Seja por medo da doença, pelo isolamento social ou pelos efeitos diretos do vírus, não é segredo que a pandemia da covid-19 afetou a saúde mental de muitas pessoas.
Para entender melhor a correlação de quadros psiquiátricos com a doença que mudou o mundo, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) investigou justamente quais foram as alterações psiquiátricas e cognitivas para quem foi infectado pelo Sars-CoV-2 e desenvolveu forma moderada ou grave da doença.
Para a pesquisa, 425 pacientes que se recuperaram da doença foram analisados por meio de entrevistas psiquiátricas estruturadas pelos cientistas e realizadas por médicos, respondendo a questionários específicos e padronizados usados comumente no diagnóstico de depressão, ansiedade e estresse pós-traumático.
Além disso, o grupo foi submetido a testes cognitivos com o intuito de medir a atenção, fluência verbal e a orientação espaço-temporal e exames psicométricos (de avaliação psicológica).
As avaliações foram realizadas no Hospital das Clínicas, em São Paulo, durante um período de seis e nove meses após a alta hospitalar.
Publicados no periódico científico General Hospital Psychiatry, os resultados encontrados apontaram uma alta prevalência de déficits cognitivos e transtornos psiquiátricos.
Quais foram os principais achados
Os diagnósticos de depressão, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de estresse pós-traumático foram estabelecidos respectivamente em 8%, 15,5% e 13,6% do grupo.
No ano anterior ao início da pandemia, de acordo com os pesquisadores, a prevalência de depressão e transtorno de ansiedade generalizada foi de 2,56% e 8,14%, respectivamente. O declínio da memória foi relatado subjetivamente por 51,1% dos pacientes.
Vale ressaltar que, no que se diz transtorno de ansiedade generalizada, quadro que inclui sintomas como, fadiga, insônia, dificuldade de memória e concentração, o grupo estudado apresentou um percentual mais alto (32,2%) do que o relatado para toda a população geral brasileira (26,8%) em estudos epidemiológicos.
Os resultados psiquiátricos ou cognitivos não foram associados à magnitude da doença na fase aguda ou fatores psicossociais – incluindo, por exemplo, a classe econômica dos pacientes ou possíveis experiências traumáticas vividas.
Análise do estudo e próximos passos
A apuração pode, então, fortalecer a teoria de que são processos inflamatórios causados pelo vírus e gerados sistemicamente (por todo o corpo) que fazem com que as alterações tardias apareçam.
Há também a hipótese de que o Sars-CoV-2 ataque diretamente o cérebro quando consegue chegar até lá, o que explicaria por que algumas pessoas sofrem de sintomas que outras não vivenciam.
De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que apoiou o estudo, o grupo da Universidade de São Paulo passou, na sequência, a estudar centenas de amostras de sangue coletadas dos voluntários durante o período de internação no hospital.
O próximo objetivo dos cientistas é avaliar o perfil de citocinas, que são proteínas do sistema imune que regulam a resposta inflamatória, para avaliar mais precisamente e descobrir se há correlação entre o grau de inflamação durante a fase aguda da covid-19 e o desenvolvimento de sintomas neuropsiquiátricos.
“Caso exista alguma correlação, o passo seguinte será investigar se drogas inibidoras de interleucinas [um dos tipos de citocina] podem ser usadas para prevenir o aparecimento ou o agravamento de sintomas psiquiátricos“, disse Rodolfo Damiano, médico residente do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM-USP), principal autor do estudo, à Fundação.
Para as pessoas que tiveram a saúde mental afetada após uma infecção por coronavírus, a recomendação dos médicos é procurar ajuda especializada, que pode ajudar a diminuir os sintomas e até reverter o quadro.
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