, as Pré-Jornadas, com início em março. Nelas, sob a orientação de Tânia e sua equipe, são formados pequenos grupos de debate, que mergulham em pelo menos três livros, elaborando textos sobre eles. "O público já chega familiarizado com as obras, e isso faz com que as conversas e discurssões tenham consistência, sejam interessantes. As pessoas não ficam perguntando bobagens, vão direto à essência, ao conteúdo", afirma Frei Betto, teólogo e escritor, que marcou presença na festa literária deste ano. Hoje, depois de batalhar incansavelmente por verbas. Tanta conta com o patrocínio de mais de 2 milhões de reais de empresas como Petrobras, Nestlé, Eletrobrás e do governo do Rio Grande do Sul. Em 1998, ela conseguiu concretizar outro sonho: criou o prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, to valor de 100 mil reais, que é entregue durante o evento a em escritor da língua portuguesa. Ela busca verbas agora para construir oro centra de cultura e um espaço permanente pare o evento em Passo Fundo.
Políticas públicas - Eloan Pinheiro
A química carioca foi peça-chave para garantir o tratamento das pessoas com Aids no Brasil. Ela fabricou genéricos, ameaçou quebrar patentes, enfrentou os laboratórios multinacionais e fez com que eles baixassem o preço dos caríssimos medicamentos do coquetel contra a doença.
No final da década de 80, Eloan Pinheiro, 58 anos, deixou uma carreira bem-sucedida em laboratórios multinacionais e salário de 10 mil dólares para trabalhar no setor público. "Sempre acreditei que a saúde é um direito de todo cidadão. A certa altura da minha vida, decidi lutar pela minha convicção", assegura. Assumiu, então, o cargo de vice-diretora do laboratório estatal Instituto de Tecnologia de Fármacos, o Far-Manguinhos. Três anos depois, justamente na época em que as multinacionais lançavam o caríssimo coquetel anti-Aids, era nomeada diretora. "O Ministério da Saúde sabia que não teria condições de arcar com o tratamento e pediu ajuda do Far-Manguinnos", afirma Alexandre Grangeiro, diretor do Programa Nacional de DST e Aids. Eloan adotou a seguinte estratégia: fazia a fórmula dos remédios, que já entravam patenteados no país, e ameaçava colocar o genérico em circulação caso a indústria farmacêutica não reduzisse os preços significativamente. Conseguiu, assim, descontos de até 80% em vários medicamentos do coquetel, além de fabricar outros.
Os Estados Unidos tentaram abrir processe contra o governo brasileiro por ameaça de quebra de patentes. Já era tarde. O Brasil se tomara exemplo de combate à Aids para o mundo, e a Organização das Nações Unidas decidira pelo direito de qualquer país quebrar a patente de remédios quando os preços inviabilizassem o tratamento e houvesse ameaça à estabilidade econômica do país. Eloan, que deixou o Far-Manguinhos em dezembro de 2002, faz parte agora do seleto grupo de profissionais de saúde da ONU que divulga sua experiência pelo mundo.
Negócios - Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues
De vendedora de loja dos tios, ela passou a compradora e gerente até assumir a superintendência, em 1991. À frente dos negócios, a empresária paulista transformou o Magazine Luiza em uma cadeira de 159 endereços, espalhados em quatro estados, e aumentou em dez vezes o faturamento.
Ao assumir a direção da rede de eletrônicos e artigos para casa, Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues, 51 anos, nascida em Franca (SP), Unha em mente uma palavra: inovação. As primeiras providências foram à retirada das divisórias dos escritórios da sede, para que as pessoas pudessem se comunicar com maior agilidade, e a instituição de um plano de carreira - do faxineiro ao diretor, todos têm salários de acordo com a rentabilidade da empresa. Com essas e outras medidas, deixou dará sua filosofia de luta contra a burocracia e de valorização dos funcionários, que lhe valeu a primeira colocação no ranking deste ano da edição As 100 Melhores Empresas para se Trabalhar, da revista Exame. Luiza, que começou a trabalhar no Magazine aos 18 anos, quando fazia faculdade de direito, revolucionou também as técnicas de venda. É dela idéias como a Liquidação Fantástica, venda anual com descontos de até 70%; o Disque Luiza, pelo qual o cliente faz reclamações à própria superintendente; e as Lojas Eletrônicas, instaladas em pequenas cidades, onde as pessoas escolhem os produtos pelo computador - no início era por meio de fitas de vídeo. Um dos méritos da empresária, para Luiz Carlos Cabrera, professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas, é a capacidade de envolver seus funcionários. "Eles fazem com que a população de baixa renda também se sinta acolhida nas lojas", diz. O resultado: 4 milhões de clientes cadastrados e faturamento previsto para este ano de 850 milhões de reais, contra 80 milhões em 1991.
Trabalho Social - Creuza Maria Oliveira
Na infância e adolescência, ela cozinhou, fez faxina e cuidou de crianças em troca de comida e roupa usada. Em 1990, fundou o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia e, desde então, não parou mais de lutar intensamente pelos direitos de sua categoria e contra a exploração do trabalho infantil.
"A Creuza me fez acreditar que eu era capaz de estudar, como sonhava quando olhava os filhos das minhas patroas", diz Lúcia Carvalho, 21 anos, que com 12 cuidava de crianças e hoje cursa pedagogia, em Salvador. "Com Creuza, aprendi que não preciso admitir maus-tratos", afirma Diana Machado, 17 anos, também babá desde os 12 anos. Elas freqüentam o curso de formação para jovens domésticas, do qual Creuza Maria Oliveira, 43 anos, nascida em Salvador, é professora. "Oriento sobre os direitos trabalhistas e procuro levantar a auto-estima das meninas. Apesar de passadas mais de três décadas, pouca coisa mudou, elas ainda vivem histerias de exploração semelhantes à minha."
Aos 10 anos, Creuza cumpria jornadas de 12 horas diárias sem salário. Remuneração, só passou a receber quando fez 15 anos. Carteira assinada e folga quinzenal, aos 21 anos. Aceitava calada, mas não se conformava. Então, ao ouvir em um programa de rádio notícias sobre um grupo organizado de mulheres em situação semelhante a sua, uniu-se a elas. Pouco depois, fundava o Sindicato dos Trabalhadores Domésticos da Bahia. Hoje, é uma liderança não só da categoria como na luta contra a exploração infantil. Participa, entre outros, do Programa de Erradicação do Trabalho Doméstico Infantil, da Organização Internacional do Trabalho. "No Brasil, 500 mil crianças têm sua formação física e emocional comprometida por causa do trabalho. Carregam objetos pesados, lidam com fogo e produtos químicos, deixam de ter contato com outros menores de sua idade e vivem em verdadeiros exílios", indigna-se Creuza.
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Claudia