Um estudo publicado em 22 de maio no periódico científico Science aponta que as mudanças climáticas e a ação humana foram dois dos principais fatores que levaram tanto à evolução quanto à extinção das preguiças-gigantes — Megatherium americanum.
Os cientistas envolvidos na pesquisa destacam que as preguiças terrestres foram um dos resultados evolutivos mais icônicos do isolamento geográfico da América do Sul , com registros indicando uma grande variedade no tamanho corporal desses animais.
“As preguiças tiveram uma grande disparidade de formas e adaptações; sobreviveram a máximos climáticos, ao surgimento dos Andes... Foram muitos percalços para, mais recentemente, vermos a diminuição abrupta da diversidade, que acontece concomitantemente com a chegada do ser humano ao continente”, ressaltou Daniel Casali, pesquisador do Laboratório de Paleontologia (PaleoLab) da USP e um dos autores do estudo, ao Jornal da USP.
Variações de peso
Os pesquisadores fizeram um mapeamento de 35 milhões de anos de história evolutiva para obter dados relacionados à diversidade de tamanho, resiliência climática e participação humana na extinção das preguiças-gigantes.
Os resultados indicaram que as primeiras preguiças-gigantes terrestres — que viveram entre 2,6 milhões e 11,7 mil anos atrás, no período Pleistoceno — pesavam de 70 kg a 350 kg. Com o tempo, algumas espécimes chegaram a ter uma massa corporal semelhante à de elefantes ou rinocerontes , mas depois sofreram um declínio populacional drástico.
“Quanto maiores, mais as preguiças habitavam ambientes abertos. Isso aumentava a chance de encontros com grupos humanos caçando. Há evidências de sítios arqueológicos com osteodermos de preguiça [camada óssea que forma uma espécie de armadura sob a pele] trabalhados como artefatos usados para embelezamento, mas também marcas de ferramentas em carcaças”, pontuou Daniel.
Sobrevivência dos menores
Em contraponto às terrestres, as pequenas preguiças arborícolas — que vivem até hoje — diminuíram de tamanho rapidamente ao longo dos anos. Esses animais passaram a ocupar as copas das árvores, reduzindo a interferência humana direta.
“Grandes tamanhos corporais costumam ser vantajosos diante de diversas pressões seletivas, mas, em contextos como o enfrentado pelas preguiças durante a chegada dos humanos, ser pequeno e habitar ambientes menos acessíveis pode ter sido crucial para a sobrevivência das preguiças viventes”, afirmou Max Lander, coordenador do PaleoLab e coautor do estudo.
Por João Melo
Fonte: Jornal da USP