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Por que hipoglicemia pós-prandial afeta pacientes com bariátrica? Cientistas de Harvard explicam (65 notícias)

Publicado em 15 de setembro de 2024

O estudo, conduzido pelo pesquisador brasileiro Rafael Ferraz-Bannitz, foi publicada no periódico científico Journal of Clinical Investigation. A condição é conhecida, também, como hipoglicemia reativa.

Lívia Ximenes

Em estudo conduzido pelo pesquisador brasileiro Rafael Ferraz-Bannitz , cientistas da Universidade Harvard (Estados Unidos - EUA) explicam porque pacientes que passaram por cirurgia bariátrica são afetados pela hipoglicemia pós-prandial . A complicação afeta cerca de 20% a 30% das pessoas operadas, conforme o levantamento e, em casos severos, pode ser associada a neuroglicopenia (escassez de glicose no cérebro), redução de sensibilidade e prejuízo à segurança . A causa da hipoglicemia pós-prandial está associada à serotonina , conhecida como hormônio da felicidade.

Diferente da hipoglicemia comum, a pós-prandial (também chamada de hipoglicemia reativa ) se caracteriza pela redução dos níveis de glicose (açúcar) no sangue em até cinco horas após a alimentação . Entre os sintomas, está suor frio, mal-estar, sensação de desmaio e dor abdominal. Normalmente, a hipoglicemia reativa é relacionada ao estresse e à ingestão de bebidas alcoólicas

Em casos de pacientes que fizeram cirurgia bariátrica, a hipoglicemia pós-prandial está ligada à desregulação da serotonina. Esse hormônio atua como neurotransmissor, ou seja, é responsável pela passagem se sinais entre neurônios. A serotonina regula níveis cardíacos, sono, apetite, memória, temperatura corporal e humor.

“Identificamos que esse tipo de hipoglicemia está associado à desregulação dos níveis de serotonina no sangue, hormônio que, além de controlar o humor, também é capaz de estimular a secreção dos hormônios insulina [no pâncreas] e GLP-1 [sigla para glucagon-like peptide-1, produzido no intestino delgado em resposta à ingestão de alimentos] no organismo”, disse Rafael à Agência da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP) , órgão responsável pelo apoio da pesquisa juntamente ao National Institutes of Health (NIH), dos EUA.

Rafael explicou que os níveis de serotonina ficam baixos em pessoas com hipoglicemia pós-bariátrica e, quando há ingestão de alimentos, os graus sobem de maneira significativa . “Ao contrário de pacientes sem sintomas ou de pessoas que não fizeram bariátrica, cujos níveis de serotonina diminuem após uma refeição”, falou. A mudança provoca episódios de mal-estar nos pacientes, levando-os a fazer poucas refeições por dia, segundo o pesquisador.

Para o estudo, foram analisados 31 pacientes : 13 com hipoglicemia pós-bariátrica, 10 que fizeram a cirurgia e não tiveram sintomas, e oito que não passaram pela operação e não manifestaram hipoglicemia. A coleta de sangue ocorreu em três etapas , sendo uma em jejum, outra após 30 minutos da ingestão de um shake com proteínas, carboidratos e lipídios e outra duas horas depois do consumo. “A diferença no padrão de serotonina foi o que mais nos chamou a atenção. Indivíduos com hipoglicemia pós-bariátrica apresentavam níveis de serotonina muito diminuídos no jejum. Curiosamente, em resposta à refeição, houve um aumento de cinco vezes nos níveis desse hormônio nesses indivíduos”, afirmou Rafael.

Buscando formas de entender o papel da serotonina nesses casos, o projeto utilizou camundongos. Nos animais, o hormônio foi injetado e observou-se a queda de glicemia (hipoglicecmia) em quadro semelhante aos pacientes. “Ao avaliar o plasma dos camundongos, observamos que a injeção de serotonina aumentava a secreção de insulina e GLP-1, que são os mesmos hormônios aumentados nos indivíduos que desenvolveram hipoglicemia pós-prandial”, declarou.

No tratamento, os cientistas usaram katenserina , uma substância que bloqueia os receptores 2 da serotonina. A tentativa mostrou ser eficaz e foi caracterizada por Rafael como “um resultado promissor, que indica um potencial alvo terapêutico para indivíduos com hipoglicemia pós-bariátrica.” Apesar de entenderem que a queda da serotonina desencadeia a hipoglicemia, os cientistas ainda não conseguem explicar o que provoca a diferença no padrão hormonal.