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Arquitetura e Construção

Pós-graduação:vale a pena? (1 notícias)

Publicado em 01 de setembro de 2011

Por Por Gisele Cichinelli

A busca por novos conhecimentos deve ser sempre a principal motivação para quem procura um curso de pós-graduação. Até porque turbinar o currículo pode não significar, de imediato, um aumento na renda. Mas pode trazer mais chances de sucesso no mercado de trabalho, além de abrir novas possibilidades de atuação.

Muitos escritórios, por exemplo, preferem contratar pessoas que demonstrem interesse em aprender - e ai, não importa necessariamente o curso escolhido, mas simplesmente a atitude do profissional. Um diploma de mestrado ou doutorado também permite ao arquiteto ter um segundo emprego como professor (ou primeiro, em muitos casos) .

LATU OU STRICTO SENSU?

Há quatro modalidades de pós-graduação: especialização (latu sensu), mestrado profissional, mestrado acadêmico (stricto sensu) e doutorado (stricto sensu). Os dois primeiros atualizam o profissional em uma área específica ligada à atividade prática, já os dois últimos formam pesquisadores e professores universitários.

O mestrado profissionalizante visa à aplicação dos conhecimentos científicos na prática profissional, por estudos de caso, por exemplo. "Ao mesmo tempo, dá acesso direto ao doutorado", lembra Gabriela Celani, professora-doutora da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unícamp.

QUANDO FAZER

As agências de fomento costumam priorizar a concessão de bolsas aos alunos que optem por ingressar no mestrado após o término da graduação. No entanto, especialistas observam que o ideal é investir na pós depois de alguns anos no mercado de trabalho. "Em arquitetura, a experiência prática contribui muito tanto para a atividade de pesquisa quanto para a docência", observa Gabriela. "Se o objetivo é produzir uma reflexão sobre sua ação, é preciso ter conhecimento sobre sua prática", completa Nádia Somekh, professora doutora da FAU-Mackenzie.

A insatisfação pessoal, em muitos casos, é a mola propulsora para alguns profissionais retornarem à academia. Foi o que aconteceu com a arquiteta Andrea Bazarian, que cursou uma especialização em conforto ambiental e eficiência energética pela FAUUSP. "Trabalhava com grandes projetos e sentia uma responsabilidade com a questão ambiental que, naquela época, não me era cobrada, pois nem sequer existia essa preocupação", conta, lembrando que as longas jornadas de trabalho na frente do CAD eram frustrantes. "A especialização serviu para que eu pudesse me reposicionar no mercado, em uma época em que pouco se falava sobre questões energéticas", lembra. Andrea emendou um mestrado em sistemas de avaliação de sustentabilidade e após quatro anos trabalhando nessa área em um escritório em Londres, regressa ao Brasil para seu doutorado.

BOLSA DE ESTUDOS

Se a escolha for se afastar das atividades profissionais durante algum tempo, a questão financeira pode pesar. Poupar e se organizar é a principal dica para atravessar esse período sem grandes sobressaltos. Outra opção é a bolsa de estudos. Nas diversas instituições públicas com cursos de pós-graduação latu e stricto sensu, apenas os cursos de mestrado acadêmico e de doutorado são gratuitos, com um processo de seleção concorrido. Os cursos de extensão, especialização e de mestrado profissional são normalmente pagos, já nas instituições particulares, todos os cursos de pós-graduação são pagos.

Mas qualquer aluno de mestrado acadêmico e doutorado, seja de instituição pública ou privada, pode solicitar bolsas de estudo às agências financiadoras ou às próprias instituições de ensino. As bolsas variam entre 1,2 mil e 1,5 mil reais (mestrado); 1,8 mil e 2,5 mil reais (doutorado) e 3,3 mil e 5 mil reais (pós-doutorado), de acordo com cada agência.

COMO OBTER

A obtenção da bolsa depende da consistência do projeto de pesquisa, por isso, recomenda-se procurar o máximo de informações sobre o futuro orientador, quantos orientandos teve e quais são as pesquisas e os trabalhos publicados. Vale lembrar que uma das regras para a obtenção do subsídio é que o aluno não esteja trabalhando. "Antes de aderir a um programa de bolsas, o pós-graduando deve se perguntar se paralisar as atividades profissionais valerá a pena ou o quanto de sua renda será perdida", aconselha Fábio Garcia Gallo, professor doutor da Fundação Getúlio Vargas e autor do livro Como planejar sua educação (Publifolha).

LICENÇA MATERNIDADE

Das agências de fomento, apenas duas oferecem icença maternidade: a Capes e o CNPq. A arquiteta Patricia Samora conta que, ao ficar grávida durante sua pós-graduação, teve de pedir a suspensão da bolsa por 89 dias, pois a Fapesp não concede icença maternidade. "Quando minha filha nasceu, faltava menos de um ano para a defesa da tese e não havia mais a possibilidade de prorrogar o prazo. Tentei conciliar a maternidade com a redação da tese, mas foi impossível nos primeiros meses. Consegui esticar ao máximo a suspensão, mas do que isso a bolsa seria cancelada", relata.

SATISFAÇÃO PESSOAL

O caso de Patricia, no entanto, ilustra outro item: a satisfação pessoal e a certeza de que se está no caminho. Ainda na qualificação do seu mestrado, sua pesquisa, que já tinha bolsa da Fapesp, foi indicada para o doutorado direto, resultando na tese Projeto de habitação em favelas: especificidades e parâmetros de qualidade. A tese ficou em primeiro lugar no Prêmio" Iberoamericano de Tesis de Investigación Infonavit-Redalyc e será publicada em livro no México. Patricia, além de atuar em sua própria consultoria, dedica-se agora ao pós-doutorado»

OUTROS CURSOS

Continuar a estudar não implica necessariamente fazer uma pós-graduação. Há muitos cursos, principalmente na área de gestão. "Questões financeiras, tributárias, de marketing e de relacionamento com clientes, fornecedores e contratantes demandam tempo e dedicação. O escritório funciona como uma empresa, não como um ateliê, como muitos imaginam", observa Juliana Corradini, sócia-diretora do escritório Frentes Arquitetura. Para driblar essa dificuldade, a arquiteta se inscreveu e conseguiu uma vaga no projeto "10.000 Mulheres", uma parceria entre a FGV e a escola de gestão espanhola IE Business School, que visa a capacitar mulheres que já possuem seu próprio negócio. "E o momento de colocar em prática o que aprendi na teoria", conta Juliana, que pretende se dedicar mais ao seu lado empresária do que arquiteta.

Como Fazer

¦ Onde procurar: acesse o site da instituição de" seu interesse e procure por links para o setor de pós-graduação ou pró-reitoria de pós-graduação. Verifique se há editais de seleção abertos e quais os critérios de seleção,

¦ Avaliação: para os cursos de mestrado e doutorado, consulte a nota dos programas de pós-graduação no site da Capes, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior do Ministério da Educação

¦ Orce e planeje: querer, sem planejar, não é poder, Por isso o curso deve ser previsto e orçado com antecedência, incluindo gastos com alimentação, transporte e moradia, Se o curso de interesse forno exterior, pesquise qual o custo de vida local, as condições climáticas e se há ou não alojamento na instituição.

¦ Como publicar: no momento da defesa do doutorado, a tese pode ou não ser indicada, pela banca, para publicação. Um caminho procurar editoras que tenham interesse em teses, como a Edusp, Anablumme, Contexto e a Romano Guerra, entre outras. Se a tese foi financiada por uma instituição* de fomento, é mais fácil conseguir apoio também dessa instituição para publicar.

¦ Agências: as principais agências de fomento são a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), além das fundações de amparo a pesquisa de cada Estado do País, caso da Fapesp em São Paulo, a Faperj no Rio de Janeiro ou a Fapemig em Minas Gerais.