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Poluição de Manaus influencia aerossóis (17 notícias)

Publicado em 12 de maio de 2019

Por Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

Emissão de resíduos poluentes da capital do Estado impacta em até 400% na formação de aerossóis, na Região Amazônica, afetando a produção de nuvens e de chuvas

Manaus – Estudo internacional com a participação de pesquisadores brasileiros descobriu que a poluição urbana vinda de Manaus aumenta – muito mais do que o esperado – a formação dos aerossóis produzidos pela própria floresta amazônica.

De acordo com o artigo publicado na revista Nature Communications, a poluição urbana resulta em um aumento médio de 200%, com picos de até 400%, na formação dos aerossóis orgânicos secundários. O trabalho teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio da campanha científica Green Ocean Amazon.

O aumento exagerado dos aerossóis produzidos pela floresta tem impacto significativo em fatores importantes para as mudanças climáticas globais, como o balanço radioativo, a produção de nuvens e de chuva, assim como na taxa de fotossíntese das plantas. Em situações em que a poluição urbana não afeta a floresta, os aerossóis orgânicos são produzidos no solo da Amazônia. Porém, como o estudo mostrou, em quantidades muito inferiores.

Estudos semelhantes realizados em florestas boreais – que são a base da modelagem climática global – apresentavam aumento de no máximo 60% dos aerossóis orgânicos secundários em florestas impactadas pela poluição de cidades próximas.

“Pela primeira vez, conseguimos entender e prever com modelos as concentrações de aerossóis na Amazônia. Já era sabido que os modelos climáticos do hemisfério Norte não se aplicam aos casos da floresta amazônica. Víamos que a conta, baseada nos estudos anteriores, não fechava. Portanto, os resultados dessa nova pesquisa vão trazer maior acuidade aos modelos meteorológicos, assim como à modelagem climática regional e global”, disse Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e um dos autores do artigo.

De acordo com Artaxo, o próximo passo é englobar a química dos aerossóis tropicais nos modelos climáticos globais, como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), por exemplo, conseguindo assim prever melhor os ciclos hidrológicos da Amazônia e identificar alterações nos padrões de chuva de toda a região tropical do planeta.

Aerossóis são partículas (sólidas, líquidas ou gasosas) suspensas no ar. Podem ser produzidos naturalmente pela floresta, como partículas primárias, ou secundariamente na atmosfera a partir de precursores gasosos (COV) emitidos pelas florestas (aerossóis orgânicos secundários), por exemplo, ou por atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis.

O aumento de até 400% dos aerossóis orgânicos secundários em virtude da poluição de Manaus tem um impacto muito significativo no ecossistema. Essas partículas são importantes para a transmissão de radiação solar na atmosfera, para a formação e o desenvolvimento de nuvens, produzindo chuva, entre outros efeitos.

Os pesquisadores conseguiram observar e medir os compostos que vêm da pluma de poluição manauara, como ozônio (O3), óxidos de nitrogênio (NOx), dióxido de enxofre (SO2) e radicais hidroxila (OH).

Interferência mínima tem grande efeito na atmosfera da Amazônia

No estudo, a equipe internacional de pesquisadores analisou as consequências dessas mudanças tanto do ponto de vista experimental e observacional, quanto utilizando modelagem numérica dos processos atmosféricos. A equipe também simulou matematicamente a formação dessa grande quantidade de aerossóis, identificando os processos associados à sua origem e os mecanismos químicos que faltavam nos modelos usados até então.

“A Amazônia é uma região extremamente limpa de poluição. Um minúsculo aumento de compostos nitrogenados, por exemplo, provoca um aumento brutal de aerossóis na floresta. A perturbação causada pela emissão antropogênica é muito violenta e tem impactos em todo o clima da região, no sistema hidrológico, assim como no clima global”, disse Henrique Barbosa, professor do IF-USP e também autor do artigo.

Essa alteração tem forte impacto sobretudo na formação das nuvens na Amazônia. “Observamos como, por causa da quantidade de aerossóis ultrafinos nas nuvens, muda a velocidade do ar ascendente. Isso deixa as nuvens mais vigorosas e com mais água precipitável”, disse Barbosa. A quantidade de aerossóis também influencia fortemente a fotossíntese da floresta.