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Preguiças terrícolas e os seres humanos são contemporâneos (1 notícias)

Publicado em 21 de julho de 2002

Agora não há mais dúvidas. Seres humanos e preguiças terrícolas gigantes perambularam pelos cerrados brasileiros e conviveram há cerca 10 mil anos. A prova, que encerra um debate que já durava um século e meio, veio do resultado de um exame de Carbono 14, feito num minúsculo pedaço de osso fossilizado, com cerca 2 centímetros e menos de 3 gramas. O material foi extraído da costela de um fóssil de preguiça da espécie Catonyx cuvieri, encontra na região de Lagoa Santa, Minas. É o mesmo local onde também foi descoberto o crânio do ser humano "brasileiro" mais antigo, a famosa Luzia, de 11.500 anos. Daí a conclusão de que seres humanos e preguiças gigantes foram contemporâneos. Num projeto de pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), pesquisadores da Universidade São Paulo (USP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) enviaram o pedacinho de osso para o Laboratório Beta Analytic, nos EUA, onde foi feita a análise. "Eles isolaram o colágeno, uma proteína que estrutura o osso, que permite uma datação mais precisa", explica o paleontólogo Castor Cartelle, do Departamento de Geologia da UFMG, participante do projeto. "O resultado revelou que aquele osso tem 9.900 anos, com margem de erro de 40 anos para mais ou para menos." A datação confirma a hipótese do cientista dinamarquês Peter Lund (1801-1880), levantada em meados do século 19. "Ele defendia a tese de que espécies de mamíferos gigantes, a megafauna, do período geológico conhecido como Pleistoceno (de 1 8 milhão ali mil anos atrás) conviveram com seres humanos, na região de Lagoa Santa, há cerca 10 ou 11 mil anos", explica. É o caso das 13 espécies de preguiças terrícolas identificadas até agora. Algumas delas, podiam atingir até 5 toneladas. HISTÓRIA Considerado o pai da paleontologia e da arqueologia brasileiras, Lund mudou-se para a região de Lagoa Santa, em 1825, onde viveu até morrer. Nesse período, descobriu mais de 12 mil fósseis, com os quais ajudou a escrever a história do período Pleistoceno brasileiro, numa época em que a ciência quase nada sabia a respeito. Ele também desenterrou ossadas fossilizadas do chamado "homem de Lagoa Santa", que puseram em xeque teorias da paleontologia da época.