Há seis anos, a cidade de Adamantina (a 614 quilômetros de São Paulo) deixou de acumular rejeitos urbanos nos lixões a céu aberto para alimentar sua usina de compostagem, que produz cerca de 480 toneladas mensais de composto orgânico, utilizado pelos agricultores locais para a recuperação dos solos.
O coordenador do Programa de Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Fernando Luiz Prandini, considera a usina de Adamantina um modelo para o Brasil. Ele lembra, porém, que a situação era bem diferente quando a usina entrou em operação. "O teor dos chamados metais pesados, provenientes das tintas das embalagens, era muito alto", explica ele. Esses metais - como chumbo, cádmio, zinco e ferro, por exemplo - além de contaminar o solo podem ser nocivos à saúde de pessoas e animais, segundo o técnico.
Uma reformulação nas instalações da usina eliminou o problema. E a solução encontrada foi muito simples: a utilização de uma peneira cambiável que permite duas fases de separação. Na primeira fase, o equipamento remove o lixo bruto com uma peneira de malha grossa. Assim, o material orgânico que interessa é selecionado do rejeito (plásticos, pedaços de madeira e borracha). O novo produto está sendo testado e aprovado. O horticultor Edson Negri, por exemplo, diz que não utilizava o adubo orgânico por causa da presença de vidro e até seringas. "Além de limpo, o novo adubo é mais eficiente", diz.
O produto apresenta também vantagens econômicas. O também horticultor Sidnei Guedini, da mesma cidade, diz que costumava usar estéreo de gado ou de galinha, mas o preço do composto de Adamantina foi convidativo e ele decidiu mudar. A tonelada do esterco de galinha sai a R$ 480,00; a de esterco bovino é vendida a R$ 288,00, ao passo que a tonelada do composto sai por US$ 4,50.
A partir deste mês a tonelada passará a custar entre US$ 10 e US$ 12, mas a qualidade do produto será aprimorada: o adubo orgânico passará por um período de cem dias de compostagem. A ampliação da capacidade da usina permitiu que os municípios vizinhos - Lucélia, Flórida Paulista, Junqueirópolis e Meriápolis - também possam entregar seu lixo para compostagem. Juntos, esses municípios possuem cerca de 86 mil habitantes e produção diária de 45 mil toneladas de lixo.
João Dimas Gavazzi, da Gavazzi Engenharia e Comércio Ltda., empresa responsável pela implantação desta usina de lixo, admite que o composto orgânico produzido em Adamantina ainda contém rejeitos nocivos à agricultura. Há dois anos, entretanto, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) vem fazendo acompanhamentos periódicos em sua fazenda experimental, onde planta feijão, milho, aveia e triticale. "Os ensaios de laboratório mostram melhoras químicas e físicas no solo", afirma Ronaldo Berton, engenheiro agrônomo e pesquisador científico do IAC.
Na primeira colheita, o composto aumentou a produção de mandioca, de feijão e de beterraba, produtos colhidos respectivamente em 1993, maio e outubro de 1994. "Recomendamos aos agricultores não aplicarem esse produto por muitos anos na mesma área, para evitar a contaminação do solo", ressalta Berton.
Com o maior volume de composto produzido, aumentou também a demanda. Waldemar Negri, por exemplo, pretende comprar cerca de 50 toneladas a mais no próximo ano, com o objetivo de dobrar sua produção de uva. Na plantação atual, de 13 mil metros quadrados, foram utilizadas 9,8 toneladas de composto orgânico, compradas a R$ 41. Dentro de dez dias, Negri acredita que colherá 30 toneladas de uvas. Além do composto, o agricultor utiliza palha de café e estéreo de curral.
Luis Marques, proprietário da Flora Marques, também tem intenção de aumentar suas compras de adubo, de 6 para mais de 10 toneladas. "Este produto caiu do céu: tem qualidade e é barato", diz ele. A única ressalva feita pelo florista é quanto à utilização em vasos. Para este fim, Marques peneira novamente o material para evitar qualquer impureza. Seu viveiro produz atualmente 10 mil mudas mensais. "Com o composto, a muda fica mais verde e desenvolve mais depressa", completa.
Segundo Gavazzi, a demanda pelo composto é maior do que a oferta e o pagamento tem sido feito antecipadamente à entrega. Em São José do Rio Preto, onde a usina é terceirizada pela Construferti, a entrega do composto também é programada, por causa da grande demanda gerada pelas plantações de Uva Itália e Rubi em Minas Gerais. Esta usina, que também foi projetada e instalada pela Gavazzi, cobra US$ 30 por tonelada e produz 1.200 toneladas mensais.
Notícia
Gazeta Mercantil