O físico José Goldemberg, 87 anos, chefe da pasta ambiental do governo brasileiro quando o País sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, é taxativo ao avaliar o avanço da ciência e da inovação desde aquele marco histórico, quando, pela primeira vez, os países negociaram caminhos para controlar as mudanças climáticas: "O conhecimento sobre o problema evoluiu, temos domínio de tecnologias e os países em desenvolvimento, como o Brasil, não precisam de ajuda financeira, mas de políticas de governo que conduzam para práticas sustentáveis".
Em sua análise, no nível internacional, o campo que mais tem concentrado esforços de tecnologia na questão ambiental é o da geração e uso de energia - "e não podemos ficar tão atrás". Hoje os investimentos globais em fontes renováveis, cerca de US$ 300 bilhões ao ano, superam os valores aplicados em combustíveis fósseis, segundo Goldemberg.
"O Brasil já provou que é possível mexer nessa matriz, quando aprendeu a produzir etanol da cana, cuja produtividade cresceu em média 3% ao ano durante três décadas", afirma o físico, que em setembro assumiu a presidência da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A instituição investiu R$ 1,15 bilhão em fomento à pesquisa em2014, apartir do repasse de 1% da receita tributária estadual, conforme determina a Constituição do Estado de São Paulo.
Como a atual retração da economia poderá reduzir o montante a ser destinado pela Fapesp às pesquisas, entre as quais muitas que resultam em inovações verdes, uma estratégia será intensificar parcerias com empresas. "O dólar alto tende a encorajar o setor privado nacional a desenvolver tecnologias e produtos inovadores para competir lá fora", estima Goldemberg. Para ele, a crise econômica pode ser oportunidade para o desenvolvimento de uma cultura mais inovadora.
Na última década, o processo foi inverso: segundo o físico, o real valorizado desestimulou melhores índices de inovação, porque em alguns casos ficou mais fácil e barato comprar soluções no exterior pagando royalties.
Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação mostram que o País investe 1,25% do PIB em pesquisa e inovação, sendo que a maior parte dos recursos (55%) são públicos, situação inversa à dos países desenvolvidos, em que a participação das empresas é maior. O quadro reforça o perfil do País como exportador de produtos primários, como commodities agrícolas e minerais, e importador de bens acabados de maior valor agregado.
O Brasil ocupa o 70ª lugar no ranking The Global Innovation Index 2015, avaliação mundial elaborada pelo The Business School for the World com base em 79 indicadores, abrangendo 141 economias. Em relação a 2014, o País caiu dez posições. Suíça, Reino Unido, Suécia, Holanda e EUA são os mais inovadores, respectivamente, mas quando se considera apenas a categoria "qualidade de inovação" (nível das universidades, internacionalização das invenções e patentes, por exemplo), os primeiros são os americanos.
De acordo com o levantamento, três quartos dos maiores investimentos se destinam às nações desenvolvidas.
"Queremos mudar esse rumo e alimentar o desenvolvimento de atividades que resultem em mais empregos e melhor produtividade, mas para isso temos que ser bons e ter boas instituições de pesquisa", enfatiza Goldemberg.
"A China já é o principal fornecedor das células fotovoltaicas de alta eficiência e de equipamentos de geração renovável instalados no Brasil, ocupa espaços cada vez maiores globalmente no setor." Entre 2002 e 2012, o PIB chinês mais que quadruplicou e atingiu US$ 8,7 trilhões, em decorrência principalmente da política de inovação. O investimento em P&D aumentou de 1% para 2% do PIB.
Segundo analistas, a urgência climática deve pautar investimentos globais em novos processos e produtos na lógica da economia de baixo carbono. "Precisamos melhorar os laços com a indústria, ainda não suficientemente motivada na aproximação com a academia para a busca de soluções."
(Fonte: Valor Econômico – 13/10/2015)