Termômetro da produção de conhecimento e da qualidade do ensino superior, a formação de mestres e doutores no Paraná é uma das mais ativas do Brasil. Um ranking preparado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) coloca o Paraná no quinto lugar entre os estados brasileiros que mais oferecem cursos de pós-graduação. Mais que revelar um avanço, o bom desempenho paranaense no ranking da Capes se deve à pobreza do ensino superior na maioria dos estados. A oferta de vagas em cursos em mestrados e doutorados - que vão formar os futuros professores e pesquisadores das universidades - está concentrada na Região Sudeste, especialmente em São Paulo, onde muitos paranenses vão buscar o título de doutor.
Ao todo, 215 instituições de ensino superior brasileiras oferecem 1.710 cursos de mestrado e 985 de doutorado. O Paraná está atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Aqui, 11 universidades, entre públicas e particulares, têm 112 cursos de mestrado, 41 de doutorado e 3 profissionalizantes. No interior do estado, as duas maiores universidades, UEL e UEM, empatam em quantidade de cursos de doutorado (ver infográfico).
Para formar doutores é preciso doutores. Como há poucos no Paraná, as universidades dependem de professores que estudaram em outros estados ou no exterior para montar seus programas. O processo é lento. A Capes autoriza a criação de cursos de pós-graduação mediante exigências, que incluem a contratação de doutores, a produção de trabalhos científicos e sua publicação em revistas especializadas.
Há três anos, o Paraná deu início a uma recuperação de quatro décadas de atraso em investimento na produção científica, se comparado a outros estados. A Fundação Araucária foi criada em 2000 pelo governo do estado para atuar como instrumento de amparo à pesquisa e ensino superior no estado, como fazem a Fapesp em São Paulo e a Fapergs no Rio Grande do Sul, a primeira há 41 anos e a segunda há 39.
A previsão de investimento para este ano no Paraná é de R$ 44 milhões, dez vezes menos do que São Paulo aplicou no ano passado. Em 2002, a Fapesp investiu R$ 455,4 milhões em bolsas e auxílios para pós-graduação. A fundação gaúcha destinará apenas R$ 12 milhões para este fim em 2003, resultado de cortes em bolsas e auxílios, mas esse valor já chegou a ser até seis vezes mais em anos anteriores.
Espécie de agência de fomento, a Fundação Araucária, mantida pelo governo do estado atende todo o sistema universitário paranaense, institutos de pesquisa e instituições de ensino sem fins lucrativos. O presidente da entidade, Jorge Bonassar Filho, cita como exemplo desse trabalho a rede de universidades e institutos em torno do projeto Genopar, que estuda o genoma humano.
Fora da pós-graduação, há outras fontes de apoio à pesquisa científica no estado, além da Fundação Araucária, como o Instituto Paraná Tecnologia, Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Embrapa e Tecpar. É graças a esse conjunto de fatores que o estado tem conseguido superar a cada ano sua produção de grãos. "Tudo o que se tem de avançado hoje é resultado de pesquisa", resume Bonassar.
BRASIL É 17º NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO ENSINO SUPERIOR
As pesquisas científicas realizadas nas universidades estão presentes no cotidiano dos brasileiros, embora grande parte da população não se dá conta disso. O Brasil é o 17º país do mundo em produção do conhecimento, segundo um dos mais importantes institutos dos Estados Unidos. O resultado está tanto no combustível que move a frota nacional quanto no alimento que se põe à mesa.
"Se o Brasil quiser ser competitivo, terá de investir cada vez mais em pesquisa e tecnologia", diz a ex-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Glaci Terezinha Zancan.
Segundo ela, o investimento deve ser feito também pelas empresas, e não ficar restrito às universidades. "É fundamental para o desenvolvimento do país", explica.
O Brasil é quase auto-suficiente em petróleo porque domina a tecnologia de extração em águas profundas. Isso ajuda a regular o preço dos combustíveis e evita altas a cada oscilação do produto no mercado internacional. As pesquisas na área alimentícia têm ajudado o país a aumentar sua produção agrícola. "Como combater a fome se não houver investimento em ciência e tecnologia?", questiona Glaci.
ESTUDO NÃO GARANTE BOM SALÁRIO
Anos de estudos e qualificação profissional não garantem, necessariamente, uma boa remuneração. Na média, um professor com doutorado e dedicação exclusiva tem salário bruto de R$ 4.250 00 na Universidade Federal do Paraná (UFPR), somando-se as gratificações. Para chegar a esse nível, o profissional tem de estudar no mínimo durante 22 anos de sua vida.
Ainda na UFPR, um professor com mestrado recebe por mês R$ 3.382.00. Já nas instituições particulares a situação é melhor. Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC), por exemplo, o salário inicial de um professor-doutor é de 6.921.00 e de um mestre assistente, R$ 4.694,00.
0 coordenador de Assuntos Docentes da Pró-Reitoria de Recursos Humanos da UFPR, Vítor Alberto Kerber, lamenta que muitos bons profissionais tenham de renunciar a um salário melhor pelo bem do desenvolvimento científico. Em geral, as instituições particulares pagam melhor aos professores porque não têm gastos com pesquisas científicas, que custam caro e estão mais concentradas nas públicas.
Os dados da Capes mostrara que o Paraná ocupa uma boa posição no ranking da pós-graduação brasileira.
MAIOR OFERTA DE CURSOS ESTÁ EM SP
A Região Sudeste concentra quase dois terços de todos os cursos de mestrado e doutorado oferecidos hoje no Brasil. São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo também contam com 133 das 215 instituições de ensino superior com pós-graduações reconhecidas pelo Ministério da Educação. Das 2.812 ofertas no país, 1.690 estão nas faculdades e universidades desses estados.
Os números do ensino superior mostram a desproporção entre o Sudeste e as demais regiões do país. O Sul é que mais se aproxima, com 523 cursos ao todo, seguido do Nordeste com 377 e o Centro-Oeste com 151. A Região Norte, a menos desenvolvida do país, tem apenas 71 cursos de mestrado e doutorado, 23,8 vezes menos do que a região mais rica.
O estado de São Paulo, centro da produção científica e cultural do Brasil, concentra ainda duas das instituições brasileiras de maior credibilidade no país e no Exterior: a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). São as mais procuradas por quem pretende cursar mestrado ou doutorado.
Notícia
Gazeta do Povo